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“Diante do momento crítico da pandemia no Brasil, com mais de 400 mil mortes pela doença, cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) responderam a perguntas enviadas pela sociedade sobre a Covid-19, a fim de reforçar os cuidados dos brasileiros. A terceira onda da Covid e as novas variantes, responsáveis por lotar os hospitais brasileiros neste ano, reacenderam as dúvidas da população sobre a doença. Dessa forma, mais de 40 perguntas foram recebidas pela Agência Escola UFPR, com participantes de diferentes regiões do país, e esclarecidas por nove pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.

As perguntas fazem parte da série de reportagens Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola UFPR, que busca aproximar o conhecimento científico da população. Com o tema “Cuidados redobrados: momento mais crítico da pandemia”, a ação deste mês aborda cuidados básicos para evitar a Covid-19, uso de máscaras, vacinação, contaminação e reinfecção pelo coronavírus, além de outros aspectos da doença questionados pela sociedade.
“Até que a vacinação em massa não ocorra no mundo todo, a principal forma de proteção individual e coletiva se dará por esses cuidados: distanciamento social, uso de máscara e higiene de mãos”, reforçam os cientistas.

Participaram desta edição do Pergunte aos Cientistas as pesquisadoras Alexandra Acco, Cristina Jark Stern e Juliana Geremias Chichorro, professoras do Departamento de Farmacologia; Carlos Henrique Alves Jesus e Maria Carolina Stipp, pós-graduandos do Programa de Farmacologia da UFPR; Patrícia Dalzoto, professora do Departamento de Patologia Básica; Juliana Bello Baron Maurer e Luciano Henrique Campestrini, pesquisadores do Núcleo Paranaense de Pesquisa Científica e Educacional de Plantas Medicinais (NUPPLAMED-UFPR); e Roseli Wassem, professora do Departamento de Genética da Universidade. Confira abaixo as respostas dos cientistas.

“Qual a melhor maneira de se proteger em relação ao álcool e à máscara? Todas as pessoas devem usar máscara e face shield?” (Giovanna Ferrari, 18 anos, estudante, Criciúma-SC)
Cientistas UFPR – Olá, Giovanna. A lavagem das mãos é uma ferramenta muito importante e eficaz para prevenir a transmissão do vírus. Os órgãos de saúde recomendam a lavagem das mãos com água e sabão sempre que possível. No entanto, quando a lavagem das mãos for inacessível, recomenda-se o uso de álcool em gel (com pelo menos 60% de álcool). O álcool em gel deve ser aplicado e espalhado de modo a cobrir as mãos e dedos (incluindo as unhas) até que a pele fique seca.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as máscaras são recomendadas como medida de supressão da transmissão e ferramenta para salvar vidas. A OMS indica os seguintes passos para o uso de máscara:
1) Lavagem das mãos (ou uso de álcool em gel) antes de colocar a máscara, assim como antes e depois de retirá-la ou após qualquer momento que você tocá-la.
2) Usar a máscara de forma a cobrir totalmente o nariz, a boca e o queixo.
3) Enquanto estiver em uso, evitar tocar a máscara.
4) Quando retirar ou trocar a máscara, ela deve ser colocada em sacola plástica.
5) Máscaras de tecido devem ser lavadas todos os dias, e descartadas em lixo adequado se forem máscaras médicas.
6) Máscaras com válvulas não devem ser usadas, pois se quem a usa estiver contaminado poderá liberar partículas virais pela válvula e contaminar outras pessoas.
As máscaras devem ser utilizadas em locais fechados e com pouca ventilação (transporte público, aeroportos, local de trabalho etc). Além disso, elas devem ser utilizadas independentemente da distância entre as pessoas. Máscaras muito largas para o rosto, máscaras feitas de materiais que dificultam a respiração ou material com frestas, ou ainda máscaras contendo apenas uma camada de tecido devem ser evitadas, pois não protegem suficientemente e dão a sensação de “falsa” proteção.
As máscaras podem não ser necessárias quando se está sozinha em local aberto ou em casa com os familiares que moram com você. No entanto, algumas áreas abertas para público exigem o uso de máscara e para isso é necessário verificar o que cada local ou cidade estipula para esse caso.
Os face shields não são substitutos para as máscaras. Apesar de permitidos como uma ferramenta adicional para a proteção dos olhos, eles não cobrem completamente a boca e o nariz contra gotículas respiratórias. Devem ser utilizados juntamente com máscara e nunca sozinhos. São uma proteção a mais, mas não há necessidade de todas as pessoas utilizarem, as máscaras adequadas ainda são a proteção facial mais recomendada.

