SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Jéssica “Bate-Estaca” Andrade se consagrou no último final de semana ao conquistar no Rio de Janeiro o cinturão do peso palha feminino do UFC. Na edição carioca do evento, a brasileira derrotou a norte-americana Rose Namajunas por nocaute no segundo round, graças ao golpe que rendeu seu apelido: levantou a adversária e a atirou de cabeça contra o chão.

A violência do “bate-estaca” provocou debates. Na segunda-feira (13), em entrevista à apresentadora Ana Maria Braga na Rede Globo, Jéssica disse que já foi inclusive excluída de campeonatos de jiu-jitsu pelo uso do movimento. “Em uma das minhas primeiras competições de jiu-jitsu, eu peguei uma menina que era mais pesada do que eu e fiz isso, mas acabei desclassificada”, explicou.

A reportagem do UOL Esporte então procurou a Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA). Segundo Cristiano Sampaio, CEO da entidade, não há qualquer irregularidade no golpe de Jéssica Bate-Estaca em Rose Namajunas. Fora da modalidade, no entanto, médicos especialistas em lesões na coluna veem a ação com extrema preocupação.

“Isso está nas Regras Unificadas. Foi legal”, resumiu Sampaio, favorável à manutenção do golpe na modalidade. A posição contrária à de Pedro Pohl, 37 anos, ortopedista especialista em lesões na coluna.

“A melhor comparação seria com um mergulho de cabeça em água rasa. Muita gente faz isso e pode ter um trauma medular. Ela [Rose Namajunas] poderia ter ficado até tetraplégica. Existem traumas similares que resultaram em tragédias. É uma situação de risco”, afirmou.

De fato, segundo as Regras Unificadas do MMA, “qualquer arremesso com um arco em seu movimento deve ser considerado legal”. Além disso, o golpe está dentro do regulamento, caso o lutador consiga “derrubar o oponente da maneira que desejar, porque ele não tem o corpo do adversário sob controle”.

Embora não reste dúvidas a respeito da legalidade do nocaute de Jéssica Bate-Estaca, o debate foi levantado. Em seu site, a ESPN norte-americana questionou a possibilidade de o bate-estaca da brasileira ser banido do MMA. E deixou a pergunta: o golpe é legal, mas deveria ser legal?

“Isso deveria ser discutido, sim. É de se analisar o tamanho do benefício para o esporte: vale o risco de ter uma lesão deste tipo? Não sei se vale tanto a pena esperar uma lesão grave e até trágica para que mude a regra”, defende Pohl, que destaca outros exemplos de regras adaptadas para levantar a discussão.

“O esporte vai evoluindo em relação à prevenção e segurança dos atletas. A mudança de regra que torna determinados golpes ilegais faz parte desta mudança. No futebol americano, por exemplo, passaram a fazer avaliação da coluna ainda no colegial e também na faculdade. É a prevenção, já que alguns apresentam predisposição a ter uma lesão grave na cervical. É algo preventivo que pode ser feito [no UFC]”, comentou.

“VOCÊ APRENDE A CAIR”

O ortopedista Pedro Pohl não tem relação com o esporte, mas apontou como o bate-estaca pode resultar em uma grave lesão -no caso de Rose Namajunas, não passou de um susto. O golpe, entretanto, é defendido por Gilliard Paraná, técnico da brasileira campeã e que justifica a imagem assustadora a um erro da rival superada no Rio de Janeiro.

“Aprender a cair é uma das coisas que a gente aprende no começo da jornada na arte marcial. De repente, o que ela treinou no começo da carreira de boxe, ela esqueceu de treinar nessa parte de defesa de queda e de caída (no solo). Acho que é um golpe que deve ser permitido, sim”, opinou, em conversa com a reportagem do UOL Esporte.

“Foi um erro brutal da Rose. Aquilo não é jiu-jitsu, é MMA -e está na regra que o bate-estaca é válido. Quando a Jéssica tentou (aplicar o golpe) pela primeira vez, a Rose deu uma travada, já que ainda estava com força e tentou sair para o braço. Legal, méritos dela. No segundo round, ela não estava com a mesma força para segurar o ímpeto da Jéssica”, concluiu o treinador.