Franklin de Freitas – Arlindo Ventura

A Rua Paulo Gomes, localizada no Bairro São Francisco, em Curitiba, virou palco de um protesto no final da tarde desta quarta-feira (05 de fevereiro). Manifestantes se reuniram por volta das 19 horas em frente ao O Torto Bar, um dos mais tradicionais de Curitiba e que ontem acabou envolvido em um caso de polícia: o dono do estabelecimento, Arlindo Ventura, conhecido como `Magrão`, é acusado por clientes de ter agredido uma jovem após uma discussão na noite de ontem.

Uma das participantes do evento, Ana Rivelles testemunhou toda a confusão de ontem. Segundo ela, a manifestação é uma forma de demonstrar repúdio e repulsa com relação ao acontecido, além de uma demonstração de apoio à mulher que teria sido agredida pelo empresário.

“Todas as pessoas se organizaram para estar aqui hoje e demonstrar repúdio e repulsa ao ato de violência cometido pelo Magrão. O que a gente quer é que essa menina que sofreu a agressão saiba que não está sozinha, que a gente está do lado dela e que não vamos permitir que seja normalizado esse tipo de atitude”, afirma Rivelles.

Mesmo depois do episódio e de toda a repercussão nas redes sociais, Magrão decidiu abrir o estabelecimento hoje e o movimento de clientes quando a nossa reportagem esteve no local, por volta de 18 horas, já era grande. Ao Bem Paraná, o empresário disse que a manifestação era legítima e ainda colocou-se à disposição da população para falar sobre o ocorrido.

“Eu vejo que todo o movimento que for democrático, educado, é legítimo. Se acham que estou errado e querem vir aqui (protestar), a rua é de todos, o espaço d’O Torto é de todos. Mas se vier com a agressividade que ela veio contra mim, que eu acho que não faz parte desse movimento que ela crê, nós vamos ter de providenciar a presença das autoridades. Mas eu não posso deixar de conduzir o meu trabalho, sendo que amanhã ou depois eles estarão aqui de qualquer forma. Estamos aqui para debater essa questão, essa polêmica, e eu estou à disposição de qualquer um que venha me indagar, desde que com educação”, declarou o empresário.

O que teria acontecido

Segundo o relato de testemunhas, tudo começou por conta de uma confusão envolvendo o banheiro do estabelecimento, que estava trancado. A mulher, então, teria começado a bater insistentemente na porta, sendo avisada em seguida por um funcionário que aquele era um banheiro masculino. Em seguida ela saiu do bar para conversar com amigos que estavam do lado de fora e Magrão ordenou que não fosse permitido que ela entrasse novamente.

Quando foi entrar no estabelecimento, a mulher acabou sendo barrada e a confusão começou a ganhar contornos mais dramáticos. Teria sido nessa hora que a vítima começou a gritar que o proprietário tinha sido racista com ela, o chutado e ainda jogado cerveja e um copo contra Magrão – do copo ele conseguiu desviar, mas uma outra cliente acabou sendo atingida no ombro.

As divergências sobre a historia começam na sequência. Testemunhas, como Ana Rivelles, afirmam que o empresário desferiu um soco contra a cliente. Magrão, por sua vez, alega que só tentou empurrá-la para abafar a confusão e que, se acertou a mulher, foi sem querer.

“Eu vi ele agredir ela. Não é verdade que foi um empurrão, e quem está compactuando com isso é até machista e tão terrível quanto o Magrão. Ela estava exaltada, sim. Mas de qualquer maneira, ele tinha de chamar a polícia, e não resolver na violência contra uma mulher”, desabafa Rivelles.”Foi um soco, eu vi essa cena. Eu vi toda a força que ele direcionou para ela. Não é verdade que empurrou, que foi um encontrão. Foi um soco na cara da menina”, reforça.

Magrão, por sua vez, apresenta uma versão diferente sobre essa parte da historia. “No oba-oba ali, no deixa disso, se acertou alguma coisa nela, não foi intenção minha e nem de ninguém que estava perto. Se ela alega isso, vai ter de provar. No boletim alegamos que houve também um excesso por parte dela e agora vamos à juízo para ver quem que tem mais propriedade nesse caso aí.”

Sobre a acusação de racismo

Presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial do Paraná, Saúl Durval esteve presente durante a manifestação de hoje. Questionado sobre a acusação de racismo que pesa contra o dono d’O Torto Bar, ele explicou que o empresário não poderia ter impedido qualquer pessoa de ter entrado no seu estabelecimento e que tal postura caracterizaria a atitude discriminatória.

“Racismo é quando impede a pessoa de entrar no estabelecimento, seja por qual motivo for. Ele cometeu o ato de racismo quando proibiu ela de entrar no bar, e isso tem testemunhas aqui que viram. Deveria ter sido preso em flagrante”, afirma Durval. “O ato (protesto) é legítimo de uma sociedade que fica indignada com atos de crimes. O dono do bar tem a contrarrazão dele, mas primeiro ele agrediu uma mulher. Lei Maria da Penha, crime. Segundo, ato de racismo, crime inafiançável. E terceiro, atentou contra a vida. Agredir uma mulher, pequena, é atentar contra a vida. Ele devia ter sido preso pela Polícia. O que nós vamos fazer agora é acionar o Ministério Público, para que cumpra as medidas legais.”

Bar é ocupado por manifestantes

Os manifestantes ocuparam o bar por volta de 19h30 e realizaram uma série de atos dentro do estabelecimento, ficando cara a cara com Magrão, proprietário do bar. O empresário apenas ouviu os protestos e chegou até mesmo a aplaudir uma mulher que recitou um poema-protesto, conforme se pode ver nos vídeos abaixo. 

Com o clima esquentando, a polícia foi acionada e perto das 20 horas chegou ao local. Os manifestantes deixaram o interior do bar, mas como forma de protesto jogaram vários sacos de lixo dentro do estabelecimento, continuando em seguida o protesto em frente ao bar – antes, porém, trataram de tirar o lixo que haviam atirado para dentro do estabelecimento.