Franklin de Freitas – “Fruet: u201cNessas pru00f3ximas semanas tudo pode aconteceru201d”

Narley Resende

Em modo de espera por uma definição no cenário de alianças do PDT do pré-candidato ao governo Osmar Dias, o ex-prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), que por enquanto se declara pré-candidato à Câmara Federal, pode se tornar o nome da sigla para Senado. Enquanto Osmar e o senador Roberto Requião (MDB) não fecham acordo para uma coligação que satisfaça as exigências dos dois lados, Fruet se prepara para talvez assumir a condição de candidato de Osmar a senador e aproveitar seus votos cativos, os oriundos da exposição que teve na prefeitura, além daqueles 'segundos votos' de quem já escolheu Requião ou o também Beto Richa (PSDB) como primeira opção para o Senado.

Fruet avalia que pode receber votos de todos os lados. O trunfo de Osmar chegou a dizer que não seria candidato, mas na medida em que as alianças não se definem, sua participação na chapa majoritária pode se tornar real. Antes de Fruet ainda está na fila para composição da chapa o empresário Professor Oriovisto, pré-candidato ao Senado pelo Podemos, do senador Alvaro Dias, irmão de Osmar e pré-candidato à presidência da República. Osmar já declarou voto no irmão, mas para que a condição seja recíproca seria necessária uma chapa oficial, com Oriovisto sendo candidato de Osmar ao Senado. Parte do Podemos já está alinhada, mas outra chegou a até declarar apoio à pré-candidatura ao governo do deputado estadual Ratinho Junior (PSD).

As próximas duas semanas serão decisivas para Fruet, que demonstra entusiasmo. Deputado federal por três mandatos, tendo o auge de sua atuação na CPI dos Correios e como candidato à presidência da Câmara Federal na oposição ao governo Lula. Dizem nas ruas que foi “melhor parlamentar do que prefeito”, visão que rechaça. “Perdi na comunicação, mas o tempo está mostrando todos os resultados”.

Na prefeitura, Fruet afirma que teve contratos de publicidade travados no Tribunal de Contas, não pôde contar tudo que fez, e por isso perdeu a eleição para Rafael Greca (PMN). O pedetista diz que viveu as limitações da crise, com “ápice no impeachment”, não tinha recurso de sobra, mas garante que aquilo que “não se vê” colocou Curitiba na ponta dos rankings de indicadores de diversas áreas. “80% do fundo atual (da Previdência) foi depositado na nossa gestão. Não aparece”, lamenta.

Fruet afirma, em diversas conclusões, que o “o tempo está mostrando”, principalmente quando ataca seus desafetos políticos – Greca e o ex-governador Beto Richa (PSDB). “O tempo mostra a proximidade deles com quem mais combateu minha gestão”, diz. Para o Congresso, seja como deputado ou senador, Fruet aposta em sua experiência, na boa imagem de credibilidade que deixou como parlamentar, e no protagonismo que prevê para o Legislativo a partir do ano que vem. “O próximo Congresso vai ter muita força”, profetiza.

Bem Paraná – Aliados de Osmar Dias vêm dificultando uma aliança com o MDB? O senhor concorda? Se não, o que dificulta? O desfecho dessa aliança pode influenciar em uma candidatura sua ao Senado?

