SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A inflação oficial brasileira acelerou e fechou março em 0,75%, acima do 0,43% do mês anterior, informou nesta quarta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Foi a maior taxa desde junho de 2018, quando os preços sofreram impactos da greve dos caminhoneiros.

Para um mês de março, foi a maior inflação desde 2015. Alimentos e transportes foram responsáveis por 80% do índice. Juntos, representam 43% das despesas das famílias.

No primeiro trimestre, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 1,51%, a maior para o período desde 2016.

Em 12 meses, a inflação chega a 4,58%, maior índice desde fevereiro de 2017 e acima do centro da meta estabelecida pelo governo -de 4,25%.

Diante do susto com a inflação em março, alguns analistas revisaram para cima as projeções de preços para o ano, mas sem força suficiente para romper o centro da meta.

Com isso, as posições com relação aos juros seguem intactas: a maioria dos economistas ainda espera que a taxa Selic permaneça em 6,5% ao longo do ano, e os que previam novos cortes em razão da retomada lenta da economia mantêm a posição.

Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank, não vê ameaça iminente para a inflação em meio à atividade lenta e pressão cambial limitada.

Ele mantém a previsão para o IPCA em 2019 em 3,8%, com a taxa Selic em 6,5%. Porém, as chances de um novo corte nos juros, diz Oreng, são maiores do que as de uma alta.

“Uns pontos a mais ou a menos [na inflação] não mudam nada”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “O refresco externo e a fragilidade interna vão se manter, e o risco da reforma da Previdência vai sendo digerido e recalculado.” A taxa Selic, diz ele, deve cai para 6% até o fim do ano.

A MCM foi uma das consultorias a rever para cima a inflação em 2019, de 3,9% para 4%.

Em março, a alta dos alimentos foi puxada por tomate (31,84%), batata-inglesa (21,11%), feijão-carioca (12,93%) e frutas (4,26%). Em geral, as altas foram provocadas por questões climáticas.

Preferência dos brasileiros e produzido apenas no país, o feijão-carioca, por exemplo, sofreu com a estiagem no Rio Grande do Sul durante a primeira safra do ano. No primeiro trimestre, o preço do produto já subiu 105%, a maior alta desde o Plano Real.

Já o grupo transportes foi pressionado pela alta de 2,88% no preço da gasolina -o item com maior impacto na inflação de março -e de passagens aéreas, que subiram 7,29%.

Sozinha, a gasolina respondeu por 0,12 ponto percentual do IPCA de março. A alta reflete o repasse às bombas de reajustes de 10,82% promovidos pela Petrobras em suas refinarias durante o mês -o que levou os caminhoneiros a ensaiar nova reação.

Para o gerente do IBGE Fernando Gonçalves, a inflação mais alta parece pontual, pois ainda não há pressões sobre a demanda, que aparecem na inflação dos serviços (ela fechou o mês em 0,32% e em 12 meses soma 3,59%).

“Os últimos resultados da Pnad [pesquisa que calcula o desemprego] mostram aumento na desocupação e aumento no desalento. Isso tudo contribuiu para que as famílias empreguem os seus rendimentos no que é essencial, habitação e alimentação.”

Em abril, com a alta do petróleo, os combustíveis devem continuar pressionando a inflação: no mês, o preço da gasolina nas refinarias já subiu 5,61%. O preço do diesel está represado há duas semanas, segundo a nova política de preços da Petrobras, que estipula prazo mínimo de 15 dias entre reajustes.