“Considerando a tríade de cuidados que devemos ter: distanciamento, máscara, álcool gel (ou higienizar as mãos), entretanto, pelas contingências da vida, por vezes um daqueles cuidados é despassado, ainda que outros se façam presentes. Pergunto: qual o vetor que mais pode propagar o Coronavírus? A) manter-se em proximidade com outras pessoas, ainda que de máscara; B) distanciamento, mas sem o uso de máscara, higienizando as mãos; ou C) deixar de higienizar as mãos (com sabão ou álcool gel), ainda que com distanciamento e máscara? O fundamento da pergunta é que temos observado tantas pessoas guardando estreito alinhamento à tríade citada e mesmo assim se contaminam.” (Sergio Roberto Maluf, 57 anos, advogado, analista de sistemas e estudante do curso de Informática Biomédica da UFPR, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Sergio. Desde o início da pandemia, os órgãos de saúde ao redor do mundo, como OMS e CDC (Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos), alertam para o controle pessoal da transmissão através da tríade que mencionou: distanciamento social, uso de máscara e higiene de mãos. Até que a vacinação em massa não ocorra no mundo todo, a principal forma de proteção individual e coletiva se dará por esses cuidados. Seu questionamento é pertinente e permite alguns desdobramentos:
Situação A: não se deve manter proximidade com pessoas neste período que não sejam de convívio familiar, mas se isto for inevitável, o uso de máscara deve ser feito, pois reduz o risco de espalhamento de aerossóis caso uma das pessoas esteja contaminada. Porém, vale lembrar que se a máscara estiver frouxa, com aberturas laterais ou for muito fina (uma camada), permitindo a passagem de ar para dentro e fora da máscara, a proteção diminui. Por isso, o uso correto de máscaras é uma arma importantíssima contra o vírus. Veja a reportagem recente publicada pela UFPR sobre os diferentes tipos de máscaras clicando aqui.
Situação B: praticar um bom distanciamento de outras pessoas que não são de seu convívio, tanto em espaços internos quanto externos, representa manter-se cerca de 1,5 a dois metros de distância. Distanciamento sem uso de máscara pode ser admitido em ambientes abertos, onde o risco de contaminação é menor. Porém, mesmo nestes locais, o uso de máscara é recomendado, pois os vírus “viajam” pelo ar em micropartículas, atingindo distância maior do que quando presentes em gotículas respiratórias.
Situação C: o risco nesta situação é menor pelo uso de máscara e distanciamento, pois a principal via de contaminação é aérea, por aerossol e pelo contato próximo com pessoas contaminadas. Neste caso, a contaminação poderia ocorrer caso o indivíduo tocasse em superfícies contaminadas e levasse a mão aos olhos, que são portas de entrada do vírus. Porém, já se reconhece como pequeno o risco de contaminação por esta via (objetos contaminados).
Vale ressaltar que as novas variantes virais, como a P.1 (ou de Manaus), são mais infectantes e que pessoas que estão contaminadas por elas têm uma carga viral até 10 vezes maior do que as contaminadas pelas cepas originais. Esse é um fator importante, que pode justificar o fato de pessoas se contaminarem mesmo diante dos cuidados que você mencionou. Portanto, lembre-se de que o distanciamento social deve ser praticado em combinação com outras ações preventivas diárias para reduzir a propagação da Covid-19, incluindo o uso de máscaras, evitar tocar o rosto com as mãos não lavadas e lavar frequentemente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos.