Gustavo Fruet – É possível, há um sentimento de mudança, há um sentimento de oposição no Paraná. São duas vagas ao Senado e um desgaste enorme, principalmente de Beto Richa. De qualquer maneira, não basta vontade pessoal. Eu já assumi o risco, já demonstrei determinação e vontade de disputar em 2010. Vi como é necessário ter uma aliança que dê sustentação em todo o Paraná. É viável, é possível, mas desde que seja em aliança com a candidatura a governador do ex-senador Osmar Dias. Uma candidatura casada é viável, porém, eu sei, e neste momento tem muita especulação também, mas como a gente vive um cenário político que é muito mais pessoal do que doutrinário, ideológico, partidário, no Brasil, tudo que a gente falar hoje até as convenções pode ser muito diferente. Dei total tranquilidade a Osmar nesta aliança para que ele não tenha a preocupação de imaginar que vá haver um tensionamento interno. É um momento diferente. Já tensionei em outros momentos. É necessário na vida pública também o enfrentamento. Esse período também serviu para uma série de avaliações. Quando a gente tem uma eleição, principalmente em um momento de crise, a gente entra naquele turbilhão, e por mais que se pense no longo prazo, a gente acaba sendo contaminado pela pressão do dia a dia, e eu vivi muito isso. Depois que perdi a eleição, evidente que cumpri o ritual do luto dos 30 dias, mas a vida segue. Hoje fico em paz até de sair um pouco desse tiroteio. O cenário de crise não mudou. Pelo contrário, vem se acentuando. Apesar de tudo que está acontecendo no Brasil, o próximo Congresso vai ter muita força. É isso que me animou a disputar para deputado federal. Quem quer fazer política não tem porta de saída. Para mim isso é um projeto de vida. E sem mandato é muito complicado, a gente perde uma tribuna para um diálogo maior com a sociedade. Neste momento estou focado na eleição para deputado federal. Esta eleição é ou para quem tem muita estrutura ou para quem tem muita história. Mesmo assim não vai mudar muito esta relação de força trágica que nós vivemos no Brasil nos últimos anos.

BP – E como uma aliança do PDT com o MDB do senador Requião é vista pelo senhor?

Fruet – Sendo pragmático, sem entrar no mérito, se vier a aliança PDT/MDB é evidente que Requião é o candidato a senador. Nessas próximas semanas tudo pode acontecer. A questão nacional pode ter impacto no arranjo local. Isso está acontecendo porque Osmar é competitivo, apesar de ser o candidato hoje com a menor estrutura, com a menor visibilidade, em termos de eventos. A gente vê a agenda de obras da Cida (Borghetti) e a estrutura de comunicação de Ratinho Junior no Paraná, e Osmar está no segundo turno. Há o eleitor que o respeita, por ele ter uma história boa, bonita em um cenário de perda de referência, Osmar preserva isso. E há um eleitor no Paraná que aposta e acredita na mudança. Dificilmente não teremos Osmar no segundo turno. Visitei municípios e lideranças que normalmente anunciam apoio a algum de dois candidatos ao governo já tem um canal com Osmar. Quais partidos poderão estar alinhados com Osmar. Estamos vendo o movimento nacional do Democratas e PSB que podem se aproximar do PDT e isso pode ter um impacto aqui. Temos a questão do Podemos. Osmar já anunciou que vota em Alvaro Dias para presidente, é um candidato do Paraná, tem apelo regional, vai muito bem no Paraná, tem as barreiras nacionais a serem superadas, mas aqui vai bem. É possível uma aliança com o Podemos. Lembrando que o Podemos tem um pré-candidato também ao Senado (professor Oriovisto), isso tem influência aqui e também como é que vai se dar a aliança dos candidatos concorrentes a Osmar. Só que na política a gente não pode esperar, nunca vai ter um momento ideal. O Paraná é um Estado muito competitivo, é fato e eu vivo isso, também tem esse lado autofágico, com uma tendência de destruição de projetos muito grande, mas nós vivemos algo novo. Na esteira da Lava Jato, que atingiu em cheio o PT, passada toda esta visibilidade, o fato novo é que começa o movimento de investigação contra Beto Richa. Fatos que podem não ter efeito legal até a eleição, mas tem um efeito de comunicação e de percepção muito grande. Isso (as denúncias contra Richa) chegaram na população. Quando a gente está no mundo da política tende a ficar mais agitado do que a média da população, mas isso chegou. Hoje temos dois candidatos que vão tentar no tabuleiro evitar surpresas e portando os dois (Requião e Richa) passam a ter protagonismo e possibilidade de eleição. Agora o risco deles é surgimento de candidaturas que disputem o segundo voto e estejam bem vinculadas à candidaturas de governador e até de presidente. Por isso que a gente vai viver um período de muita pressão. Muitos querem mamão com açúcar, querem ganhar a eleição sem risco na escolha popular.

PREFEITURA

'Junho de 2013 foi um divisor de águas'

Bem Paraná – O senhor diz que foi prejudicado pela crise e chegou a pensar em não concorrer à reeleição na prefeitura. Depois da derrota, se arrepende de ter concorrido?

Gustavo Fruet – Não. Na vida há brigas necessárias, vitórias certas a serem assumidas e desafios difíceis a serem enfrentados.

