Na arena de interação política a plataforma digital WhatsApp, por meio da qual circulam informações, fake news e memes em múltiplos grupos fechados tem se destacado e sobrepujado  as redes sociais presenciais, compostas pela família, amigos, colegas de trabalho, e algumas vezes – não todas, o engajamento neste setor é absurdamente crescente – nas igrejas.

Isso tem acontecido porque o WhatsApp favorece uma interatividade mais instantânea, e permite agregar aqueles que “pensam como nós”, o que tem sido preferível às relações pessoais, pois nestas a argumentação precisa muitas vezes ser utilizada já que nem todos tem as mesmas opiniões; e perdemos assim uma boa chance de crescimento e maturidade.

Não por coincidência, políticos e partidos tem se esforçado para alcançar pessoas através desse meio, principalmente em período eleitoral, para colocar-se em contato com apoiadores e parcela significativa da população e deslegitimar adversários, tentando aumentar sua rejeição. Para isso, vídeos falsos, informações fora do contexto, tudo é usado para colocar em suspeição as informações dos grandes meios de comunicação, desacreditando jornais e jornalistas sérios que pesquisam muito para fornecer suas notícias, e apenas dar crédito às informações vindas das redes fechadas e ancoradas em relações de confiança e proximidade.

Isso contamina todas as relações interpessoais cotidianas, a vida familiar, os laços com vizinhos e colegas de trabalho, pois faz com que pessoas participem pouco da vida política do país e pouco saibam sobre candidatos. A preocupação vai de escândalo em escândalo, criados exatamente para manter determinados nomes em evidência ou criar sombra para algo que não se deseja discutir, por falta de justificativas racionais.

Desta forma grande parte das pessoas normalmente tem como fonte alternativa de informação apenas canais de TV abertos, muitos deles recomendadas por dirigentes religiosos em nome da “moral e bons costumes”, que apenas legitima alguma narrativa política; não vivenciam uma rotina de informar-se mas normalmente estão sofrendo os efeitos concretos das ações dos governos, com alta inflação, dificuldade de acesso ao bom atendimento na saúde pública, segurança deficitária. No entanto, unicamente a corrupção – sempre praticada pelos outros – e a agenda de costumes, já que os demais tem a religião errada ou a opção existencial incorreta, os mobiliza.

A desconsideração por um processo educativo mais completo e formal tornou-se muito comum, a “sabedoria das ruas” é considerada suficiente, a cultura e o conhecimento mais aprofundado são vistos como supérfluos e talvez até sinal de falta de esperteza. O abandono da área educacional tem sido imenso, o setor sofre com falta de investimento, valorização e até desmandos absurdos nas mãos de pessoas inescrupulosas que nada entendem especificamente sobre educação, e nem sequer a consideram essencial.

Assim vamos dilapidando nosso já pequeno capital cultural, embrutecendo e muitas vezes nos tornando violentos, piorando nossas formas de comunicação e restringindo nosso vocabulário aos palavrões.

A decadência do ensino, em que pese a dedicação de muitos professores e pais atenciosos e preocupados é visível em todos os níveis, pois do básico ao superior houve abandono de programas e projetos, carência de investimentos mínimos, o olhar atento às necessidades não tem se manifestado.

Desordens são diárias, até barras de ouro e divulgações indevidas existem aos magotes, e a única preocupação parece ser uma teórica “doutrinação” que professores fariam – possivelmente, da parte de quem estudou quase nada e tem portanto poucas luzes, existe confusão entre entendimento de contextos e a tal doutrinação. Para um docente digno deste nome, a compreensão de textos e subtextos é essencial em qualquer disciplina, interpretar o mundo em suas variadas culturas e formas é indispensável para a maturidade. Assim, embora claro existam algumas exceções que são inevitáveis em toda atividade, de forma geral professores são julgados e condenados apenas por cumprirem suas obrigações.

Anda difícil trabalhar com educação – como em várias outras áreas num país que aparentemente está perdendo o senso da realidade.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.