“Lavar todas as embalagens e alimentos com água e sabão antes de guardá-los (ou antes de colocá-los dentro de casa) é útil no combate à pandemia?” (Daniela Resende Archanjo, 44 anos, professora da UFPR, Matinhos-PR)
“Preciso lavar as compras de verdade?” (Marília, 36 anos, assistente administrativa, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Daniela e Marília, a dúvida de vocês é pertinente, pois no início da pandemia e ao longo de meses em 2020 a recomendação era higienizar todas as compras ao chegar em casa. Porém, com o decorrer da pandemia, novos conhecimentos sobre a transmissão foram construídos, e atualmente sabe-se que a chance de se contaminar com o SARS-CoV-2 a partir de um objeto, embora exista, é pequena. Não há evidências concretas de casos de Covid-19 em que a infecção tenha ocorrido ao tocar em alimentos, embalagens de alimentos ou sacolas de compras. A principal via de contaminação é aérea, por aerossol e pelo contato próximo com pessoas contaminadas.
Após fazer compras, manusear embalagens de alimentos ou antes de prepará-los e comê-los, deve-se lavar abundantemente as mãos ou usar sanitizantes para mãos (exemplo: álcool gel 70%), pois caso algum produto esteja contaminado, não serão eles que diretamente transmitirão a doença, e sim as mãos que tocarem em embalagens/alimentos contaminados e que forem levadas à boca ou nariz. Assim, lavar as mãos continua sendo uma recomendação básica devido ao risco das mãos no nariz ou na boca criarem um mecanismo de entrada para o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Sempre lave as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos ou cubra as superfícies das mãos com álcool 70% e esfregue-as até ficarem secas. Esse cuidado substitui a limpeza de todos os objetos ou alimentos que entrarem em sua casa.

“De que forma as novas variantes infectam mais, seria por aerossol? Por que elas são mais contagiosas? Elas ficam mais tempo nos objetos? Se sim, por quanto tempo? Elas têm mais carga viral nas gotículas? Como se prevenir melhor com máscaras, distanciamento etc.?” (Samir Gemha)
Cientistas UFPR – Olá, Samir! Esperamos que esteja bem. As novas variantes são mais infecciosas, porque:
1) O vírus adota conformações que facilitam a sua ligação ao receptor de entrada ACE2, facilitando assim a sua infectividade.
2) O vírus possui uma capacidade superior de enganar o sistema imunológico dos pacientes que já foram infectados anteriormente, favorecendo a reinfecção.
3) Os pacientes infectados parecem ter uma carga viral maior do que com o SARS-CoV-2 original, aumentando as chances de transmissão destes para outros indivíduos.
Quanto ao tempo de permanência em partículas aerossol ou em superfícies, é importante ressaltar que as novas variantes ainda vêm sendo estudadas, e, no momento, não temos informações de modo específico. Contudo, apesar das alterações no RNA viral, a estrutura básica do vírus continua a mesma, ou seja, é provável que apresente as mesmas características do SARS-CoV-2 original quanto ao tempo de permanência em superfícies e em partículas aerossóis. Os tempos de permanência dos vírus são os seguintes em:
– Partículas aerossóis – de 40 minutos a duas horas e 30 minutos.
– Aço inoxidável > 72 horas.
– Plástico > 72 horas.
– Papelão > 24 horas.
– Cobre > 4 horas.
Por fim, para prevenção, os mesmos cuidados devem ser tomados, como uso de máscaras com três camadas de proteção; a lavagem frequente das mãos com água e sabão; o uso de álcool em gel; e o distanciamento social, pois são essenciais para diminuir o risco de contaminação, seja das variantes ou da cepa viral não-mutada.

