Valquir Aureliano – “Cinturão verde” de Curitiba foi bastante afetado pelo granizo de terça-feira

Infelizmente, não foi só a paisagem de Curitiba que acabou alterada (e ganhou um ar mais “polar”) com a chuva dos últimos dias. Com a precipitação de granizo nos municípios que ficam no entorno da capital paranaense, plantações inteiras de verduras e frutas acabaram sendo destruídas em Campo do Tenente, Colombo e Mandirituba. Prejuízo pesado para os produtores, mas também para os consumidores, que nos próximos dias devem começar a sentir a alta nos preços das hortaliças.

Segundo Paulo Ricardo da Nova, diretor técnico da Ceasa Paraná e gerente da Ceasa Curitiba, plantações de alface, rúcula, brócolis, couve e chuchu e a produção de frutas como morango e uva foram as mais impactadas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Somente em Colombo, que é um dos principais fornecedores de hortaliças do Paraná, 70% da zona rural da cidade foi atingida, com a produção em campo aberto tendo sido muito afetada.

Foi exatamente isso, inclusive, o que aconteceu com a produção de Luana da Silva e a de seu pai, José Ari da Silva. Ela conta que na chácara onde vivem são plantadas seis espécies diferentes de hortaliças, mas que tudo se perdeu com a chuva. “Destruiu tudo, a chuva foi feia. Ficaram só os talos mais grossos, o caule. Já caiu outras vezes chuva de granizo, mas nunca afetou tanto a produção”, comenta a produtora, relatando que o prejuízo já supera os R$ 15 mil.

“Só de mudas, que meu pai tinha acabado de plantar, foram R$ 15 mil. Das mudas pequenas não sobrou nada. E ainda tem o restante, que já estava pronto no terreno para colheita e agora se perdeu”, relata Luana, explicando que agora ela e o pai terão de recomeçar o plantio do zero, praticamente. “Vai ter de recomeçar do zero, plantar tudo novamente. Até colher e começar a receber de novo, vai uns cinco, seis meses”, complementa.

Por causa dos estragos, a expectativa da Ceasa é que nos próximos dias os preços comecem a subir. Ontem, conforme Paulo Ricardo, ainda houve uma queda no valor das hortaliças, já que muitos produtores aproveitaram para vender o que conseguiram salvar da chuva a um preço mais baixo. Com a diminuição desses produtos, no entanto, virá a necessidade de se trazer verduras de fora, de outras localidades, e aí o reajuste de preço se torna inevitável.

Para fugir do impacto no bolso por conta dos estragos causados pela chuva de granizo, uma saída para o consumidor pode vir a ser reduzir as compras de hortaliça por um tempo, orienta ainda o gerente da Ceasa Curitiba. Isso porque os produtos principais, como tomate e batata, já vêm de fora, ou seja, não devem ser impactados pela situação. “Mas alface, couve-flor, repolho e outras verduras vão subir os preços”, afirma.

Produtores pedem ajuda do poder público para investir

Com mais da metade das plantações de Colombo impactadas pela chuva de granizo, os produtores da região estão tendo de se virar para conseguir dinheiro e reinvestir em seus negócios. Luana da Silva, por exemplo, conta que, além das plantações destruídas, sua casa também foi danificada durante a chuva. Ela foi ontem até o banco para tentar retirar parte de seu FGTS, mas teve o acesso ao dinheiro negado.

“Eles falam que pode retirar em estado de calamidade e tal, mas quando fui lá eles dissera que o governo ou prefeitura precisa decretar calamidade para daí a gente poder retirar algum fundo para investir. O dinheiro é meu, está lá, eu que trabalhei para conseguir, mas nem isso conseguimos acessar”, lamenta a produtora.

O estado de calamidade pública é decretado pelos governos em situações reconhecidamente anormais, decorrentes de desastres (naturais ou provocados) e que causam danos graves à comunidade. O processo não é simples e passa pelo reconhecimento do Estado e da União.

A chuva de granizo na terça-feira foi uma das mais fortes das últimas décadas e deixou um rastro de estragos. Só em Curitiba, houve 79 residências atingidas com estragos no telhado e pelo menos vinte árvores caíram durante a tempestade.

No Paraná, Defesa Civil registra uma ocorrência a cada 15 horas
Ao longo de todo o ano de 2020, entre os dias 1º de janeiro e 5 de novembro, a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil registrou no Paraná um total de 500 ocorrências dos mais diversos tipos, com um total de 289 municípios afetados, 173 óbitos e 181.871 pessoas afetadas. Considerando-se apenas as situações envolvendo precipitação de granizo, há 48 registros no ano, com 45 municípios atingidos e 14.426 pessoas afetadas.

Os números acima listados apontam para uma alta importante no número de ocorrências registradas pela Defesa Civil na comparação com o mesmo período do ano passado. Em 2019, até o começo de novembro o Sistema Informatizado de Defesa Civil (SISDC) havia registrado um total de 374 ocorrências, com 165 municípios atingidos, 168.411 pessoas afetadas e oito óbitos. Isso significa que o número de ocorrências teve um salto de 33,7% de um ano para o outro, ao passo que o número de mortes nessas situações aumentou mais de 2.000%, um crescimento diretamente relacionado aos surtos de doenças infecciosas virais entre comunidades no interior do estado.