SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que faz Lenny Niemeyer ser uma das estilistas de moda praia mais festejadas é sua capacidade de desafiar a aparente falta de novidades do seu segmento. Ela consegue não restringir suas ideias a biquínis, maiôs ou saídas de banho, como provou no desfile armado na Pinacoteca de São Paulo, no centro, que fundiu o universo do “beachwear” com a arte contemporânea.


No segundo dia de São Paulo Fashion Week, as instalações do artista carioca Ernesto Neto, que tem retrospectiva em cartaz no museu, pareciam extensões dos tricôs de ráfia transformados em capas e das linhas sinuosas das peças de um ombro só.


Inspirada num mapa da América do Sul que pertenceu a seu pai, Niemeyer conduz uma viagem pela flora brasileira, pela floresta e pelo semiárido em cores ora neutras como um papel envelhecido, ora berrantes como o mar e as flores, aqui aquareladas em vestidos e maiôs com estrutura de seda.


Afiada em modelagem, ela cria peças nas quais as costas parecem saltar como águas-vivas, leves e translúcidas no emaranhado de cor e costura.


As paredes de tijolos aparentes faziam par com o bloco de peças de cartela crua, borrada por tons e linhas marrons, ao passo que o verde, o laranja e o rosa da obra tecida Cura Bra Cura Té, disposta por todo o octógono da Pinacoteca, combinava com os blocos de vestidos neon com barras drapeadas.


Esse aspecto rústico, manual, foi expresso também na seleção de joias de ouro, que caíam pelos colos e orelhas como gravetos secos, brutos, cuja geometria linear contrastava com as modelagens onduladas das roupas.


Sutil e extremamente elegante, a coleção de Lenny Niemeyer eleva a moda praia ao patamar de prêt-à-porter plástico, de obra de arte vestível para praias tão exclusivas e desconhecidas como os clientes que podem pagar por ela.