EBC – Haddad

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, usou nesta terça (23) a declaração de um cantor que depois foi desmentida para acusar o general Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), de ter sido um torturador durante a ditadura militar (1964-1985).

Mourão afirma que processará Haddad pela declaração.

"Eu fiz minha parte para defender o que considero um projeto democrático de país, contra aquilo que considero que será um grande atraso, um retrocesso retumbante no país, que é a vitória de um rebotalho [refugo] da ditadura, que é o que sobrou dos porões [da repressão]. O [Hamilton] Mourão foi ele próprio torturador", disse Haddad em sabatina do jornal O Globo, Valor Econômico e revista Época transmitida online.

"Deveria causar temor em todos os brasileiros minimamente comprometidos com o a democracia no Brasil", afirmou o petista.

A afirmação de Haddad, contudo, se amparou em um relato equivocado do cantor Geraldo Azevedo.

Em show na Bahia na noite de sábado, Azevedo contou ter sido preso e torturado durante o regime militar –o que é verdade. Em seguida, o cantor pernambucano afirmou que Mourão era um dos torturadores do local onde ele ficou encarcerado por 41 dias.

A prisão e tortura de Azevedo, porém, ocorreu em 1969, três anos antes de Mourão, que hoje é general da reserva, ingressar no Exército.

Haddad mencionou o relato do cantor durante sabatina. Segundo ele, Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, não teve atuação destacada quando esteve na ativa da força, diferentemente de Mourão, classificado como torturador pelo petista. Questionado sobre o caso, Haddad disse que seria preciso ouvir o próprio cantor sobre suas denúncias: "Entrevista o Geraldo Azevedo".

Azevedo desmentiu sua declaração pouco depois, por meio de nota de esclarecimento. "O vice-presidente do candidato Jair Bolsonaro não estava entre os militares torturadores [da época em que fui preso]. Peço desculpas pelo transtorno causado pelo meu equívoco e reafirmo minha opinião de que não há espaço, no Brasil de hoje, para a volta de um regime que tem a tortura como política de Estado e que cerceia as liberdades individuais e de imprensa", escreveu.

Na nota, o cantor cita a declaração feita por Bolsonaro de que "o grande erro [da ditadura] foi torturar e não matar" para justificar sua oposição à candidatura.

Após o esclarecimento, Haddad afirmou que havia dado ao público uma informação que recebera "de fonte fidedigna", aludindo a Azevedo.

"Eu me solidarizo com ele porque toda pessoa que foi torturada está sujeita a este tipo de confusão. Isso não tira o fato de que tanto Mourão quanto Bolsonaro tem Ustra [Carlos Alberto Brilhante, torturador] como referência", disse Haddad a jornalistas durante encontro com evangélicos no Rio de Janeiro.

Mais tarde, o candidato voltou a dizer que não errou. "Quem deu informação equivocada não fui eu, foi o compositor que foi torturado, você deveria respeitá-lo", disse à reportagem após reunião com o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta.

Mourão disse que vai processar o petista e o cantor.

"Vou enfiar processo nesses caras todos. Eu tenho filho e tenho neto. Os caras têm que pensar duas vezes antes de falarem bobagem", disse à reportagem por telefone. "O cara solta uma mentira num lugar e o Haddad compra. Como é que pode ser presidente do Brasil uma pessoa que não distingue o verdadeiro do falso?"

Em nota à imprensa assinada por Levy Fidelix, presidente do PRTB, a legenda afirma que irá processar Haddad e Azevedo pelas declarações.

O PT tem acusado de forma recorrente a chapa adversária de usar notícias falsas para detratar o partido e Haddad na campanha eleitoral.

No sábado, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar esquemas de disseminação massiva de fake news na campanha. A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, também tem defendido o combate às fake news, embora não tenha citado caminho para fazê-lo.