Divulgação/Assessoria de imprensa

A data é fevereiro de 2020 e faltam alguns dias para o aniversário dos meus filhos: 8 e 11 anos. Tudo preparado para a comemoração em um cinema: sala reservada, convites distribuídos, comes e bebes providenciados. Na TV e na internet as notícias referentes a “esse novo vírus” se multiplicam. China, Europa e Estados Unidos são os mais afetados.

A data é março de 2020 e se ampliam as notícias dos primeiros casos do coronavírus no Brasil. A apreensão e a incerteza aumentam em todos. O pensamento recorrente está em desmarcar a festa dos meninos. Vou ao trabalho como de costume e lá todos são informados: a partir de hoje, trabalharemos em home office por tempo indeterminado. Ao buscar os filhos na escola, foi dada a mesma orientação. Ao chegar em casa, as mães ligam e mandam mensagens desmarcando a presença no aniversário que, prontamente, também foi desmarcado por mim.

Assim teve início o meu novo normal, e para tantas mães e pais pelo Brasil. Março de 2020 foi um momento decisivo que mudou a rotina de todos. Novos termos e posturas precisaram ser tomadas, adaptadas e aprendidas. O ensino a distância e o ensino remoto, tão comum para mim – professora e pesquisadora na área desde 2007 – trouxe novos formatos, linguagens, iniciativas e perspectivas, que também necessitaram adaptações.

A preocupação com a saúde física e mental dos meus filhos, e a minha, se tornaram prioridade como nunca. Estar tranquilo e seguro, sentir-se amado e esperançoso superaram a entrega de tarefas imediatas ou a preocupação de acordar na hora certa. Somos uma equipe de afazeres domésticos e afetos.

Nesse cenário, o mundo começa a discutir o impacto da pandemia na vida dos pais. Na pesquisa nacional realizada pelo grupo Parent in Science, que obteve mais de 15 mil respostas, é reforçada a questão de gênero, apontando que as mulheres mães e as mulheres negras foram as mais prejudicadas em sua produtividade durante a pandemia. Os pesquisadores foram especialmente atingidos, principalmente mulheres: enquanto somente 70% das previsões de publicações de artigos científicos de homens foram cumpridas, o índice entre mulheres pesquisadoras foi de 50%, sendo o fator idade dos filhos um agravante, pois quanto menor a idade, menor o índice de produtividade dos responsáveis por eles.

No Reino Unindo, segundo reportagem publicada no jornal The Guardian, a editora do British Journal for the Philosophy of Science percebeu que o número de artigos enviados à publicação e feitos por mulheres havia caído drasticamente, o que não tem acontecido com os homens.

Sendo assim, neste Dia das Mães, gostaria de deixar um recado para todas as mães trabalhadoras como eu: o maior e melhor trabalho é este que vocês têm feito no dia a dia, mantendo os seus filhos e afetos saudáveis e à salvo. Porque isso sim é duradouro. Outro emprego pode vir, outras amizades também, outras oportunidades de sair, pessoas e lugares para conhecer surgirão, mas seus filhos e amores permanecerão. Eles são o futuro que o Brasil precisará para se reconstruir e se recompor quando isso tudo passar. Então, cuidem-se, mantenham-se felizes, com a saúde física, emocional e espiritual em dia. Porque muitos dependem das mães e mulheres, das nossas permanências e constâncias. Para que nosso futuro aconteça, é necessário que você se mantenha bem!

(*) Relly Amaral Ribeiro é Mestre em Serviço Social e Política Social pela Universidade Estadual de Londrina e Tutora dos cursos de pós-graduação em Serviço Social do Centro Universitário Internacional UNINTER