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Na última terça-feira, no calor da emoção de se saber campeã do Big Brother, de se saber a participante que mais ganhou seguidores nas redes sociais do programa, em meio à “obrigada meu Deus” e “prometo não decepcionar vocês”, Juliete gritou um improvável “Mãe, eu sou você”.

Esse foi, para mim, o momento mais marcante da final murcha de um programa que movimentou um tanto de gente. E aqui poderíamos gastar todos os parágrafos que nos restam discorrendo sobre uma série de temas caros à psicanálise. Dá pra escolher. Poderíamos falar de projeção, identificação, fixação, tem ‘ção’ de muito pra explorar. Tensão de muito.

Mas não quero não. Escolhi falar da dúvida. Quando imaginei o tema para esse texto, corri para rever os vídeos da fala de Juliete. Foi isso mesmo que ela disse? Spoiler: foi, precisamente. Disse com a certeza de quem, por um segundo, perdeu a censura diante da alegria da conquista. Disse com a mesma convicção que prometeu para a própria mãe, “eu vou fazer você sorrir”.

Meu movimento de checagem é, por um lado, o básico 1 de quem publica qualquer texto, ainda que seja uma linha no perfil pessoal de uma rede social. Ou pelo menos deveria ser, tem que checar. Mas é, por outro, resultado do fascínio de ouvir alguém dar palavra, em rede nacional, deixar sair de dentro um não lugar. Se eu sou você, eu não existo.

Nós todos, quando bebês, vivemos a sensação de sermos, com a mãe, uma coisa só. É importante que seja assim. Nós, como mães, voltamos a vivenciar – de outra forma, claro – essa simbiose com a chegada dos filhos.  O desenvolver da vida – o olhar dos nossos e nosso próprio olhar – vai dando conta de nos fazer inteiros, de nos fazer existentes.

Ontem foi dia das mães, nas redes de todos, ou quase todos, que acompanho, estavam as fotos e as falas direcionadas para mães ou filhos, o amor da certeza, as palavras que se repetem quase como o próspero que a gente usa como se fosse íntimo no ano novo e depois deixa guardado na gaveta até o outro dezembro. Eu gosto de ver esse movimento. É importante que seja assim. Crianças de pouca idade, que nem sequer estão na rede, homenageadas com afinco; mães com olhos fechados, cara de poucos amigos ou fora do foco. Ao lado deles, o dono do perfil, sempre lindo, dentes e olhos abertos na medida certa.

Há de deixar espaço para a dúvida, não? Se vivo por você e pra você, como dizem grande parte das mensagens do segundo domingo de maio, no limite, nem vivo. A edição das fotos que privilegia o dono do perfil parece maldade, mas é bom sinal. Dá notícias de um olhar para si. Não dá para prometer a ninguém a certeza de lhe fazer sorrir. Juliete não é a mãe. Ela é com a mãe e isso é bastante. Boa semana, queridos.

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