“Gostaria de perguntar aos cientistas se o vírus permanece ativo nos fios de cabelo e se posso me contaminar ao levar as mãos aos olhos, nariz e boca após tocá-los, mesmo depois de chegar em casa. Em caso positivo, qual a melhor maneira de proteger cabelos longos? Devo me preocupar em mantê-lo preso e/ou lavá-lo toda vez que sair de casa?” (Gabriela Stanga, 19 anos, estudante da UFPR, São José dos Pinhais-PR)
Cientistas UFPR – Cara Gabriela, essa pergunta é muito importante, então vamos lá! Primeiro, não há estudos mostrando por quanto tempo o vírus sobrevive nos cabelos, no entanto isso não é motivo de pânico! Agora nós já conhecemos um pouco mais sobre a transmissão do SARS-CoV-2 e podemos pensar em algumas estratégias para evitar a contaminação, inclusive pelos cabelos.
Como não existe uma única resposta para essa pergunta, podemos pensar em algumas situações. Se você esteve em algum lugar com outras pessoas, mas manteve o distanciamento social e todas as pessoas estavam de máscara, podemos assumir que a chance de haver vírus no seu cabelo é muito baixa. Se lembrarmos que o vírus viaja por aí nas gotículas de saliva, quando essa saliva alcança alguma superfície, principalmente porosa, ela logo seca, deixando o vírus fragilizado e exposto às condições ambientais. Por exemplo, um estudo publicado na revista The Journal of Infectious Diseases em 2020 mostrou, em condições de laboratório, que uma luz que simulava a luz solar era capaz de inativar o vírus em cinco minutos. Isso significa que, em ambientes abertos e expostos à luz solar, a chance do vírus ficar viável nos cabelos por muito tempo é baixa. Além disso, apesar de não ser visível a olho nu, é comum alguns cabelos apresentem muitas porosidades, então é possível que o vírus sobreviva por pouco tempo nesse local. Mas é sempre bom lembrar que devemos evitar ao máximo passar as mãos em qualquer superfície, inclusive nos cabelos, e levar aos olhos, nariz ou boca sem antes lavá-las muito bem com água e sabão ou usar álcool 70%. Então, nessa situação você não precisa prender o cabelo ou lavá-lo ao chegar em casa.
Agora, se você frequentar algum ambiente fechado, com muitas pessoas e sem máscara, que é o que temos visto nas baladas clandestinas, que inclusive se tornaram um grande foco de disseminação do vírus, nessa situação é possível sim que, devido à grande quantidade de vírus no ar, uma parte importante vá parar no seu cabelo e que se passar as mãos nos cabelos e depois levá-la ao rosto, você pode se contaminar, sim. Cada vez mais a comunidade científica fala da importância da carga viral na contaminação e no desfecho da doença. Ou seja, quanto mais vírus for expelido no ambiente, maior a chance de contágio e pior o desfecho da doença. Além da carga viral, alguns estudos sugerem que no escuro o vírus permanece vivo por mais de três horas nas partículas de aerossol. E, em ambientes escuros e superfícies não porosas como aço, vidro ou vinil, dependendo da temperatura, o vírus permanece viável por até 28 dias. Então o ideal mesmo é evitar esse tipo de ambiente. Nessa situação sim, ao chegar em casa, tome banho e lave os cabelos. Mas a balada é uma situação extrema, um absurdo pensando em pandemia. Então vamos pensar em algo mais comum do dia a dia, como o transporte público. Infelizmente, em uma pandemia nós temos que considerar todas as pessoas potenciais portadores do vírus. O transporte público não tem muita circulação de ar, circula muita gente, e com o frio chegando, tudo isso piora. Caso alguém espirre ou tenha tossido nesse local e estava sem máscara ou usando-a de forma inadequada (o que não deveria acontecer), esse local vai ficar cheio de vírus. Então, nessa situação, por mais que você se cuide, o ideal é chegar em casa, tomar um banho e lavar os cabelos.
Enfim, as situações são muitas, então o mais importante é usar máscara e ter um álcool 70% sempre com você, assim após tocar em qualquer superfície, você irá higienizar as mãos antes de levá-las ao rosto.

