Paulo Maluf é um experiente político. O primeiro cargo público remete a 1969, quando assumiu a presidência da Caixa Econômica Federal (CEF). Após passagem pela prefeitura e governo de São Paulo foi carimbado com o bordão rouba, mas faz. Ele mesmo, quando confrontado com o slogan que o marcou, rebatia sem negar a acusação: Nunca levei vantagem. A fama tem como origem a corrupção — o pior e mais atual momento político que o país atravessa. Maluf está envolvido numa série de escândalos – alguns deles a Justiça já o declarou inocente, mas ele ainda corre risco de ser preso, mesmo que domiciliar por causa da avançada idade: 86 anos.
Maluf me veio a mente depois que o Ibope divulgou uma pesquisa de intenção de voto para a presidência da República em 2018. Pouco mais de 2.000 eleitores foram ouvidos e, na pesquisa estimulada, os candidatos mais citados foram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 35%, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), com 13%. Pois é. Lula e Bolsonaro. Quando o eleitor brasileiro indica Lula e Bolsonaro como os dois principais presidenciáveis para assumir o Brasil pelos próximos quatro anos, revela, mesmo com a amostragem, que existe uma extrema polarização.
O resultado que traz Lula na dianteira foi percebido também em outras sondagens. E aí a associação entre o petista e Maluf me foi imediata. Lula está no epicentro dos maiores escândalos políticos dos últimos 20 anos. Foi condenado a quase 10 anos de cadeia e recorre em liberdade até decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF). É citado constantemente em delações premiadas, tanto de executivos da Petrobras, quanto de empreiteiros e políticos – até mesmo de eternos companheiros.
Do lado de Lula, é preciso ressaltar os já esperados 20% que a militância petista carrega para as urnas. E, pelo menos no ninho petista, o ex-presidente ainda é rei. Apesar de todas as suspeitas que recaem sobre ele, principalmente na Lava Jato, é preciso reconhecer os avanços que Lula trouxe para o país – principalmente para os mais necessitados. Claro, teve a seu favor o crescimento econômico plantado lá em 1994 pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) com o plano real, mas Lula teve a sapiência de olhar para os pobres. Por outro lado, escorregou feio ao trair a confiança dos eleitores quando montou ou participou da montagem de um plano de poder do PT. O Mensalão e o Petrolão, investigado na Lava Jato, fazer parte desta estratégia de poder.
Do outro lado, o voto em Bolsonaro é a absoluta revolta do eleitor farto de tanta corrupção. Mesmo sem ter a certeza que o candidato não vai incorrer no mesmo erro de tantos outros que ao passar pelo Palácio do Planalto colocaram a mão no jarro. Bolsonaro não tem grupo político, é extremista e conservador. Não pense, por exemplo, numa política de inclusão de gays ou de defesa dos direitos das mulheres – dos presos, nem pensar. Esse discurso radical encontra eco justamente na camada de eleitores insatisfeitas com o momento que a política brasileira atravessa. Haveria um grande retrocesso. A economia torce o nariz para Bolsonaro e sua eleição seria similiar, talvez mais danosa, a de Donald Trump nos Estados Unidos.
Diante deste cenário polarizado, entre Lula e Bolsonaro, os eleitores do país carecem urgentemente de uma terceira, quarta e até quinta via. É preciso oxigenar a política do país mesmo estando intrinsicamente ligada ao sistema corrupto que comanda o Brasil. O empresário João Dória (PSDB), prefeito de São Paulo, já colocou o bico para fora, mas os velhos tucanos trataram de colocá-lo de volta no ninho.
A falta de opções, de nomes, para tentar colocar o país no rumo é tão latente que até o apresentador de TV Luciano Huck tem acenado, por enquanto, com a vontade de participar da vida pública, não ainda como candidato. Ainda, ressalta-se. O mesmo Ibope indica que Huck e Dória, juntos, teriam 9% das intenções de voto. Não fariam, por ora, nem cócegas em Lula.
Como dizem os cientistas políticos, pesquisa eleitoral é uma foto do momento. Ou seja, diante dos nomes hoje disponíveis para a presidência da República Lula e Bolsonaro são os mais lembrados. Mas arrisco a dizer que até a eleição os dois se mostrarão candidatos inviáveis para realizar a mudança que o povo brasileiro espera.