BP – Se viu obrigado a concorrer?

Fruet – Obrigado, não. Fiz com muito entusiasmo. Mas também sou realista. Acompanho o momento e apesar de a gestão ter terminado bem avaliada perdi a eleição porque também a partir de junho de 2013 foi um divisor de águas, quando começaram as manifestações por causa da tarifa. Para mim houve uma perda na comunicação, não por causa de equipe, pelo contrário, tive profissionais altamente qualificados (na prefeitura), mas não havia o que dialogar. Era difícil quebrar aquela barreira de uma parcela expressiva da sociedade, que além de estar fechada a ouvir tinha, com razão, uma soma de fatores que levava à indignação. O auge para mim foi o impeachment (da ex-presidente Dilma Roussef). Mas foram anos em que eu sempre falava para a equipe: não percam tempo com cínico e com fanático, que era uma conversa inócua. O tempo tem ajudado a expor avanços positivos na gestão. Eu cito, há poucos dias a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) divulgou o índice de desenvolvimento dos municípios. A Capital que mais avançou foi Curitiba, em primeiro lugar junto com Florianópolis. Os melhores indicadores na Educação e na Saúde, inclusive com programas que estão sendo fechados hoje. Na área de gestão fiscal, a Secretaria do Tesouro Nacional divulgou ranking nacional das cidades brasileiras e Curitiba foi a única cidade que chegou no conceito A, A-, mas a única que evoluiu e que chegou no conceito A. Ou seja, no auge da crise conseguimos ampliar os investimentos, garantir o custeio e fazendo também um ajuste fiscal como nunca foi feito em Curitiba. A atual gestão não tem absolutamente nada de novo na área de ajuste fiscal, a não ser o maior aumento da carga tributária da cidade. E no ano passado, o Tribunal de Contas divulgou o índice de eficiência das cidades do Paraná analisando cinco indicadores. Curitiba foi avaliada como a melhor cidade em eficiência e gestão no Paraná. Ou seja, o tempo está ajudando a mostrar e estabelecer uma comparação de que mesmo na crise houve um avanço. Agora, vivemo a Copa, e Curitiba foi a única sede do país que realizou os investimentos da Copa do Mundo. Ao longo do período, o tempo também está ajudando a expor a forma pequena como o governo Beto Richa agiu em relação à gestão na Capital no período em que eu estava na prefeitura. Na semana passada, o governo do Estado anunciou um novo subsídio neste ano para congelar a tarifa, que por sinal está entre as maiores do Brasil, teve o maior aumento do Brasil e o maior aumento da história de Curitiba. E não houve reação, como houve em 2013, mostrando que aquilo que a gente falou na eleição e no ano passado está se confirmando. Armaram mais uma bomba relógio. E, de novo, de forma eleitoreira estão usando o subsídio no ano eleitoral. Ou seja, no ano que vem esta conta chega.

BP – O senhor citou um impeachment como auge da crise. O senhor apoiou impeachment e isso também agastou a sua vice, Mirian Gonçalves (PT), que o acusa de 'apoiar o golpe'. Um momento marcante do racha foi quando o senhor viajou e deixou ela à frente da prefeitura. Por que o senhor vetou a regularização de terrenos na CIC feita por ela?

Fruet – Não era um decreto de regularização, era um declarando de utilidade pública, de desapropriação. Não havia orçamento. Hoje nós sabemos que quando é feita a desapropriação não se pode fazer emissão de posse e depois discutir o valor. A prefeitura tem que depositar um valor que seja definido e homologado pelo juízo, portanto não era um simples decreto de regularização. A gestão foi a que mais regularizou lotes na história de Curitiba, mais de 12 mil famílias beneficiadas com regularização fundiária, em um trabalho muito competente feito pela equipe da Cohab e da prefeitura de Curitiba.

BP – O critério para não publicar o decreto dela foi técnico?

Fruet – Não tinha dinheiro, critério absolutamente técnico. E uma questão de lealdade. Acho que isso tinha que ser combinado com o prefeito antes da viagem para não ser tomado de surpresa. Eu quero deixar uma imagem de boa lembrança de Mirian, jamais imaginar que ela foi o Temer do Gustavo em Curitiba.

