Desde 2014 com preocupante frequência temos assistido as dezenas de fases da Operação Lava Jato, deflagradas quase que semanalmente expondo uma corrupção podre, rasteira, com envolvimento da mais alta cúpula da classe política. Já não há mais oposição e situação: os maiores partidos estão no epicentro do escândalo.
A Lava Jato é um divisor de águas na história do país – considerada a maior operação policial contra a corrupção ganhou, inclusive, as telonas do cinema. E das poltronas assistimos com detalhes que a Lava Jato começou mirando doleiros e chegou ao topo da República. Mas não foi tão por acaso assim. A partir de exaustivas horas de delações premiadas, dando detalhes de operações escusas, chegou-se ao Executivo e ao Congresso Nacional – e já há indicativos de que membros do Judiciário também serão alvos. Novamente: não foi tão por acaso assim.
A partir destas colaborações premiadas originaram-se centenas de filhotes. São inquéritos que tramitam em sigilo por praticamente todos os estados da federação e baseiam novas operações da PF. Carne Fraca, que teve sua terceira fase nesta semana, e a Integração, são as provas mais próximas de nós paranaenses. Virão outras, acredite. E a partir daqui, após o introdutório necessário, começo a responder o que a Lava Jato, Integração e Carne Fraca têm em comum?
Agentes e delegados da PF do Paraná, assim como procuradores da República, adquiriram uma expertise quando o assunto é rastrear dinheiro. Claro que respaldados por juízes federais com extremo conhecimento de causa. E é justamente ao investigar estes filhotes da Lava Jato que esta especialização é colocada em prática.
Perceba, leitor, que o modus operandi das investigações tem se repetido. Foi assim na Lava Jato, na Carne Fraca e na Integração. Nas primeiras fases os alvos são empresas, seus funcionários e agentes públicos. A classe política é deixada de lado. Por ora, nem é bom que eles apareçam para que não se perca a competência do juiz de 1 grau.
Depois de buscas e apreensões, de prisões bem fundamentadas, que acabam por ser corroboradas em instâncias superiores, e depoimentos dos agentes públicos, muitas em delação, a investigação, quase que naturalmente, chega à classe política. E a partir daí nada mais segura o desdobramento da investigação. Desvenda-se o que já há tempos é sabido: a classe política indica pessoas para cargos chaves com o intuito de desviar recursos que financiam os partidos políticos no período eleitoral e também contas bancárias fora do país.
Na contramão desta estratégia, tivemos a Satiagraha, a Castelo de Areia ou a Boi Barrica – grandes operações da PF que acabaram soterradas por decisões judicias. Essas três investigavam, respectivamente, o banqueiro Daniel Dantas, empreiteiras como a Camargo Corrêa, e a família Sarney. Em comum: todas chegaram muito perto da classe política, mas acabaram nulas.
A nulidade não será o mesmo destino da Lava Jato, Integração e Carne Fraca. Arrisco-me aqui a fazer um prognóstico delas, com base, claro, em horas de conversas com pessoas próximas às investigações. O recado é claro: a Carne Fraca vai chegar a importantes nomes do PMDB. Serão descortinadas as verdadeiras intenções de indicações políticas para cargos do Ministério da Agricultura e um esquema de desvio de recursos para políticos. A Integração, a mais recente de todas, vai alcançar os porões das negociatas feitas para assinar e manter alguns dos contratos assinados com as pedageiras que atuam no Paraná. E, sem medo de errar, vai também chegar à classe política. E por fim e não menos importante, a Lava Jato. Bom, essa pela infinidade de filhotes é improvável traçar seu destino. Prova disso é a quebra de sigilo das contas do presidente Michel Temer (PMDB). Sem dúvida é a que terá a maior longevidade e vai devassar outras estatais, governos e contratos. É aguardar para ver.