O julgamento do grupo de skinheads que espancou duas pessoas na Praça Osório, Centro de Curitiba, em setembro de 2005, começou nesta manhã de quinta-feira, 1º. Os crimes, cometidos há 14 anos, foram justificados pelos réus porque as vítimas eram um negro e um homossexual. As vítimas não se conheciam até então e as agressões teriam acontecido com cerca de duas horas de diferença entre elas.

Na época, o grupo espalhou pela região central da Capital vários cartazes de exaltação à raça branca. “Há um vasto material apreendido que comprova que todos os acusados eram skinheads neonazistas, que pregavam a ideologia imposta na Alemanha na década de 1930. E, na ocasião, eles tinham essa doutrina que prega o racismo contra negros e judeus, a homofobia e preconceito contra pessoas com deficiência”, explicou o promotor Lucas Cavini Leonardi.

Entre os oito denunciados, todos respondem por associação criminosa e crime de racismo.

Hoje com 33 anos, Willian é a única das duas vítimas que ainda está viva, mas sofre com as consequências das agressões. Entre elas, estão problemas para falar e o uso de medicamentos controlados por anos. Ele deve ser uma das primeiras pessoas ouvidas no júri desta quinta.

O grupo Dignidade divulgou uma nota sobre o julgamento dos crimes na qual afirma ser inadmissível toda e qualquer forma de preconceito. Reitera, em nota, que espera que o caso tenha um resultado exemplar, com a punição dos réus.

Leia a nota na íntegra.

O Grupo Dignidade é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos. Foi fundado em 1992 em Curitiba, sendo pioneiro no Paraná por ser o primeiro grupo organizado no estado a atuar na área da promoção da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTI+).

Diante do julgamento marcado para esta quinta-feira, dia 1 de agosto de 2019, referente aos autos do processo 0007414-38.2013.8.16.0013, em trâmite na 1ª Vara Plenário do Tribunal do Júri de Curitiba, em que consta como réus indivíduos identificados como skinheads, que, no dia 18 de setembro de 2005, atentaram contra a vida de pessoas e espalharam nas rua de Curitiba cartazes ofensivos a pessoas negras, homossexuais e judeus, o Grupo Dignidade vem a público se manifestar nos seguintes termos:
É inadmissível toda e qualquer forma de preconceito. O que nos iguala entre todos os seres humanos é justamente a diferença. A diversidade se manifesta entre o alto e o baixo, o gordo e o magro, o branco e o negro, o hétero e o LGBTI, o religioso e o ateu. E é sob este contexto que a nossa Constituição Federal ergueu a dignidade da pessoa humana como valor base da República, e como um dos objetivos fundamentais do Brasil a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Desse modo, o Grupo Dignidade, entidade que acompanha desde o início este caso que finalmente vai a julgamento, espera que o resultado seja exemplar. A sociedade brasileira não tolera mais manifestações de preconceito, ainda mais quando resulta em agressões com clara intenção homicida. O repúdio a tais práticas se dá, ainda, em face de todas as formas de expressão do machismo, racismo, xenofobia, LGBTIfobia ou quaisquer outras práticas delituosas.
Aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal, reafirmou quando do julgamento em conjunto da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 e do Mandado de Injunção nº 4.733, que “conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura social”.
Assim, em tempos em que acreditamos que o amor deve vencer o ódio e, neste ponto, que a justiça criminal pode ser uma aliada, esperamos que as pessoas acusadas sejam condenadas no rigor da Lei, e que tais condenações sirvam de exemplo para toda minoria social que insiste no preconceito, de que a sociedade não mais tolera qualquer forma de discriminação.