SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em entrevista promovida pelo banco BTG Pactual, nesta quinta (9) em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad disse que considera difícil que a Justiça permita a candidatura de Lula à Presidência, mas que o PT não desistirá de lançá-lo para a disputa.

"Não vamos jogar a toalha", afirmou. Vice na chapa do PT encabeçada por Lula, Haddad representou o ex-presidente no evento. Lula está preso em Curitiba, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Haddad afirmou que a Lei da Ficha Limpa oferece ainda um recurso para que os candidatos tentem garantir na Justiça o direito de concorrer. Condenado por um tribunal de segunda instância, Lula está, em tese, inelegível pela norma, sancionada por ele mesmo em 2010.

A conversa foi conduzida pelo jornalista e colunista da Folha de S.Paulo Reinaldo Azevedo, que reiterou sua opinião de que Lula foi condenado sem provas.

Para o ex-prefeito, uma vitória de Lula seria uma forma de reparação para o que ele julga uma prisão injusta.

Haddad afirmou que Lula é uma liderança já testada, o nome mais credenciado para conduzir a economia e avanços sociais no país.

Ele afirmou que um governo do PT adotaria uma política fiscal robusta, o que teria sido a marca do governo Lula.

Na avaliação de Haddad, o presidente eleito não sairá forte das urnas, o que demandará a construção de uma agenda de Estado, inclusive trabalhando com a oposição.

"Fazendo essa agenda bem feita, o investimento voltará."

Segundo ele, o PT também estaria disposto a apoiar medidas de que o Brasil precisa propostas por outro candidato, seja de que partido for.

Haddad afirmou ainda que o PSDB fez um péssimo negócio ao apoiar o impeachment e se aliar ao MDB. "Não fez o que uma pessoa honrada deveria fazer, defender a honra de seus adversários."

Como exemplo do que avalia ser uma atitude honrada, disse que nunca ouviu um empresário citar uma conduta inadequada de Geraldo Alckmin, presidenciável pelo PSDB.

Sobre a participação em debates, disse: "A decisão da Executiva do PT é que vamos lutar para que Lula participe dos debates com candidatos a presidente. Eu participarei dos debates com candidatos a vice."

Haddad disse também que, caso convidado por alguma emissora para substituir Lula, submeterá ao ex-presidente a decisão.

O ex-prefeito também rebateu crítica de Ciro Gomes feita na quarta (8), também no encontro do BTG Pactual, ao PT.

Ciro disse que o povo "está sendo enganado flagrantemente" pelo anúncio da chapa de Lula com Fernando Haddad como vice -e a participação de Manuela D'Ávila.

"Isso é um convite à nação vir dançar na beira do abismo", disse. "Há uma imensa gratidão, justa, merecida, de uma fração importante do povo brasileiro com o Lula, mas isso aí é suficiente para você deixar todas as regras de lado e colocar uma dinâmica em que hoje é vice mas não é vice, vai ser vice, depois que vai ser vice não vai ser mais vice?", afirmou Ciro.

Haddad respondeu que desrespeito ao eleitor seria abrir mão do Lula. "Desde o começo dissemos que não abriríamos mão do Lula, que iríamos até o último recurso."

O PT está às voltas com um dilema em relação à exposição de Haddad. Há um grupo favorável a que ele ocupe os espaços possíveis na mídia. Mas há outro grupo de dirigentes frontalmente contrário a essa estratégia.

Por eles, Haddad deve se recolher o máximo possível, evitando aparecer muito para não naturalizar a ideia, já corrente, de que Lula não poderá ser candidato e de que ele será o plano B do partido na corrida presidencial.

Esse mesmo grupo pretende evitar que Haddad até mesmo apareça no programa eleitoral do partido, a partir do dia 31 de agosto.

Quer ainda limitar uma eventual agenda de viagens com Manuela D'Ávila, que ocupará a vice caso Lula não consiga se candidatar –e também caso o ex-prefeito venha a substituí-lo na cabeça da chapa.