Além de resgatar a autoestima dos moradores, que se identificam com os grafites em muros, casas e vielas, uma iniciativa de arte a céu aberto promove o engajamento e deixa a comunidade mais viva e colorida, na Vila Flávia, distrito de São Mateus, zona leste de São Paulo.

As intervenções são parte do projeto Favela Galeria. Entre os painéis mais recentes estão grafites em três muros de casas do bairro, que contaram com o trabalho de três artistas. Eles exploraram técnicas abstratas, geométricas e realistas. Em um dos muros, o retrato de um olhar bem expressivo é marcado pelas tonalidades azul, verde, vermelho e amarelo.

“Com a pandemia, nosso trabalho artístico ficou parado. Mas estamos retomando. O impacto da arte dentro da comunidade é muito forte”, disse o rapper Ezequias Jeiel Cardoso, de 34 anos, popularmente conhecido como Catata Crazzy , sobre os trabalhos dos artistas Marcelo Ruggi Tché, Alexandre Lobot e Randal Bone. De Santa Catarina, Catata chegou em São Paulo há 12 anos. Há três, mora em São Mateus e está envolvido com o projeto do bairro.

Segundo ele, a galeria a céu aberto é fruto do empenho de artistas que doam não só a sua arte, mas também os materiais. “Promovemos eventos esporádicos. Já conseguimos apoio para determinados painéis. Alguns moradores, que podem, fazem doações. Mas o que mantém o trabalho é a doação de artistas”, disse Catata. Ele afirma que o intuito é divulgar a importância do trabalho. “Mostrar que vai além do grafite na rua, pois mexemos de forma positiva com a autoestima dos moradores”, afirmou.

A história da galeria a céu aberto está relacionada com a atuação do Grupo Opni, que na década de 90 já levava a arte urbana e cultura para a comunidade da zona leste. Em 2007, foi criado o projeto São Mateus em Movimento, com foco em aulas de capoeira, dança e grafites. Chamado, inicialmente, de Favela Grafitada, em 2009 o projeto mudou de nome para Favela Galeria. Além da galeria de arte a céu aberto – que reúne 3 km de grafites – há ainda o espaço de cultura onde ocorrem atividades educativas, eventos e exposições.

A inspiração do projeto também surgiu a partir dos conhecidos grafites do Beco do Batman, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. “A gente se espelhou na Vila Madalena, onde há muitos muros com grafites. Daria para fazer na ‘nossa quebrada’ algo semelhante. E começamos a grafitar e fazer a galeria crescer.

Hoje é muito impactante dentro da nossa comunidade. Nós que nascemos aqui, sentimos a emoção dos moradores, que pedem para a gente grafitar suas casas e muros”, disse Fernando Rodrigo de Carvalho, fundador e presidente do São Mateus em Movimento. Conhecido como MC Negotinho, ele tem 42 anos, 30 dedicados a ações culturais na região. “Nosso objetivo foi mudar o clima do bairro. E é curioso, quando a gente termina alguma obra, as pessoas começam a se identificar”, disse Negotinho.

De Embu das Artes, Grande São Paulo, a artista Stefany Lima, de 25 anos, conhecida como Fany Lima, tornou-se gestora da Favela Galeria. “Fui pintar em São Mateus por meio da galeria a céu aberto. Fui me aproximando e comecei a participar de mais ações dentro da comunidade.”

Em razão da pandemia, ela conta que nos últimos dois anos as atividades artísticas deram lugar a trabalhos sociais com doações de cestas básicas e orientações preventivas sobre o novo coronavírus. Em janeiro, as ações sociais continuaram, ao mesmo tempo em que começaram a ser retomados os projetos culturais, incluindo a arte urbana.

O Tour Favela Galeria, que já existe há 15 anos, também foi reaberta no início do ano. “Recebemos pessoas do mundo inteiro e também muitas visitas organizadas por escolas. Todo valor arrecadado é destinado para nossos projetos e ações na comunidade”, disse Catata.

COMO PARTICIPAR

Assim como os moradores de São Mateus, os de outras regiões que estejam interessados nos grafites a céu aberto podem entrar em contato com os idealizadores do projeto. A iniciativa que dá vida ao bairro também pode ser expandida para outras localidades.

Já o Tour Favela Galeria, que dura em média 1 hora e é feito com acompanhamento de monitores. é realizado seguindo todos os protocolos sanitários. Para mais informações sobre valores, entre em contato pelo telefone (11) 96948-5129.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.