Ao longo dos meus 35 anos, já vivi inúmeros momentos marcantes. Meu casamento, o nascimento dos meus filhos gêmeos Lorena e Luca, as eleições de outubro de 2016 e o dia 6 de agosto de 2006. Essa data mudou a minha vida de forma irreversível e quando lembro não sou inundado por sentimentos diversos, de felicidade e de reflexão, como acontece quando lembro dos outros momentos que comentei.
No dia 6 de agosto de 2006, um senhor bêbado cruzou o carro que eu dirigia e, como reflexo para não atropelá-lo, desviei dele e acabei capotando. Quando cheguei no hospital já tinha perdido cinco litros de sangue e estava entre a vida e a morte. Sobrevivi graças a Deus. O fato de eu ter perdido meu antebraço esquerdo não significa nada se comparado ao fato de que eu poderia ter perdido minha vida ou ter atropelado aquele senhor.
Eu tinha 24 anos, estava prestes a me formar em Direito e a força que as pessoas ao meu redor me deram foi fundamental para superar aquele momento. Minha família e meus amigos, apesar de todo o sofrimento que também estavam sentindo, conseguiram transmitir o apoio que eu precisava.
A partir daquele dia eu me tornei uma pessoa com deficiência, como muitas outras vítimas de acidentes de trânsito.
É impressionante como, em um piscar de olhos, a vida da gente pode mudar. Algumas vezes, num átimo de tempo, tudo pode ser esvair, os nossos sonhos e a perspectiva de um futuro próspero, tudo pode acabar. Esse acidente foi extremamente traumático para mim e para minha família e apesar de já fazer quase 12 anos, é um fato que muitos ainda não conhecem e do qual nunca fiz questão de dar publicidade excessiva. Mas, diante da mobilização que tenho visto do Maio Amarelo, senti a necessidade de falar disso tudo.
No universo de pessoas com deficiência, que compreende quase 25% da população brasileira, muitas delas já nasceram assim. Mas existe uma parcela que, como eu, foram vítimas de acidentes que as colocaram nessa condição. Para todas essas pessoas devemos garantir o direito de inclusão e acessibilidade. Porém também devemos lutar pela conscientização no trânsito, evitando ao máximo que novos acidentes aconteçam e interfiram na trajetória de vida de outras pessoas.
Nós somos o trânsito – esse é o tema da campanha do Maio Amarelo desse ano, e eu não vejo nada mais completo e representativo do que essa frase.
Motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres, somos todos responsáveis pelo trânsito. Nossas escolhas no meio disso tudo não se refletem somente nas nossas vidas, mas também na vida de pessoas que amamos e até mesmo de pessoas que nem conhecemos.
Não me considero vítima, mas sim um sobrevivente. Uso minha história como motivação para ajudar todos aqueles que precisam de apoio e uso meu mandato para isso: defender e auxiliar a todos aqueles que possuem algum tipo de deficiência.
E que campanhas como o Maio Amarelo possam cada vez mais conscientizar a todos de que o trânsito deve ser pacífico e não um cenário de guerra de vidas e projetos ceifados.

Pier Petruzziello é advogado e líder do prefeito na Câmara de Vereadores de Curitiba