SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os embates entre petistas e tucanos que agitaram a política brasileira por mais de duas décadas parecem danças de salão se comparados com o tumulto observado nos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro (PSL).

Mas dois economistas que raramente perdem a chance de participar dessas polêmicas acham que elas são essenciais para entender a crise que o Brasil atravessa e acabam de reunir num livro uma amostra das controvérsias em que se envolveram nos últimos anos.

Organizado por Marcos Lisboa, presidente do Insper, e Samuel Pessôa, professor da Fundação Getulio Vargas, ambos colunistas do jornal Folha de S.Paulo, “O Valor das Ideias: Debate em Tempos Turbulentos” é composto por 23 artigos que eles e outros 11 autores escreveram sobre a política econômica e a história recente do país.

O volume inclui textos do ex-prefeito Fernando Haddad, que disputou pelo PT a eleição presidencial do ano passado e estreou como colunista da Folha de S.Paulo neste mês, do filósofo Ruy Fausto, da Universidade de São Paulo, do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, e dos colunistas da Folha de S.Paulo Celso Rocha de Barros e Marcelo Coelho, entre outros.

A primeira parte faz um balanço de erros e acertos dos governos liderados pelo PT e pelo PSDB, a partir de um ensaio escrito por Ruy Fausto pouco depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e do diálogo que ele estabeleceu com Pessôa numa série de artigos nos meses seguintes.

Na segunda parte, Haddad e Lisboa discutem as diferenças entre as políticas adotadas pelos tucanos no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e pelos petistas com Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma (2011-2016).

Para Haddad, o avanço das políticas sociais no período em que o PT esteve no poder foi expressão de uma ruptura com o legado dos tucanos. Mas Lisboa, que trabalhou no Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula, acha que houve mais continuidade entre as gestões de FHC e Lula do que os petistas admitem.

Lisboa e Pessôa atribuem os bons resultados alcançados por Lula ao compromisso que assumiu no início de seu governo com a estabilidade da moeda e o controle dos gastos públicos e associam os problemas enfrentados pela economia até hoje à guinada intervencionista que ele e Dilma promoveram depois.

Para Lisboa, a discussão ajuda a refletir sobre as dificuldades que o país encontra para se recuperar da profunda recessão de 2014-16 e escapar da estagnação econômica. “O atual governo tem um discurso liberal, mas não tem uma agenda estruturada para enfrentar os problemas”, afirma.

“As questões que afastaram petistas e tucanos nos últimos anos estão presentes nos debates de hoje, como na discussão da reforma da Previdência”, diz Pessôa, que foi assessor do PSDB no Senado.

Na terceira parte do livro, Celso Rocha de Barros, Lisboa e Pessôa discutem o afastamento de petistas e tucanos e as origens da crise que levou ao impeachment. O livro termina com textos em que Lisboa e Pessôa debatem suas diferenças com o pensamento dos economistas heterodoxos.

Afinados com o liberalismo e vinculados a escolas de linha ortodoxa, Lisboa e Pessoa estão escrevendo a quatro mãos um livro sobre o desenvolvimento econômico brasileiro desde o século 20, ainda sem data prevista para publicação.

Quase todos os artigos do volume que eles lançaram agora foram publicados antes pela Folha de S.Paulo, na revista piauí e no blog do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.

O Valor das Ideias: Debate em Tempos Turbulentos

Organizadores: Marcos Lisboa e Samuel Pessôa

Editora: Companhia das Letras

Quanto: R$ 79,90 (464 págs.)