SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Investigação realizada pela Perícia Forense do Ceará aponta que havia excesso de peso e distribuição irregular de participantes na boia do parque aquático Beach Park durante o acidente que matou o radialista Ricardo José Hilário Silva, 43.

O acidente aconteceu em julho deste ano. Na ocasião, Ricardo e outras três pessoas estavam no brinquedo Vainkará, que havia sido inaugurado havia menos de uma semana como uma das novidades do parque. Durante a descida no toboágua, a boia virou no final do percurso e o radialista bateu a cabeça no chão do brinquedo.

Ele chegou a receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Conhecido como Ricardo Hill, o radialista morava em Sorocaba e trabalhava na rádio Nova Brasil FM de São Paulo.

O laudo pericial aponta que o peso somado das quatro pessoas que podem descer simultaneamente no toboágua deveria ser de no máximo 320 quilos, conforme indicado na própria placa que fica junto ao brinquedo.

Contudo, no momento do acidente, o peso de Ricardo e das outras três pessoas que brincavam no Vainkará chegava a 390 quilos. O Beach Park não adotou nenhum procedimento para pesar os participantes antes de entrarem no toboágua.

O laudo também aponta que a distribuição das pessoas no brinquedo deveria ser feita de forma intercalada: a pessoa mais pesada deveria ficar de frente com outra de peso semelhante e a pessoa mais leve de frente para outra também leve.

Os peritos ainda apontam que o brinquedo segue a mesma trajetória independentemente de qualquer movimento feito por um dos participantes e que estes não têm capacidade de intervir na dinâmica da descida.

Mesmo apontando elementos como excesso de peso e distribuição irregular dos participantes na boia, o laudo não é contundente em apontar esses fatores como causas do acidente.

Os peritos informam que o laudo é inconclusivo por não conter a análise do projeto do brinquedo Vainkará, que não foi enviado pelo fabricante, a empresa ProSlide.

Em nota, a secretaria de Segurança do Ceará informou que a Delegacia de Proteção ao Turista, responsável pelo inquérito, intimou a empresa fabricante a apresentar a documentação necessária para conclusão do inquérito policial.

O advogado da família do radialista Ricardo Hill, João Vicente Leitão, disse à Folha que a defesa contratará um perito para analisar e fazer uma tradução técnica do laudo feito pela Perícia Forense.

Mas defende que o documento é claro ao apontar que havia excesso de peso, distribuição irregular e que os participantes não tinham como alterar a trajetória da boia.

“Não houve nenhuma interferência dos usuários do brinquedo nas causas do acidente”, afirma o advogado.

Em nota, o Beach Park ressalta o teor inconclusivo do laudo e defende que o peso em cima da boia não é fator determinante na trajetória da boia no toboágua.

A empresa informou que realizou diversos testes no período posterior ao acidente e que estes apontaram que o peso não é fator de risco. Destacou ainda que, caso o peso fosse fator de risco, o fabricante seria obrigado a indicar, no manual de operações, equipamento determinado para a medição do peso durante a operação.

O Beach Park ainda informa que os testes mostraram uma descida irregular e instável mesmo com pesos de 320 kg e 310 kg, “o que pode revelar a existência de falhas estruturais, de projeto, ainda não explicadas pela fabricante ProSlide nem investigadas pela perícia oficial”.

A reportagem não conseguiu contato com a ProSlide, empresa que tem sede nos Estados Unidos. Na época do acidente, a empresa informou que este foi o primeiro acidente fatal registrado em um brinquedo fabricado pela empresa, que atua neste segmento desde 1986.

Também informou que o brinquedo é fabricado pela empresa desde 2011 e outros 44 parques aquáticos têm equipamentos semelhantes sem registro de acidentes.

De acordo com o Beach Park, o brinquedo Vainkará permanecerá fechado por tempo indeterminado e o acidente servirá de “base para melhorias de procedimentos em todas as áreas da empresa”.