“Eu e minha esposa contraímos a Covid. Assim que saiu o resultado do exame dela, nós nos isolamos e começamos o tratamento. Cada um ficou em um quarto separado. Não senti nenhum sintoma e finalizado o tratamento fizemos o teste sorológico. Foi quando descobri que também tinha tido contato com o vírus, e os testes tanto o meu quanto o dela já indicavam anticorpos em nosso organismo. A minha dúvida é: só moramos nós dois na casa. Que cuidados devemos ter quanto ao uso da máscara, o contato entre nós, tocar nos objetos em que o outro toca, dividir o mesmo quarto como antes e entre outras coisas? Sabemos que os cuidados externos são os mesmos, só que resolvemos não sair de casa.” (Afonso Silva Barros)
Cientistas UFPR – Olá, Afonso! Parabenizamos sua atitude e a de sua esposa de ficarem em casa durante a recuperação, a fim de não colocarem outras pessoas em risco. O tempo recomendado de quarentena é de 14 dias. Quanto ao convívio familiar, isto é, entre você e sua esposa, a recomendação é um isolamento de dez dias após o início dos sintomas. Se o paciente apresentou sintomas graves de Covid, recomendam-se 20 dias de isolamento. Se ela já está recuperada, vocês podem voltar a conviver normalmente, inclusive dividindo o mesmo quarto. Não há necessidade do uso de máscara dentro de casa. É importante ressaltar que alguns sintomas, como perda de paladar e olfato, podem persistir por várias semanas após a recuperação, mas não indicam necessidade de isolamento.
Também é válido salientar que, apesar de ambos terem apresentado sorologia positiva, isto não significa necessariamente proteção contra a doença. Portanto, é muito importante que vocês mantenham as medidas de proteção, principalmente o uso de máscara em locais públicos, distanciamento social e higiene frequente das mãos.

“Minha dúvida é quanto às ofertas de máscaras: qual a mais eficaz, como higienizar e durante quantas horas elas estão realmente protegendo? Quanto à vacina, se ela não garante a prevenção de reinfecção, por que se vacinar? Sou do grupo prioritário e tenho diabetes.” (Liliane M. S. da Silva)
Cientistas UFPR – Olá, Liliane. As máscaras mais eficazes são aquelas com mais camadas ou feitas com materiais menos porosos. As máscaras de tecido podem ser usadas em ambientes abertos, onde não há muitas pessoas, e, quando possuem três camadas, conferem alta proteção, se respeitado o distanciamento social. Essas máscaras devem ser usadas por duas a três horas ou substituídas quando ficarem úmidas. A higienização é feita deixando a máscara de molho em água sanitária diluída em água (duas colheres de sopa de água sanitária em um litro de água) por 30 minutos e depois lavando normalmente com sabão. Deixe secar e passe a ferro antes de usar novamente. As máscaras cirúrgicas descartáveis, que podem ser compradas em farmácias, apresentam três camadas e são bastante efetivas para proteção, podendo ser usadas para ir ao mercado, por exemplo. Após duas a três horas, ou antes, se estiver úmida, a máscara deve ser descartada no lixo do banheiro. A máscara mais eficiente é a N95 ou PFF2, produzida com material bem compacto, o que garante uma alta proteção. Essa máscara tem a vantagem de vedar bem o espaço acima do nariz e as laterais do rosto, diminuindo bastante a chance de contaminação. Se você precisa frequentar locais com muitas pessoas, utiliza transporte público em horários de pico ou trabalha na área de saúde, essa máscara é a mais indicada. Essa máscara é reutilizável e não deve ser lavada. Você pode usá-la por duas a três horas e depois deixá-la “descansando” por três dias, para então utilizá-la novamente. Se você precisa frequentar um local com muitas pessoas e não deseja adquirir uma máscara N95 ou PFF2, pode usar duas máscaras, uma cirúrgica descartável e outra de tecido. Isso garante uma proteção extra, mas lembre-se sempre de manter o distanciamento.
Sobre as vacinas, realmente a reinfecção é possível. Entretanto, as vacinas que são usadas no Brasil hoje (Coronavac e Oxford/AstraZeneca) conferem uma alta proteção contra as formas graves e fatais de Covid-19. Alguns estudos evidenciam que essa proteção está entre 80% e 100%, ou seja, a chance de contrair Covid-19 e necessitar de hospitalização diminui muito. Assim, a vacinação é fundamental para que possamos reduzir a pressão no sistema de saúde e fazer com que o vírus pare de circular.

