Joel Rocha/SMCS (arquivo)

Apesar de todo o esforço da classe farmacêutica no Paraná, o crescimento dos grupos contrários à vacinação gera preocupação. Por isso, no Dia Internacional do Farmacêutico, o Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR) realiza, no dia 25 de setembro, na Boca Maldita, uma campanha de orientação à população sobre diversos temas, incluindo a imunização. A ação vai das 9 às 14 horas.

O farmacêutico é o profissional da saúde que está inserido em todo o processo da imunização. Os farmacêuticos, Karina Lorena Meira Fernandes, Felipe Oliveira e Matheus Chiuratto, membros da Célula Farmacêutica de Imunização do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná e proprietários de uma clínica de vacinação na região metropolitana de Curitiba, vivem o dia a dia e constatam a importância da atuação do farmacêutico. “O papel envolve pesquisa, transporte, armazenamento, qualificação de fornecedores, calibração de equipamentos (câmara fria e termômetros), aplicação, descarte de resíduos e acompanhamento pós-vacinal dos possíveis eventos adversos”, afirmaram.

O Gerente Técnico-Científico do CRF-PR, Jackson Rapkiewicz, explica que o farmacêutico tem uma participação fundamental, pois deve estar preparado para ouvir as dúvidas e medos dos pacientes e esclarecer sobre os benefícios e riscos das vacinas com informações fundamentadas. “As vacinas não protegem apenas o indivíduo que as recebeu, mas a população como um todo. Como grande parte das doenças preveníveis com vacinas são transmitidas de uma pessoa para outra, um indivíduo infectado pode transmiti-la para outros que não estejam imunes. Já quem recebeu a vacina e adquiriu imunidade não irá transmitir a doença. Portanto, quanto mais pessoas estiverem vacinadas, menor a chance de as doenças se espalharem”, conclui.

Porém, hoje, com o crescimento de grupos contrários à vacinação, impulsionado por notícias falsas nas redes sociais, presenciamos surtos de doenças já erradicadas. Para quem cresceu orgulhoso de colecionar carimbos na carteirinha de vacinação, parece absurdo imaginar um mundo sem vacinas. Hoje, principalmente nas redes sociais, grupos crescem expressivamente com mensagens opostas ao habitual. “O lado obscuro das vacinas” é uma expressão comumente utilizada para chamar atenção dos usuários das mídias. É quase um convite para a curiosidade do leitor mergulhar em um universo de dicas, alertas e mensagens motivacionais, baseadas com fidelidade nas milhares de fake news disponíveis digitalmente.

Os grupos antivacinistas não são novidade. Já são conhecidos desde a chamada Revolta da Vacina, do início do século 20, quando o governo instituiu a imunização obrigatória como medida de combate à varíola. Ganharam notoriedade nos últimos meses, principalmente com o retorno de doenças que pareciam ter ficado no passado. Na Europa, o movimento antivacina é considerado responsável pelos surtos recentes de sarampo, que já chegaram ao alarmante número de sete mil pessoas infectadas.

Alerta

“É necessário que as autoridades sanitárias e as organizações profissionais reajam ao crescimento dos grupos antivacinas. Deve-se apostar o máximo possível na divulgação de informações corretas a respeito das vacinas, seus resultados benéficos, possíveis efeitos adversos e segurança, de maneira clara e de fácil compreensão”, completaram os farmacêuticos integrantes da Célula Farmacêutica do CRF-PR.

Apesar de mais tímidos, os grupos contrários à vacinação também existem no Brasil. Eles questionam o excesso de vacinas, desconfiam dos possíveis eventos adversos e alertam sobre a pressão imposta pela indústria farmacêutica. Os adeptos ao movimento crescem a cada dia, englobando pessoas que decidem não vacinar os filhos ou a si próprio. Embora o Brasil tenha um dos mais reconhecidos programas públicos de imunização do mundo, com as principais vacinas disponíveis gratuitamente, a divulgação massiva de informações sem cunho científico gera debates desnecessários e questionamentos à população. Assim, com a enxurrada de notícias falsas, aliada à desinformação, vemos o crescente surto de doenças já erradicadas.

Os primeiros sinais de queda nas coberturas vacinais no Brasil começaram a aparecer ainda em 2016. De lá para cá, doenças já extintas voltaram a ser motivo de preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde. Amazonas, Roraima, Rio Grande do Sul, Rondônia e Rio de Janeiro são alguns dos estados que já confirmaram casos de sarampo este ano. Os fatos causam estranheza já que em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de eliminação da circulação do vírus.

Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que a aplicação de todas as vacinas do calendário adulto está abaixo da meta no Brasil – incluindo a dose que protege contra o sarampo. Apesar de erradicada no país desde 1990, a doença ainda é endêmica em três países – Nigéria, Afeganistão e Paquistão. Entre 1º de janeiro e 17 de julho deste ano, foram registrados 677 casos de sarampo no Brasil.

O farmacêutico, além de habilitado para atuar na imunização, deve estar preparado para defender a importância da imunização. O MS já observa queda significativa no índice de cobertura de algumas vacinas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2017, a taxa de cobertura da segunda dose da vacina tríplice, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, atingiu apenas 86,2% do público-alvo esperado no Paraná. No Brasil, pelo menos 312 cidades estão sob alerta por conta da volta do vírus causador da poliomielite, também conhecida como paralisia infantil.

Importância

A vacina serve para defender o organismo dos vírus e bactérias que provocam doenças. Quando a pessoa é vacinada, seu corpo detecta o antígeno e produz uma defesa, os anticorpos, que permanecem no organismo e evitam que a doença ocorra no futuro, o que chamamos de imunidade. A imunização é considerada uma das medidas de saúde pública mais bem sucedida de todos os tempos, responsável pela redução da mortalidade e morbidade infantil e adulta, além do aumento da expectativa de vida e crescimento populacional.

Hoje, o Brasil conta com técnicas modernas para produzir vacinas em diversos laboratórios, atendendo todo o processo de qualidade de produção exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As vacinas podem ser produzidas a partir de organismos enfraquecidos, mortos ou alguns derivados, podendo ser aplicadas por meio de injeção ou por via oral. O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, criado em 1973, disponibiliza mais de 300 milhões de doses de vacinas por ano para os estados e municípios visando à imunização de crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Como as vacinas são registradas na Anvisa como medicamentos, passam por um rigoroso trâmite de registro em que são analisados dados de segurança e eficácia. Assim, como os demais medicamentos, nenhuma vacina está totalmente livre de provocar eventos adversos. Porém, os riscos de complicações graves são muito menores que os das doenças contra as quais elas protegem. Autoridades brasileiras e internacionais têm realizado um esforço para investigar e elucidar os casos atribuídos às vacinas para esclarecer a sociedade e manter a credibilidade dos programas de imunização.

Segundo a Presidente do CRF-PR, Mirian Ramos Fiorentin, o grande foco desta questão é a união para espalhar as informações corretas sobre as vacinas. “Nós, como farmacêuticos, além de habilitados para atuarmos na imunização, devemos estar preparados para defender a importância da vacinação. Precisamos espalhar a informação de que as vacinas são seguras, embasada em inúmeros estudos científicos publicados ao longo dos anos”, afirmou. “Vacinar é um ato de amor, protegendo o seu filho você protege os outros. Precisamos pensar no bem comum”, concluiu.