Franklin de Freitas – “Otu00e1vio Mariano: u201cArte comunidade u00e9 algo fantu00e1sticou201d”

Cinema, dizia Glauber Rocha, um dos maiores cineastas brasileiros, se faz com uma “câmera na mão e uma ideia na cabeça”. E em Curitiba estreia no próximo dia 26, no Cine Guarani, uma obra que parece ter absorvido em grande medida a ideia do artista baiano, que defendia a utilização dos meios de produção artística a serviço da transformação social.
Com aproximadamente uma hora de duração, “Minha mãe é assim mesmo” foi dirigido pelo policial militar aposentado Otávio Mariano. A história se passa nas ruas de Curitiba e retrata uma mãe catadora de papel que, após ficar viúva, enfrenta o preconceito e humilhações diversas em nome de seus dois filhos, Luan e Alan, que sonham em trabalhar como ator e jogador do Atlético-PR, respectivamente.
Filmado com uma câmera Panasonic caseira, o filme teve um custo total de aproximadamente R$ 2,5 mil, valor bancado pelo próprio cineasta e escritor curitibano (já lançou cinco livros). Os atores que participam da obra o fizeram de maneira gratuita e foram todos selecionados no bairro em que Mariano mora, o Sítio Cercado.
“Os atores não cobravam nada. A gente se reunia e fazia uma ‘pizzada’, coisa assim. Era o pessoal da comunidade mesmo que participou, gente que eu percebi que tinha desenvoltura para atuar e aí fui chamando”, conta o diretor do filme, que classifica a arte comunidade como algo fantástico. Prova disso é que dois dos atores que participam das filmagens seguiram carreira no mundo artístico, trabalhando atualmente como modelos.
“O pessoal da comunidade gosta de fazer arte, mas não tem oportunidade. Se com R$ 2,5 mil fiz um filme assim, para que R$ 1 milhão para um filme que ninguém vê?“
Embora as filmagens tenham sido feitas em 2010, num período de cinco meses, logo após Mariano concluir um curso de cinema ofertado pela Cinemateca, apenas agora a obra entrará no circuito oficial de cinema, fazendo sua estreia perante o grande público.
“Existe muito preconceito contra quem não tem ainda um nome. Há muita dificuldade, muita humilhação as vezes. Tive de receber muito não até conseguir”, conta Mariano, que cita o ator e cineasta Amácio Mazzaropi como sua principal referência. “Fazia filmes de muita qualidade. E se ele fazia filmes bons naquele tempo, também posso fazer”, afirma.

‘Poucas e boas’ para que a obra saísse do papel
Para que o roteiro escrito pelo próprio Otávio Mariano saísse do papel e ganhasse as telonas, contudo, foi preciso que a equipe de filmagem passasse por poucas e boas.
Algo frequente, conta o diretor do filme, era a necessidade de filmar uma mesma cena repetidas vezes. “O segredo do cinema é o som. E tivemos problema com isso, porque não tinha microfone de lapela. Então as vezes tinha de filmar várias vezes a mesma cena até dar certo, até o áudio ficar bom.
Em outra ocasião, havia combinado com um homem para filmar algumas cenas em sua casa, uma casa grande. “O senhor dono da casa havia deixado, mas no dia que filmaríamos estavam lá os filhos deles. Eles saíram de casa com espingardas chamando a gente e cambada. É muito preconceito em relação à cultura”, lamenta.

estreia
Quando: Dia 26 de julho, às 19 horas
Local: Cine Guarani (Av. Rep. Argentina, 3430 – Portão)
Entrada gratuita
Elenco: Inez Muchinski, Maicon Martins, Anderson Boscardin, Pablo, Rhayanne Sampaio, Bernardo Bertoldi, Roberto Alvez, Jivan Berlanda, Mari Berlanda, Janete Berlanda e Paulo Simon. Direção geral: Otávio Mariano
Sinopse: A história se passa nas ruas de Curitiba, contando a história de uma mãe viúva que trabalha como recicladora. Ela tem de enfrentar o preconceito da sociedade e até a vergonha dos próprios filhos para poder ajudá-los a realizar seus sonhos.