“Há necessidade de usarmos duas máscaras no atual momento da pandemia? Em relação ao material de que são feitas, as de tecido ainda são eficazes?” (Juliana Pinheiro, 36 anos, relações públicas na UFPR, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Juliana. As máscaras de tecido podem ser usadas em ambientes abertos, onde não há muitas pessoas, e o ideal é que sejam de tecido bem fechado e com, pelo menos, três camadas, pois isso garante uma maior proteção, se respeitado o distanciamento social. No atual momento da pandemia, recomenda-se o uso de duas máscaras, especialmente se você precisa frequentar um local com muitas pessoas e não deseja adquirir uma máscara N95 ou PFF2. Você pode usar uma máscara cirúrgica descartável e outra de tecido ou duas máscaras de tecido, garantindo uma maior segurança, porém não esqueça de respeitar o distanciamento social.

“Qual a melhor forma de higienizar as máscaras de tecido e também a máscara PFF2?” (Daniela Resende Archanjo, professora da UFPR, Matinhos-PR)
“Como higienizar a máscara N95?” (Paulo Roberto Bartelmebs, 61 anos, aposentado, Passo Fundo-RS)
Cientistas UFPR – As máscaras de tecido devem ser usadas por duas a três horas ou substituídas quando ficarem úmidas. A higienização é feita deixando a máscara de molho em água sanitária diluída em água (duas colheres de sopa de água sanitária em um litro de água) por 30 minutos e depois lavando normalmente com sabão. Deixe secar e passe a ferro antes de usar novamente. A máscara N95 não deve ser lavada. Depois de usá-la, por duas a três horas, deixe-a “descansando” em ambiente arejado por três dias. Após este período, você pode usá-la novamente.

“Vários portais de notícias e outras páginas dedicadas à Covid-19 estão divulgando a importância do uso de máscaras, sobretudo de máscaras PFF2. Eu gostaria de saber em relação à sua higienização, o correto seria deixar ela em repouso em um lugar ventilado e sombreado? E se sim, por quanto tempo, considerando as baixas temperaturas do inverno? Em relação às máscaras cirúrgicas, todas elas vêm com aviso ‘descartáveis’, por qual motivo não posso reutilizar se elas estiverem intactas após um dia de uso, sendo que eu posso reutilizar uma máscara PFF2? Ainda, ouço bastante que é recomendado utilizar máscaras cirúrgicas com máscaras de pano por cima, para uma melhor vedação, essa informação está correta?” (Marcos André Bonini Pires, 22 anos, sou estudante de agronomia, Piracicaba-SP)
Cientistas UFPR – Olá, Marcos. A máscara N95 ou PFF2 não deve ser lavada. Após usá-la por duas a três horas, ela deve ser deixada em local arejado por três dias (72 horas), depois pode ser usada novamente. As máscaras cirúrgicas devem ser usadas por duas a três horas, ou menos tempo, se estiverem úmidas, e devem ser descartadas no lixo. Assim como as máscaras de tecido, que devem ser lavadas após o uso por duas a três horas, essas máscaras descartáveis, como não podem ser lavadas, só devem ser usadas uma única vez. Para aumentar a proteção, é recomendada a utilização de duas máscaras, uma descartável e uma de tecido, especialmente se você precisa frequentar locais com alta circulação de pessoas.

Clique aqui e assista a um vídeo sobre uso e higienização de máscaras, produção da Agência Escola UFPR na ação Pergunte aos Cientistas.

“Como faço para melhorar a proteção da PFF2? Uso uma máscara cirúrgica por cima ou por baixo, assim a proteção aumenta para 99%? Ou é melhor usar sozinha mesmo? Eu tenho PFF2 Valvulada. Para não contaminar ninguém, o que posso fazer? Pois jogar fora uma máscara tão boa não seria uma opção” (Eliane Américo, 39 anos, orientadora, Valparaíso de Goiás-GO)
Cientistas UFPR – Olá, Eliane. A máscara N95 deve ser usada sozinha, pois ela já garante uma alta proteção, se corretamente ajustada ao rosto. Deve-se evitar a máscara com válvula, pois ela permite a passagem de partículas ao exterior e você pode contaminar outras pessoas se estiver infectada. