Vindo do sucesso Assunto de Família, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado ao Oscar de filme em língua estrangeira, o cineasta japonês Hirokazu Kore-eda explora mares que nunca antes navegou em La Vérité (“a verdade”, na tradução livre), sua primeira produção fora de seu país de origem e falada em língua que não o japonês.

Mas o filme, que abriu o 76º Festival de Veneza na noite de ontem e é estrelado por Catherine Deneuve, no papel da famosa atriz Fabienne, e Juliette Binoche, como sua filha Lumir, não começou assim.

“Era para ser uma peça de teatro sobre uma atriz em fim de carreira, passada inteiramente no camarim”, explicou o diretor na entrevista que se seguiu à sessão de imprensa. “O que mudou tudo foi Juliette Binoche.” A atriz teve um encontro com ele em 2011, no Japão. “Com o tempo, desenvolvi a história da relação da mãe e da filha e vi que seria melhor rodar na França. Para isso, precisava reunir atrizes que eram símbolos da história do cinema francês”, afirmou o diretor.

Binoche queria ser dirigida por Kore-eda fazia mais de 10 anos. “Trabalhar neste filme foi a realização de todos os meus sonhos. Não só filmei com um diretor que admirava, como tive chance de atuar com Catherine Deneuve, com quem nunca tinha contracenado”, disse Binoche.

Sua personagem, Lumir, uma roteirista que mora nos Estados Unidos, faz uma visita-surpresa para a mãe com o marido, Hank (Ethan Hawke), um ator de pouco sucesso, e a pequena Charlotte (Clémentine Grenier), supostamente para comemorar o lançamento da autobiografia de Fabienne. Só que a visita vira confronto quando Lumir lê o livro e percebe que a mãe floreou algumas passagens. A memória de Lumir não é a mesma – mas, como diz um dos diálogos, pode-se confiar nela? O filme trata também do envelhecimento e do medo de perder a carreira pela qual Fabienne deu sua vida.