Prever o futuro é algo arriscado e tão incerto quanto o próprio futuro. Em meados dos anos 1950 as revistas de variedades tinham como marco futurístico o “ano 2000”, quando se supunha que os carros voariam em cidades semelhantes às do planeta Mongo, de Flash Gordon, e que viagens interplanetárias seriam corriqueiras. Sabemos que não é assim, embora exista a tecnologia para carros voadores, viagens à Lua tenham ocorrido e sondas chegado a Marte e outros planetas, isto não é parte da vida do cidadão comum a não ser como espectador.
Até o transporte aéreo supersônico de passageiros, com o Concorde, não se mostrou viável economicamente; excesso de consumo de combustível e pequena capacidade de passageiros tornaram as tarifas absurdamente caras, não cobrindo sequer custos operacionais, além de problemas no meio ambiente e restrições aeroportuárias.  O que ninguém previu naquela época foi o uso disseminado de computadores pessoais, a IBM, que desenvolveu o primeiro computador comercial por volta de 1940, acreditava que o mercado mundial compraria no máximo cinco ou seis unidades de suas máquinas enormes e pesadas, com capacidade de processamento inferior à de qualquer PC atual. E, mesmo os mais “antenados” usuários de telefones celulares e Internet do começo do milênio (poucos anos atrás), não ousariam sonhar com os recursos disponíveis atualmente em Smartphones.
A televisão, e seus derivativos que produzem e fornecem conteúdo praticamente sob demanda como a Netflix, são parte da vida de grande parte da humanidade. No entanto, um dos jornais mais respeitados do mundo, The New York Times, publicou em abril de 1939: “A televisão não dará certo. As pessoas terão de ficar paradas diante de sua tela, e a família americana média não terá tempo para isso”. O que constatamos é que nunca o que foi previsto se realiza exatamente como suposto ou esperado, há sempre um fator humano, desastre natural, nova tecnologia ou material, até a mera mudança no gosto do público, que interferem, mudando pouco ou muito, o rumo dos acontecimentos, e não necessariamente para pior. Apesar disto, continuamos a exercer a ciência e a arte da previsão, por vezes motivados por necessidades práticas como nas avaliações meteorológicas e hidrológicas indispensáveis para o projeto e execução de muitas obras, ou em pesquisas mercadológicas destinadas a “sentir o pulso” de consumidores. Caso especial é o das previsões políticas, geralmente embasadas em ótimas ou péssimas metodologias de coleta de dados e subsequentes análises estatísticas de maior ou menor rigor científico, tudo conforme a seriedade do pesquisador, e, algumas vezes, intenção do contratante.   
Pela necessidade concreta de uma certa previsão indispensável para decisões econômicas ou políticas, vários ramos da ciência dedicam-se a esta atividade, pois obras devem ser pensadas para o mais adiante que a época atual. Antecipar uma temporada de imensas secas ou enchentes avassaladoras seria produtivo para orientar investimentos sociais, permitindo-nos não estar à mercê de dirigentes inexperientes (ou até mal-intencionados) que protestam “fatalidades” em situações onde houve apenas imprevidência, incúria ou malversação do erário público, que deixa pessoas desabrigadas. Sabemos que cabe ao ser humano ser o agente das mudanças que podem construir ou somente modificar um futuro indesejado, já que este não é predeterminado, em nenhum lugar temos escrito que o futuro deverá ser desta ou daquela maneira. Um bom sistema educacional, preparando para atuar comunitariamente de forma correta, aumentando a compreensão ambiental e a possibilidade de hábitos e valores que predisponham à maior qualidade de vida, fornecendo um bom letramento, permitindo acesso ao que de melhor foi produzido no passado, certamente nos levará ao melhor dentre todos os futuros possíveis.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.