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O isolamento social também obrigou a atriz Ingrid Guimarães a rever a forma de produção de seu programa Além da Conta. Agora permanecendo em casa, assim como seus entrevistados, Ingrid apresenta um novo formato, Além da Conta #Confinados, que vai ao ar às terças-feiras, no canal por assinatura GNT. Como já acontece em outros programas, a atriz se conecta diretamente com seus convidados para saber sobre as mudanças de comportamento no momento de pandemia.

Na estreia, nesta semana, Ingrid conversou com a atriz Claudia Raia, o padre Fábio de Melo e o advogado Joel Luís Costa, que vive na comunidade do Jacarezinho, no Rio. De um maneira geral, falaram sobre amizade e solidariedade durante a fase de confinamento. Em um total de cinco episódios, Ingrid vai se conectar ainda com Larissa Manoela, Anitta, Antônio Fagundes, Babu Santana e Paulo Gustavo, para debater temas como trabalho em home office; as dores e as delícias de um confinamento em família; formas de se divertir e se entreter em casa; amor e sexo no isolamento.

A atriz pretende ouvir também especialistas de diversas áreas que a ajudem a investigar os excessos de comportamento em tempos de distanciamento social, momento em que a tecnologia é a principal forma de interação com as pessoas e com o mundo. “Será uma mistura de humor com informação, usar a leveza para se refletir sobre o que estamos vivendo hoje”, conta Ingrid, que conversou com o Estadão por e-mail. A graça, aliás, em um momento em que acontecem tantas mortes provocada pelo novo coronavírus, é comedida: “A gente pensava e repensava cada frase”.

O programa é oportuno por trazer histórias interessantes. Padre Fábio de Melo, por exemplo, confessou ser um “arroz de lives”, ou seja, entra como convidado nas apresentações de outros, especialmente de músicos, como Anitta. Contou ainda que decidiu celebrar uma missa semanal de sua casa, uma vez que os fiéis não podem ainda frequentar igrejas. “Percebi que muitas pessoas desejavam realizar uma missa de sétimo dia por entes queridos que morreram, especialmente pelo coronavírus”, conta. “Assim, sempre leio os nomes das intenções daquela celebração.”

Em casa, com o marido, o também ator Jarbas Homem de Mello, Cláudia Raia contou que cria diversos programas para ocupar o tempo – especialmente com exercícios físicos, que realiza na área externa de seu edifício. “Fico muito atenta aos amigos e parentes que, em um determinado momento, ficam desanimados. Sempre fui assim: se precisar, levo um pratinho de sopa de madrugada para acolher alguém”, disse.

Uma das figuras recordistas de bilheteria do cinema nacional, Ingrid aproveitou um apartamento desocupado ao lado do seu para montar um miniestúdio, de onde dirige, controla e edita os programas, ao lado de uma equipe reduzida, a maioria trabalhando remotamente – e dependendo do humor da rede de Wi-Fi. Acompanhe a entrevista.

Qual foi a maneira mais criativa e original de trabalhar que você descobriu ou ouviu falar?

A direção remota. No meu caso, era um diretor na Flórida, e dois em Nova York. E a autora no Rio. A gente ia tendo ideias em tempo real, todo mundo junto. Coisa que talvez fosse impossível com a vida corrida lá fora. Com menos recurso técnico, a gente acaba também ficando mais criativo.

Você acredita que essa forma de comunicação via internet favorece os tímidos, na medida em que não precisam aparecer?

Por um lado sim, mas tem gente que odeia falar para a câmera, tem gente que não gosta de se ver, que tem dificuldade com live. Minha mãe, por exemplo, é uma superadvogada, mas é de uma geração que não está acostumada a trabalhar através de um celular. Tem que se adaptar. Ao mesmo tempo, ao entrevistar as pessoas famosas, senti um tempo e uma disponibilidade maior, já que todos estão em casa.

Os sentimentos se acentuaram com o isolamento social?

Muito. Minha filha fala que não aguenta mais me ver chorar com tudo. Com as coisas boas e ruins. Estamos todos muito intensos, à flor da pele. Quem tem um mínimo de empatia e informação vive nesse carrossel de emoções. São muitas coisas mudando, muitas mortes, muita solidariedade, medos, esperança, insegurança, acolhimentos, tudo de uma vez.

Também a forma de encarar a morte mudou?

Eu tenho muita angústia de quem encara morte como número, de quem compara tragédia. Morte é morte. É aquela coisa… Sempre alguém está perdendo um amor. Todas me mobilizam e a gente só fica esperando que chegue perto da gente.

De que forma o humor pode ajudar neste momento? Há algum limite, uma vez que muita gente está morrendo?

Foi bem delicado fazer humor nesse momento. A gente pensava e repensava cada frase. Ao mesmo tempo em que se tem que ficar atenta para não desrespeitar quem está sofrendo, trazer um pouco de leveza nessa hora é essencial. Minha técnica é sempre rir de mim mesma antes.

E você, como tem enfrentado o isolamento social?

Muito bem, na medida do possível. Sou do grupo megaprivilegiado, então eu não reclamo. Estou tentando me manter ativa fisicamente e mentalmente. Malho, escrevo, vejo séries, fico com minha filha e cuido da casa. Às vezes, não faço nada. É hora de ser gentil com a gente e ajudar o outro. Já acordo pensando em quem posso ajudar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.