Franklin de Freitas – Secretaria de Estado da Justiça

Com o agravamento da crise sanitária e os reflexos econômicos e sociais da pandemia do novo coronavírus, o Brasil voltou a fazer parte do mapa da fome. Segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, lançado nesta semana, mais da metade (55,2%) dos brasileiros conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020, sendo que 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave. Ou seja, 19 milhões de brasileiros passaram fome, com o país regressando ao nível observado em 2004, quase um ano após o lançamento do programa Fome Zero.

No Paraná, os dados mais recentes do IBGE mostram que, em 2018, 22,48% da população vivia com algum nível de insegurança alimentar, sendo 17,63% com insegurança alimentar leve, 2,67% com insegurança moderada e 2,17% com insegurança grave.

Desde então, porém, a fome avançou de forma assustadora na região sul e sudeste do país. Há três anos, por exemplo, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) apontava que 71,57% dos sudestinos e sulistas tinham segurança alimentar, ou seja, acesso adequado à alimentação. Dois anos depois, no final de 2020 esse porcentual já estava em 53,11%, segundo o estudo divulgado recentemente pela Rede PENSSAN.

Se antes o porcentual de moradores com insegurança alimentar leve, moderada e grave ficava em 20,64%, 5,09% e 2,71% nessas regiões, respectivamente, hoje esses porcentuais chegam a 32,25%, 8,61% e 6,03%.

Por extrapolação, então, o Paraná teria um cenário no qual a insegurança alimentar afetaria 36,92% da população, sendo que 27,56% convivem com uma situação considerada leve, 4,52% com uma insegurança moderada e 4,84% com uma situação grave. Na prática, é como se 4,26 milhões de pessoas no estado convivessem com algum nível de insegurança alimentar, com mais de 500 mil pessoas passando fome, efetivamente.

O estudo conduzido pela Rede Penssan realizou a coleta de dados entre os dias 5 e 24 de dezembro, em amostra representativa de 2.180 domicílios das cinco regiões brasileiras, em áreas rurais e urbanas.

A pesquisa, portanto, foi realizada justamente no período em que o Auxílio Emergencial, concedido a 68 milhões de brasileiros, tinha sido reduzido pela metade (de R$ 600 mensais para R$ 300 mensais). Em 2021, de janeiro a março, a população que vinha sendo atendida pelo auxílio ficou sem o amparo. Nesta semana uma nova rodada começou a ser paga, mas para um público mais restrito e em valores ainda menosres: variam de R$ 375 (para famílias chefiadas por mulheres) a R$ 150 (para quem mora sozinho).

Ajuda

Campanha de arrecadação

Para ajudar os paranaenses neste momento de crise, a Secretaria da Justiça, Família e Trabalho está realizando uma campanha para arrecadar alimentos, material de limpeza e higiene pessoal. A iniciativa busca conseguir pelo menos 6 toneladas de alimento para socorrer mais de 3 mil pessoas e quem ainda quiser e puder ajudar pode enviar um e-mail para o endereço [email protected].

“Quem está colaborando aqui faz com que pessoas que estão nesse momento em uma situação de desespero recebam socorro”, diz o secretário Ney Leprevost, um dos idealizadores da iniciativa. “O ensinar a nadar é dar curso profissionalizante e isso nós também fazemos, mas esse é o momento de jogar a boia para socorrer às pessoas e isso aqui é a boia”, complementa.

Além disso, entidades como a CUFA (Central Única das Favelas), Gerando Falcões e Frente Nacional Antirracista também lançaram o movimento Panela Cheia (www.panelacheia.com.br), que pretende arrecadar recursos para a compra de 2 milhões de cestas básicas para distribuição em todo o país.