RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pressionado por reajustes promovidos pela Petrobras nas últimas semanas, o preço da gasolina já supera os R$ 5 em postos da cidade de São Paulo. Desde a última quarta (5), a estatal decidiu segurar os preços em suas refinarias.

Nesta terça (11), ao percorrer postos na capital paulista, a reportagem encontrou estabelecimentos vendendo gasolina por até R$ 5,90 por litro. Os valores indicam alta em relação à semana passada, quando a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) detectou o preço máximo de R$ 4,99.

"É um absurdo esse preço. Trabalho com obras e dependo do carro", reclamou Antonio Evandro Alves da Silva, 47, que pagou R$ 4,99 para abastecer o carro nesta terça em um posto da rua da Consolação, região central de São Paulo. Ele afirma que gastava, até a semana passada, cerca de R$ 100 por semana apenas com combustível.

O aumento vai pesar no orçamento, já que não consegue trocar o carro por transporte público. "Não dá para repassar o custo. Vou ficar com o prejuízo."

Alguns postos deixaram de informar o preço da gasolina em faixas e banners, dando destaque apenas ao etanol. O valor da gasolina era informado apenas na bomba.

Pesquisa da ANP divulgada na segunda-feira (10) encontrou gasolina acima de R$ 5 em 12 estados brasileiros. A mais cara, R$ 6,90, foi registrada em um posto no interior do Tocantins. O levantamento trouxe a primeira alta na gasolina após semanas de estabilidade. Em média, o preço subiu 1,77% no país, para R$ 4,525 por litro.

Em São Paulo, onde o preço médio era de R$ 4,296 por litro na semana passada, a alta foi de 1,7% com relação à semana anterior. No estado, a ANP detectou preço mínimo de R$ 3,749 por litro.

Além de São Paulo, o preço da gasolina subiu em outros 24 estados e no Distrito Federal -ficou estável apenas no Amazonas.

Considerando o preço médio, apenas o Acre tem valores acima dos R$ 5 (foi R$ 5,074 na semana passada). O Rio está bem próximo, com preço médio de R$ 4,96 por litro, de acordo com a pesquisa da ANP.

A coleta de preços pela agência geralmente é feita no início da semana. Nova pesquisa será divulgada na sexta (14).

A escalada do preço da gasolina nas bombas reflete uma série de reajustes promovidos pela Petrobras em suas refinarias desde meados de julho, acompanhando a elevação das cotações internacionais e a desvalorização cambial.

Desde o dia 18 de julho, o preço do combustível vendido pela estatal teve alta de 12,7%. E as pressões externas permanecem, tanto no preço do petróleo quanto no câmbio.

Nesta terça, o petróleo tipo Brent, negociado em Londres, subiu 2,18%, para US$ 79,06 (R$ 328, com a cotação atual) diante de preocupação dos investidores em relação ao furacão Florence, que se aproxima da costa dos Estados Unidos.

O dólar fechou em R$ 4,15, o maior valor do ano, em mais um dia de desvalorização provocada por incertezas em relação ao processo eleitoral.

Desde a última quarta, porém, a Petrobras mantém o preço médio da gasolina em suas refinarias inalterado em R$ 2,2069, valor vigente também para esta quarta (12).

Na quinta (6), a empresa anunciou uma mudança em sua política de preços, incluindo a permissão para segurar reajustes por até 15 dias em caso de pressão altista provocada por fatores externos, como desastres naturais ou desvalorização cambial acentuada.

Nos períodos de represamento, a estatal diz que evitará prejuízos por meio de um mecanismo de proteção financeira, conhecido como hedge, que prevê a negociação de contratos futuros de gasolina e dólar.

Questionada, a Petrobras não informou se o represamento atual já é fruto da nova estratégia para evitar repasses ao consumidor.

Foi a segunda revisão em sua política de preços desde a criação, em outubro de 2016. Na primeira, em julho de 2017, a direção da estatal autorizou sua área comercial a promover ajustes diários.

Desde o início dos reajustes diários, o preço médio da gasolina nos postos brasileiros acumula aumento de 23,8%, já descontando a inflação no período.

Dados do boletim mensal de acompanhamento do mercado de combustíveis do (MME) Ministério de Minas e Energia mostram que impostos contribuíram de forma importante para a alta.

Entre a última semana de junho de 2017 e a última de agosto, a parcela referente a impostos federais no preço final da gasolina subiu 85,7%, para R$ 0,67 por litro.

Já a parcela do ICMS subiu 20,7%, para R$ 1,256 por litro. Juntos, os dois impostos respondem por R$ 0,53 a mais por litro.

A fatia referente à gasolina pura teve alta de 41,37%, para R$ 1,442 por litro. Etanol anidro e margens de distribuição caíram no período, enquanto as margens de revenda subiram 9,5%, em média, no país.

Segundo José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista Derivados Petróleo Estado São Paulo), cada dono de posto é livre para tomar a sua decisão de definir o preço da gasolina.

Ele diz, porém, que há uma minoria de locais com preço maior. Para o sindicalista, apenas postos em regiões mais privilegiadas conseguem vender a gasolina mais cara. "É exceção", afirmou.

Gouveia critica a política de preços da Petrobras -desde julho, o preço se assemelha aos praticados em 2008, quando o petróleo estava acima dos US$ 100 (R$ 415) por barril. "Nunca tivemos um preço tão alto. É fora de propósito."

De acordo com a pesquisa da ANP, nas condições atuais o etanol é mais vantajoso do que a gasolina no Distrito Federal e em seis estados: Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Rio. Neles, o consumidor que abastecer com etanol terá economia em relação ao gasto com gasolina.