BP – Não temos uma comparação consolidada de obras das duas gestões, mas Curitiba tem visto diversas obras nas ruas neste ano. Na sua gestão, muito também em razão da Copa, também houve grandes obras. Faltou capitalizar melhor isso para sua imagem? O senhor se arrepende de ter feito coisas não tão perceptíveis para a população?

Fruet – Não é arrependimento. Temos que lembrar algumas circunstâncias. Primeiro: o Tribunal de Contas, por uma série de questionamentos, só autorizou o edital de licitação de novas agências (de publicidade) quase ao final da metade do mandato. Isso tem um impacto. Eu prefiro analisar isso hoje como se tivesse havido uma decisão técnica. Segundo: no ano eleitoral só é possível gastar em publicidade a média dos três primeiros trimestres dos três anos anteriores. Como nós tínhamos uma restrição, até de licitação, foi um gasto abaixo da média. E terceiro: houve uma crise, com uma queda de orçamento muito expressiva. Alguns dados são importantes até para comparação: nossa gestão entregou três viadutos, esta talvez entregue um, do Orleans, que é um projeto muito importante feito pela nossa gestão e apesar de reiterados pedidos ao governo do Estado não houve manifestação, e agora o governo anunciou que vai passar R$ 25 milhões a fundo perdido para a prefeitura e R$ 25 milhões emprestados. Entregamos cinco trincheiras, a atual gestão talvez entregue duas ou três. Duas na Linha Verde com dinheiro do Estado, que foi negado para a gestão, e uma na (rua) Mário Tourinho, que é um projeto que nós fomos atrás do PAC do governo federal, que é um investimento que não vai demandar muita desapropriação. É importante também destacar que as obras que fizemos, algumas delas, tivemos que pagar desapropriação, por exemplo a trincheira da Ceasa, uma obra de R$ 7, R$ 8 milhões, e a nossa gestão além de pagar parte expressiva dela e ter deixado praticamente concluída gastou quase R$ 15 milhões em desapropriação, dinheiro que não aparece. A nossa gestão entregou quase 300 quilômetros de pavimentação. Pavimentação é necessária, só que nós não tivemos recurso do governo do Estado como está sendo dedicado agora. Não sei qual será o total de quilometragem neste ano, mas é o único investimento novo desta gestão, com dinheiro do Estado realizando pavimentação. Quarto: entregamos 32 Cmeis, e essa gestão não tem nenhum projeto, pelo contrário, alegou que não tinha orçamento, que não foi deixado recurso para equipar os Cmeis, o que é 'conversa para boi dormir'. Na hora que a prefeitura do Greca deixou 12 Cmeis fechados, a prefeitura do Greca deixou de investir na Educação Infantil mais de R$ 30 milhões, porque cada Cmei custa por mês R$ 220 mil. Entregamos seis unidades de saúde, e esta gestão não tem nenhum projeto, pelo contrário, a Câmara Municipal derrubou a única unidade de saúde que estava programada. A atual gestão diminuiu o atendimento, diminuiu o horário, que deixamos até às 22 horas, fechou a UPA da Matriz e prometeu agora para o final de julho a abertura da UPA da CIC, alegando que é um projeto novo de contratação. 'Conversa para boi dormir'. Só aí a prefeitura do Greca deixou de investir na Saúde, no pronto-atendimento mais de R$ 40 milhões, considerando que uma UPA custa de R$ 1,3 milhão a R$ 1,5 milhão com dinheiro da prefeitura. Não tem projeto de ampliação na Saúde. Os indicadores, o tempo têm mostrado. Então, nós temos obras que são visíveis, como a Rodoviária, a Avenida das Torres, todo o projeto de iluminação, que chegou a quase 25% de implantação, e obras imateriais que são de ganho de desenvolvimento da cidade, que o dado da Firjan mostrou, mas que às vezes não tem apelo para uma parcela da sociedade e não foi objeto de propaganda. Dois exemplos: Curitiba é a primeira capital que zerou a demanda de vagas para crianças a partir de 4 anos. É a capital que mais tem criança na educação integral, o que esta gestão está acabando, alegando que estão abrindo vagas, mas de meio período. É um dos maiores retrocessos da Educação Infantil. Na área de Saúde, a gestão alcançou indicadores abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, como por exemplo o índice de mortalidade materna. Agora, isso aparece? Normalmente só aparece quando tem uma crise. Em várias áreas Curitiba melhora os indicadores, com programas que custam, mas às vezes não têm visibilidade. Mais um exemplo só, que foi explorado de maneira preconceituosa na campanha pelo Greca, a assistência social, principalmente à população em situação de rua. Tínhamos deixado 18 unidades de acolhimento, atendendo públicos específicos e até hoje não se sabe quantas unidades e qual a capacidade de acolhimento da atual gestão. Desativaram programas importantíssimos ou tentam diminuir os programas, só que isso tem um ganho de médio/longo prazo que foi interrompido. A parte mais visível foram as pessoas que morreram nas noites de frio. Em outras áreas, o tempo também está mostrando a eficiência de programas, como por exemplo na área de trânsito, com redução de mortalidade, redução de atropelamentos, a própria redução de acidentes, com uma série de ações a partir do centro de controle operacional, com a Via Calma, com a Área Calma, compartilhamento, sincronização dos semáforos. Mas no fundo, o que vejo que está acontecendo hoje, sem precedentes em Curitiba, primeiro o ódio que o Greca assume, parece que tem uma soma de ressentimentos, uma metralhadora sem fim. E segundo a desconstrução do futuro da cidade. Um dos projetos mais bonitos que foi trabalhado é o novo plano diretor, que estabelece as linhas de zoneamento da cidade, o sistema viário e os novos modais. Tudo isso foi interrompido. A PMI (Proposta de Manifestação de Interesse) da eletromobilidade, não se fala mais, os projetos da eletromobilidade não se fala mais, e a expansão do sistema também não tem nada novo além do que deixamos.

