O Irã desativou nesta segunda-feira as cascatas das centrífugas da usina nuclear de Natanz, usadas para enriquecer urânio a 20%, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia (UE) suspenderam parcialmente as sanções impostas à república islâmica. Tais medidas marcam o início da implementação prática do acordo assinado no fim do ano passado entre o Irã e o grupo de seis potências formado por Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia para aplacar as preocupações com relação aos rumos do programa nuclear iraniano.

Com o desligamento das cascatas e a suspensão parcial das sanções, começa agora um período de seis meses durante o qual Teerã e as seis potências buscarão um acordo definitivo sobre o assunto. Enquanto transcorrerem as negociações, o programa nuclear iraniano seguirá com suas operações limitadas em troca da liberação de bilhões de dólares com os quais Teerã pretende começar a recuperar-se economicamente.

Horas depois de a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), ter confirmado o desligamento das centrífugas, a UE e os EUA levantaram parte de suas sanções contra o Irã.

A suspensão parcial das sanções da UE pelos próximos seis meses foi aprovada hoje durante reunião de chanceleres da UE em Bruxelas. A decisão entrará em vigor assim que for registrada em ata, o que deve acontecer ainda hoje, segundo uma fonte no bloco.

Ao término da reunião, o secretário de Exterior do Reino Unido, William Hague, qualificou “um marco importante” o acordo obtido no fim do ano passado em torno do futuro do programa nuclear iraniano.

Em Washington, a Casa Branca anunciou que os EUA vão começar a aliviar as sanções econômicas ao Irã depois de Teerã ter paralisado os trabalhos da parte mais sensível de seu programa de energia nuclear. Ao mesmo tempo, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, acrescentou por meio de nota que Washington vai continuar a defender agressivamente as sanções que permanecerão em vigor.

Segundo a emissora de televisão estatal iraniana, autoridades interromperam o enriquecimento de urânio a 20% ao desconectarem as cascatas de centrífugas de enriquecimento de urânio em Natanz.

“A produção de urânio a 20% foi interrompida com o corte das ligações que alimentam as cascatas nesta instalação”, informou a emissora.

Segundo a emissora estatal iraniana, inspetores internacionais estiveram presentes no desligamento das cascatas. A informação foi confirmada pouco depois pela AIEA.

Também nesta segunda-feira, a agência oficial de notícias Irna informou que o Irã começa a converter parte de seus estoques de urânio a 20% em óxido para produzir combustível nuclear.

As medidas tem como objetivo aplacar os temores do Ocidente a respeito do programa nuclear iraniano. Graduados funcionários do governo Barack Obama calculam que, em troca, o alívio das sanções chegue a cerca de US$ 7 bilhões, dos estimados US$ 100 bilhões de ativos iranianos bloqueados em bancos estrangeiros. Teerã deve receber a primeira parcela de US$ 550 milhões, dos US$ 4,2 bilhões em ativos bloqueados no exterior, em 1º de fevereiro.

Pelo acordo histórico, o Irã concordou em interromper seu programa de enriquecimento de urânio a 20%, mas continuará a enriquecer o material a 5%. O país também concordou em converter metade de seus estoques de urânio a 20% para óxido e a diluir o restante do estoque para 5% no período de seis meses.

Além dessas medidas, pelo o acordo provisório de seis meses, o Irã tem de abrir seu programa nuclear para uma inspeções internacionais mais abrangentes e fornecer mais detalhes sobre suas atividades e instalações nucleares.

Em troca, o país não será alvo de novas sanções e verá o alívio das já existentes. Medidas contra produtos petroquímicos, ouro e outros metais preciosos, conta a indústria automobilística, peças para aviões de passageiros e serviços serão levantadas imediatamente. O acordo de Genebra permite que o Irã continue a exportar petróleo bruto no nível atual, que é de cerca de 1 milhão de barris por dia.

O início prático da implementação do acordo, porém, não agradou a todos. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alegou que o acordo internacional para interromper o programa nuclear iraniano não vai impedir Teerã de buscar a capacidade para o uso militar da energia atômica.

“O acordo interino, que passou a valer hoje, não impede o Irã de realizar sua intenção de desenvolver armas nucleares”, afirmou Netanyahu, em sessão especial do Parlamento. “Este objetivo ainda está diante de nós.”

O Irã nega que busque desenvolver armas nucleares e assegura que suas usinas atômicas têm fins estritamente pacíficos de geração de energia elétrica e pesquisa de isótopos medicinais. Fontes: Associated Press e Dow Jones Newswires.