ESTELITA HASS CARAZZAI

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Depois de dias de afagos e elogios ao presidente Donald Trump, o francês Emmanuel Macron fez um incisivo discurso no Congresso americano nesta quarta-feira (25), último dia de sua visita aos EUA, em que falou da “ilusão do nacionalismo”, criticou os efeitos de uma guerra comercial, defendeu o Acordo de Paris sobre o Clima e pediu o envolvimento dos EUA em um novo multilateralismo.

“Pessoalmente, eu não compartilho da fascinação por novos grandes poderes, pelo abandono da liberdade e pela ilusão do nacionalismo”, declarou, sendo aplaudido de pé -por republicanos e democratas.

Trump foi eleito sob o bordão do “América Primeiro” e tem tomado medidas que priorizam os interesses dos EUA e distanciam o país de acordos e tratativas multilaterais.

“Nós podemos escolher o isolacionismo. Pode ser tentador como um remédio temporário para nossos medos. Mas fechar as portas não irá parar a evolução do mundo. Não podemos deixar a escalada do extremo nacionalismo abalar o mundo”, discursou.

Se nos dias anteriores o francês assinalara suas convergências com Trump, ao Congresso Macron destacou as diferenças.

O mandatário disse que uma eventual guerra comercial não é “a resposta apropriada” para lidar com desequilíbrios, e pediu a construção de soluções negociadas por meio de mecanismos como a OMC (Organização Mundial do Comércio).

“Nós escrevemos essas regras; nós devemos segui-las”, afirmou.

Macron ainda clamou que os EUA regulem os abusos do capitalismo e protejam a privacidade digital de seus cidadãos, em meio às discussões sobre vazamentos de dados do Facebook. Defendeu regulações financeiras para diminuir a especulação e proteger a classe média.

A proteção ao meio ambiente foi um dos temas mais incisivos -Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o Clima, e Macron defendeu o retorno do país ao pacto.

“Vamos encarar os fatos: não há Planeta B”, disse o francês, para os aplausos dos democratas -dessa vez, boa parte dos republicanos permaneceu sentado. “Precisamos fazer nosso planeta grande novamente”, afirmou, aludindo ao bordão de campanha de Trump.

Macron afirmou que “algumas pessoas pensam que proteger as atuais indústrias e empregos” é mais relevante do que fazer a transição para uma nova economia -sem fazer referência específica ao americano, que tomou medidas para preservar as indústrias de carvão, aço e alumínio nos EUA. 

“Pode ser que tenhamos discordâncias nesse ponto. Como em todas as famílias. Mas teremos que encarar a mesma realidade no futuro; precisamos trabalhar juntos”, disse.

Por fim, o presidente francês também urgiu os EUA a participarem da construção de uma “nova ordem global”, que fortaleça o multilateralismo, e disse que o envolvimento americano é “mais necessário do que nunca”.

“Os EUA foram os inventores do multilateralismo. Vocês são os que precisam ajudar a preservá-lo e a reinventá-lo”, afirmou Marcon,  ressaltando que França e EUA compartilham do mesmo apreço pela liberdade e pela democracia, e que são aliados de séculos. 

Sob o comando de Trump, os EUA têm esvaziado sua participação em organismos internacionais e reduzido a atuação diplomática pelo mundo.

Trump, que elogiara efusivamente Macron como um presidente que “elevaria a França a novas alturas”, não havia comentado o discurso do francês até o início desta tarde.