CRISE POLÍTICA

'Ninguém vai conseguir construir maioria no Brasil'

Bem Paraná – A lei de zoneamento foi refeita. Havia necessidade de mudanças?

Gustavo Fruet – O Plano Diretor foi aprovado, lá estão as diretrizes. A Lei de Zoneamento foi tirada e agora, um ano e cinco meses depois, voltou para a Câmara. Não é adequado que se discuta, ou que se pense que vá haver essa discussão, agora, faltando menos de três meses para as eleições, vai ser possível se estabelecer uma comparação entre o que nós deixamos, o que foi alterado e qual a razão. Lembrando como mudaram as circunstâncias. Na nossa gestão procuramos manter um diálogo com o setor produtivo, mostrando que depois de 10 anos sem revisão na planta genérica era necessária uma atualização que fizemos no período de três anos e sem mais onerar a cidade. Eu citei a economia que ele fez ao não abrir escolas e ao não abrir unidades de saúde. Ao não dar reajuste aos servidores, e olha o que é o tempo e a ironia da história, a lei que estabelecia o reajuste anual e a data-base era dele. Ou ele foi demagogo ou é um irresponsável. Ele aprovou na Câmara, que tiveram que votar na Ópera de Arame, revogou a data-base e com isso deixou de dar o reajuste. Ao não dar o reajuste em 2017, considerando uma inflação oficial um pouco menor e não dar o reajuste em 2018 e suspendendo os planos de correção, só aí Greca economiza mais de R$ 200 milhões. O que tem de interessante nesse movimento é que hoje o servidor publico não reage como reagia anteriormente, um exemplo, os sindicatos. E segundo que há um sentimento contra o serviço público na sociedade em que se misturam todos os fatores. A terceira, questão, que é algo que seria impensável na minha gestão, o Greca deu a maior aumento da história na tarifa de ônibus, pouquíssimas novas linhas entraram na integração, já estavam até programadas, tem de novo subsídio, deu o maior reajuste da história do IPTU, nunca Curitiba teve reajuste do IPTU quatro anos seguidos. Ele está fazendo algo que não tem precedente na história de Curitiba, dá o maior aumento da taxa de lixo, sem precedentes na história, e dá o reajuste do ITBI. E o setor produtivo que é tão combativo contra o aumento de impostos em todo o Brasil, aqui em Curitiba as entidades se calam.

BP – Por que o senhor apoiou o impeachment?

