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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um incêndio de grandes proporções atinge neste domingo (2) o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio. Cerca de 50 homens de três quartéis estão no local combatendo as chamas desde as 19h. Parte do interior do edifício já desabou.

O fogo começou depois que o local já havia encerrado a visitação —tanto do museu quanto do zoológico que também fica na Quinta da Boa Vista. Ainda não há informações sobre vítimas.

Mais antigo do país, o Museu Nacional é subordinado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e vem passando por dificuldades geradas pelo corte no orçamento para a sua manutenção.

A instituição está instalada em um palacete imperial e completou em junho 200 anos —foi fundada por d. João 6º em 6 de junho de 1818.

Com seguidos cortes no orçamento, desde 2014 não vem recebendo a verba de R$ 520 mil anuais que bancam sua manutenção e apresenta sinais visíveis de má conservação, como pareces descascadas e fios elétricos expostos.

Seu acervo, com mais de 20 milhões de itens, tem perfil acadêmico e científico, com coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica, entre outras. Menos de 1%, porém, estava exposto.

"O maior acervo é este prédio, um palácio de 200 anos em que morou d. João 6º, d. Pedro 1º, onde foi assinada a Independência. A princesa Isabel brincava aqui, no jardim das princesas, que não está aberto ao público porque não tenho condições", disse à Folha em maio Alexander Kellner, 56, diretor do Museu Nacional.

Em maio, 10 de suas 30 salas de exposição estavam fechadas, incluindo algumas das mais populares, como a que guarda um esqueleto de baleia jubarte e a do Maxakalisaurus topai —o dinoprata, primeiro dinossauro de grande porte já montado no Brasil.

Para reabrir a sala, interditada havia cinco meses após um ataque de cupins, o museu armou uma campanha de financiamento coletivo na internet —e arrecadou R$ 58 mil, mais do que a meta de R$ 30 mil.

O museu guardava também o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, e a coleção de múmias egípcias —inclusive o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas. Além de coleções de vasos gregos e etruscos (povo que viveu na Etrúria, na península Itálica).

A decadência física do prédio já era visível para os visitantes, que pagavam R$ 8 pelo ingresso inteiro. Muitas de suas paredes estavam descascadas, havia fios elétricos expostos e má conservação generalizada.

No bicentenário, a instituição celebrou com o BNDES um contrato de R$ 21,7 milhões para investir em sua restauração. Havia outra negociação milionária encaminhada para bancar uma grande exposição —a expectativa era de que cinco das principais salas fossem reabertas até 2019.

Alexandre Kellner dizia ser necessários R$ 300 milhões, investidos ao longo de pelo menos uma década, para executar o Plano Diretor do museu.

O último presidente a visitar o museu foi Juscelino Kubitschek (1956-1961), lembra o diretor. "O Brasil não sabe da grandeza, da riqueza disso aqui. Se soubesse, não deixaria chegar neste estado", disse Kellner, em maio.

OUTRA TRAGÉDIA

Em julho de 1978, outro incêndio destruiu quase todo o acervo do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro. Cerca de mil obras foram perdidas, entre elas as de Picasso, Miró, Matisse, Dalí e Portinari.

Só da exposição "Geometria sensível" foram devoradas pelo fogo 200 obras —80 eram telas do uruguaio Torres García.

Em 40 minutos, o fogo já havia destruído também duas telas de Picasso, duas de Miró e centenas de obras de artistas brasileiros. O fogo, iniciado às 3h40m, foi debelado pelos bombeiros em duas horas e meia.

Do acervo, de mais de mil peças, incluindo também obras de Matisse, Dalí e Portinari, restaram apenas 50. O estrago foi tamanho que apenas nos anos 1990 as instituições internacionais voltariam a confiar no país para abrigar exposições de grande porte.