Existe hoje, mais do que nunca, uma tendência irreversível e crescente: a globalização dos mercados, que decorre da internacionalização da economia. Nosso país procura ampliar e consolidar presença neste cenário, mas enfrenta dificuldades específicas na instrução de seus jovens para enfrentar o desafio.

Formação é todo um mundo que abrange desde a preparação inicial, até a contínua e especializada, nas quais diferentes modelos, teorias, legislações e regulamentações interagem, e temos pouca experiência de interface entre escolas e mundo do trabalho, suas técnicas reais e inovadoras. O núcleo familiar básico é também fator de suma importância, não afetando somente as formas de inter-relacionamento na vida pessoal e profissional, mas porque muito da cultura e da curiosidade sobre o mundo virá daí, assim como a relevância do conhecimento na vida de cada um, vindo ele das escolas, ou de leituras, troca de experiências e auto aperfeiçoamento.

Outro fator a ser considerado é que preparo profissional é um campo de luta doutrinária e ideológica, com diferentes grupos intervenientes, cada um com posições a defender, algumas vezes com imensa agressividade; e também por este domínio constituir um daqueles em que muitos se sentem à vontade para emitir opiniões, nem sempre com conhecimento de causa.

A carreira diplomática tem sido um ótimo exemplo. Grandes personalidades brasileiras passaram pelo Itamaraty, foram bons diplomatas e, ao mesmo tempo, tiveram participação expressiva em outros campos, como os poetas Vinicius de Moraes e João Cabral de Melo Neto, o filólogo Antônio Houaiss, o romancista Guimarães Rosa, o escritor e intelectual José Guilherme Merquior, Rubens Ricupero, e tantos outros.

Com certeza não seriam tão representativos da melhor diplomacia sem perícia que permitisse, ao lado de um perfeito domínio de idiomas, a compreensão da política externa e um excelente domínio da cultura pátria. Subestimar as responsabilidades do diplomata brasileiro, assim como as complexidades técnicas e a multiplicidade das instâncias do treinamento propiciado pelo Itamaraty é desdenhar a questão educacional como instância de melhora do desempenho.

Equacionar um sistema de formação profissional que aproxime a qualificação dos trabalhadores do processo educativo, considerando os baixos índices de escolaridade, o preparo inadequado, a ineficiência e o desperdício macroeconômico de investimentos, é urgente. Certamente o desprezo pelo correto sistema educativo não nos levará muito longe, historicamente a sociedade brasileira não tem valorizado a escolaridade como fator determinante de superação do subdesenvolvimento, e onde chegamos desta forma não pode ser considerado exatamente um sucesso.

Embora nem sempre o desenvolvimento profissional – que ocorre em uma multiplicidade de maneiras – e a formação ocorram simultaneamente, pois na formação temos um movimento essencialmente externo (cursos, seminários, palestras) enquanto o desenvolvimento ocorre no movimento contrário, ou seja, de dentro para fora, envolvendo inclusive as reflexões, os projetos, a convivência, ambos são importantes. Formação é compartimentada, desenvolvimento pessoal é a soma de todos estes compartimentos nos aspectos cognitivos e de relacionamentos.

É possível, sim, ter sucesso em várias carreiras sem o chamado “preparo”, mas isso decorre de fatores imprevisíveis, ainda vivemos em um país onde muitos donos de grandes empresas designam seus filhos a cargos para os quais não são competentes ou interessados; algo semelhante ocorre no setor estatal, com as nefandas indicações políticas. O malogro dessas empresas ou estatais comprova o erro desta pratica. O desenvolvimento profissional é, portanto, a mistura entre a educação formal e a informal. Nem todos, infelizmente, têm acesso aos recursos para atingir a plenitude da evolução necessária; mas o lamentável é assistir àqueles que até teriam esses recursos agirem como tolos fazendo um absurdo elogio da ignorância.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.