Fruet – O impeachment foi uma decisão política. E o Brasil entrou em um caos político e não vai ter solução de curto prazo. Pelo contrário, só está acirrando. Vimos o comportamento da sociedade quando em um fato inédito no Judiciário brasileiro (a guerra de despachos no julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula), em algo que não é ortodoxo em um poder que é moderador, mostrando que não tem solução fácil e não vai ter com a eleição. Ninguém vai conseguir construir maioria no Brasil, ninguém vai conseguir construir maioria no Congresso. O Congresso não vai ser muito diferente do atual. As assembleias legislativas não vão ser muito diferentes do atual, vai ter muito voto branco e nulo, como se isso significasse protesto, mas efeito prático nenhum na composição de forças. O ano que vem, dependendo de quem for eleito, se não houver uma melhora da economia, nós não estaremos discutindo o futuro do Brasil. Estaremos discutindo o impeachment. Banalizou. Sempre achei e acho que Dilma paga muito mais o preço do conjunto da crise política do Lula, mas o impeachment, já escrevi sobre isso, é eminentemente político.

BP – O senhor mantinha um diário durante o período na prefeitura e disse que depois de sair publicaria um livro. Mantém essa intenção? Se sim, já começou a escrever? Quando pretende lançar o livro?

Fruet – São seis cadernos. Algumas questões já transformei em uma palestra que tenho procurado falar sobre o novo pacto federativo, sobre a experiência que vivi, os erros e acertos, mostrando como mudou o modelo de gestão no Brasil. Basicamente, dois pontos. Primeiro que é um sistema de distribuição de receitas que vai levar ao colapso, não tem milagre. A própria Firjan mostrou que a crise dos três anos vai levar dez anos para emitir um retorno para a humanidade. Mas os municípios estão aumentando cada vez mais a responsabilidade. O segundo ponto é que quando meu pai foi prefeito, Jaime Lerner foi prefeito, basicamente a cidade tinha três preocupações: sistema viário, transporte público e zoneamento. Hoje, além dos três temas fundamentais a cidade é cada vez mais responsável pela segurança pública, educação infantil e fundamental, atenção à saúde básica, ao pronto-atendimento e à gestão do SUS, questão ambiental, desenvolvimento econômico, assistência social. É meio paranoico. Muitos pedem a redução da máquina pública e os mesmos pedem o aumento da atenção às demandas públicas. Eu tenho falado sobre isso. Agora, o diário, estou tomando o cuidado, estou terminando de reler. Eu praticamente toda noite escrevia. E vejo que eu carregava, na emoção, naquele momento. Algumas questões, é claro que não vou publicar, pelo menos na forma como escrevi, até porque normalmente não xingo ninguém em público, apesar de eu ter feito algumas deferências até simpáticas no meu diário. Mas é uma oportunidade de contar esse dia a dia das crises internas, das crises com a cidade, alguns tipos de pedidos que eu recebo.

BP – Pode adiantar algum exemplo?

Fruet – Entre as engraçadas, o primeiro telefonema que recebi na prefeitura, foi quando tomei posse, fui para o gabinete, tocou o telefone e eu atendi feliz, pensei 'puxa, alguém já liberando uma emenda com recursos de Brasília, tal. 'Alô, quem fala? É o Gustavo. Gustavo, aqui quem fala é o fulano de tal da TIM. Tem uma conta aberta aqui, de R$ 900 mil, e se a prefeitura não pagar a nossa orientação é cortar todo o sistema de comunicação da prefeitura'. Ai pedi os dados, ele me passou, agradeceu. Sei que a prefeitura acabou pagando a conta, tempos depois conheci o presidente da TIM, quando eles instalaram em Curitiba a primeira torre 4G em frente à Praça Afonso Botelho, aí contei a história. Ele pediu desculpas, perguntou o nome do sujeito. Eu disse que não lembrava, mas que se lembrasse, ele deveria chamar o funcionário e dar o cargo de diretor. Foi a primeira pessoa que falou com o prefeito e recebeu a conta que estava em aberto com a TIM.

ELEIÇÕES 2020

'É uma oportunidade de comparar as gestões'

Bem Paraná – O senhor pretende disputar a prefeitura em 2020?

