As últimas pesquisas de intenção de voto para a presidência da República trazem um questionamento inquietante: o ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba, vai conseguir transferir sua popularidade e seus votos para Fernando Haddad (PT), que assumiu a cabeça de chapa do PT na corrida pelo Palácio do Planalto? E esta transferência será suficiente para o PT emplacar o terceiro governo?
Em tempo, para esclarecer ao eleitor: o último Ibope divulgado no início desta semana traz Jair Bolsonaro (PSL) com 28% e Haddad com 22% — seguidos por Ciro Gomes (PDT) com 11%, Geraldo Alckmin (PSDB) com 8% e Marina Silva (REDE) com 5% — entre os melhores ranqueados. Os números do mesmo instituto de pesquisa mostram que em pouco mais de um mês Bolsonaro oscilou oito pontos positivamente e Haddad incríveis 18 pontos percentuais. É muita coisa em pouco tempo. E de fato, este crescimento tem nome e sobrenome: Luiz Inácio Lula da Silva. Verdade que trouxe também maior rejeição: Haddad aumentou 16% a taxa de rejeição, chegando a 30%. 
É preciso contextualizar. Haddad pontuava com um dígito no início da campanha, quando o PT ainda lutava para homologar a candidatura de Lula na disputa eleitoral – mesmo sabendo que seria infrutífera diante da legislação eleitoral. Tudo, na verdade, era uma estratégia bem arquitetada pelos petistas. Primeiro tentar fazer do ex-presidente, que está preso, uma vítima dos seus “tantos algozes” – entre eles Ministério Público Federal e todas as instâncias da Justiça Brasileira. A intenção era comover, primeiramente, a militância do PT, que estava órfã de Lula, e depois os eleitores. 
Passada esta etapa era hora de colocar Haddad em evidência – o que aconteceu no início dos programas eleitorais. E aí, observou-se que a estratégia vinha sendo esquadrinhada há mais tempo. A ponto de hoje percebemos que antes de ser preso e começar a cumprir pena de mais de 12 anos de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, Lula se preparou politicamente já de olho nesta campanha eleitoral. 
O crescimento de Haddad impressiona, mas pode estar muito próximo do teto. Assim como chama a atenção a musculatura da campanha de Bolsonaro com uma fidelidade eleitoral pouco vista considerando um candidato que detém menos de 10 segundos nos programas eleitorais e nunca disputou a presidência da República.
Se der segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, como indica o Ibope desta semana, estaremos diante de uma polarização jamais antes vista entre uma esquerda e direta radical. E talvez seja o que os dois lados desejassem num eventual segundo turno. Um tira-teima. As regras mudam. Ambos terão tempo igual de rádio e televisão. Estaremos diante de extremos. Da água e do óleo. 
E como se comportarão os candidatos que ficaram pelo primeiro turno? E os partidos do Centrão que estão sempre no poder, na base aliada, como vão se posicionar? O PT continuará sendo visto com tamanha ojeriza no ápice do escândalo que levou Lula para a prisão? 
Lula, por assim dizer, já tem experiência: elegeu e reelegeu Dilma Rousseff. Mas muito do seu capital político foi ceifado pela Lava Jato e a recente condenação e prisão. Resta saber se foi suficiente para eleger mais um presidente da República.
Sobre a pesquisa: Margem de erro: 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Entrevistados: 2.506 eleitores em 178 municípios. Quando a pesquisa foi feita: 22 e 23 de setembro. Registro no TSE: BR-06630/2018.