Gustavo Fruet – Sim. É evidente que meu futuro passa por essas três semanas, faço isso (política) por paixão, uma paixão lúcida. Se a gente for racionalizar muito não dá para participar. Estou vendo muita gente vocacionada se afastando, o que é ruim, uma contradição com o que a gente vê. Acho que vai ter mais eleitor crítico, e é claro que vai depender muito desta eleição. É evidente que por tudo que passei e vivi, e por esse período de Greca na prefeitura, e aí eu falo da nossa democracia, que nos grandes momentos há uma igualdade de espaço. Agora, no dia a dia da democracia é desigual. Na construção de imagem e na desconstrução de imagem. Para quem está fora de máquina, não tem rede de TV ou não tem banco ou grande empresa, é desigual lidar com esse processo. Sem falso moralismo, ao final desse período eu não tenho concessão nenhuma, não tenho aposentadoria especial, não tenho cargo público.

BP – O senhor vive de quê?

Fruet – Tenho uma pequena fonte de renda em imóveis e agora que estou começando a retomar atividade profissional. Eu advoguei muitos anos e fui sócio de escritório em Brasília, mas a partir do segundo mandato de deputado federal me afastei. Isso me arrependo sob aspecto profissional. A política do jeito que eu fiz tem um custo pessoal e familiar brutal e tem um custo financeiro muito grande. Mas há que se enfrentar. Para a prefeitura, é uma oportunidade de comparar as gestões e comparar, principalmente, o que foi dito na campanha. No calor do debate eu procurei, e no período de estar na prefeitura, sempre ser correto com o que era possível. É uma tentação na campanha (prometer). A gente vê que se promete um mundo e depois vem com o discurso da realidade. Alguém lembra do Greca dizendo que ia dar o maior aumento na tarifa de ônibus? Não. Agora, quando me perguntaram 'haverá reajuste ano que vem?' eu falei sim, de acordo com o contrato, pela inflação. Quem foi prejudicado com isso? Eu não lembro do Greca dizendo que ia dar o maior aumento do IPTU da história.

BP – Muita gente diz que o senhor foi um parlamentar excelente e um prefeito ruim. O senhor foi melhor parlamentar?

Fruet – Essa comparação não é correta. Fui parlamentar por 14 anos. Dois anos como vereador na oposição, três mandatos no Congresso, em um período de muita visibilidade. Lembro até de ter disputado a presidência da Câmara, que acabou virando tema nacional, um grau de exposição sobre o futuro da Câmara. Isso que se consolidou não se faz no período de prefeitura. Reitero que perdi na comunicação, mas o tempo está mostrando todos os resultados. Mesmo com dinheiro do governo do Estado, eles não vão conseguir os mesmos indicadores.

DENÚNCIAS

"Curitiba tem seus donos"

Bem Paraná – A delação do ex-diretor da Secretaria da Educação, Maurício Fanini, menciona vários de pessoas que mantinham ou mantém relação com a prefeitura. Como foi a relação com elas na sua gestão?

Gustavo Fruet – Muitas delas, que apareceram na delação como pessoas próximas a Beto Richa têm contratos com a prefeitura de Curitiba. Seguramente a relação dessas pessoas começou quando ele foi prefeito, não só como governador. Exemplo: Eron (Cunha), da empresa Empo (Engenharia), que nós tivemos que entrar na Justiça por problemas de execução de contrato, e acabou sendo um adversário da gestão. (Carlos Henrique) Gusso, da Risotolândia, que tem o maior contrato de alimentação e era uma pressão permanente em relação ao contrato, mostrando que nós fizemos a revisão de contratos justamente, e agora a delação de Fanini vem mostrando isso, de pessoas que tiveram uma relação de muita proximidade com Beto Richa. Isso é importante também para a cidade avaliar o que significa ser um bom prefeito.

BP – Então o senhor avalia que pessoas ligadas ao ex-governador criaram dificuldades para a sua gestão?

Fruet – Curitiba tem seus donos. Empresas que historicamente vivem com a prefeitura, prestam serviço, mas que tem a essência de sua receita com o município ou por concessão. As empresas de ônibus, por que reagiram tanto contra mim? O ICI (Instituto Curitiba de Informática)? E veja que agora eles estão para homologar o acordo que a nossa gestão teve que ir para a Justiça para exigir o que era de direito para a cidade de Curitiba que era o código-fonte, que estava de propriedade de um terceirizado. Os contratos de alimentação, limpeza, na área de iluminação, os contratos na área de semáforo… Ou seja, nós abrimos todos para revisão. Procuramos quebrar esta contemporização que existe. E o tempo está mostrando. Fico feliz de ter ganhado esses adversários e até inimigos e o tempo mostra a proximidade deles com quem mais combateu minha gestão, que foi Beto Richa.

REFORMAS

'Nó da Previdência são os grandes salários'

BP – Como o senhor vê a reforma da previdência?

Fruet – Sou favorável. E dou o exemplo da reforma que fiz em Curitiba e paguei o preço com os maiores salários da prefeitura. Congelei o salário do prefeito por 4 anos. É relevante porque é o teto. Então, ao final da gestão mais de 500 servidores estavam no teto. Se eu não tivesse congelado a prefeitura teria gasto seguramente mais de R$ 100 milhões no período. Ajustamos o fundo de previdência que Greca não está pagando como a gente pagava. 80% do fundo atual foi depositado na nossa gestão. Não aparece. Eu poderia ter sido melhor prefeito, mas foi a gestão que mais ajustou o fundo de previdência, corrigindo a herança do Beto Richa, que também deixou o rombo no Estado. Qual é o nó da previdência? Os grandes salários, principalmente no setor público, de pessoas que estão no teto. Mais da metade da folha do Supremo Tribunal Federal é de aposentados. A reação (contrária a uma reforma) é legítima, de pessoas que se aposentaram em um modelo, muitas vezes de forma precoce, mas que absorvem a maior parte da aposentadoria. Há que se ter um tratamento diferenciado com quem recebe salário mínimo e com quem começa a trabalhar cedo. É raro alguém dizer que começa a trabalhar cedo só por opção, principalmente na área rural.

BP – Ciro Gomes disse que revogará a reforma trabalhista se for eleito. O que o senhor pensa?

Fruet – Ele falou que faria um debate envolvendo os trabalhadores, falou na CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e provocou até reação. Eu acho que estamos vendo como isso está se ajustando na Justiça do Trabalho, qual impacto na sociedade. Algumas coisas na reforma são necessárias, mas isso vai ter que ser balizado.

BP – Como o senhor vê as privatizações de estatais?

Fruet – Algumas, sim, outras acho que é regulação. É estratégico para o Estado esse debate. Falando da Copel e da Sanepar que fica mais fácil a compreensão. Independente de governo e de partido, houve, porque a gente vê que muita gente de carreira nas empresas estão envolvidas em denúncias de corrupção. Ficaram com salários irreais, ficaram com contratos sem acompanhamento e também com perda de projetos de planejamento. Um exemplo típico é a Petrobras.

BP – O senhor é a favor da privatização da Petrobras?

Fruet – Na Petrobras, não. Algumas até pode ser. Acho que em bloco, não. Tem empresas que são necessárias, mas tem que ter uma nova relação de regulação, que infelizmente as agências não tem mostrado eficácia. Um modelo de compliance (disciplinas para fazer cumprir as normas legais)  como há em empresas privadas.

BP – O que o senhor pensa sobre reforma tributária?

Fruet – Não vai ser fácil. Por isso acho que a gente vai continuar na crise. Não tem muito espaço mais para aumentar tributo. Qualquer mudança vai gerar um custo de transição e dificilmente alguém vai abrir mão de uma mudança. Por isso falei que os municípios podem entrar em colapso.

BP – Como o senhor vê a guerra fiscal do ICMS nos Estados?

Fruet – Isso era para ter acabado, mas foi derrubado o veto ao projeto que evitava que as secretarias tivessem essa iniciativa. Por isso tem o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), senão é inócuo, todos perdem e não se dá clareza. Não é um tema simples. Mesmo quando a gente fala em jogar toda a tributação para o consumo, que é uma tendência mundial, e que é o modelo que se defende ideal no Brasil, haverá perda no caminho. Lembre que tem uma burocracia que hoje vive disso, que vai criar sempre muito mais problema do que alternativa de mudança. Acho que não tem reforma tributária fácil. O governo tem uma estrutura hoje que não dá margem para abrir mão de receita. Os estados chegaram no limite e as prefeituras que são a parte mais frágil nessa relação dependem do repasse da União e dos Estados. A não ser a grandes, seis cidades no Brasil, entre elas Curitiba, que ainda tem uma receita própria superior à receita de transferência.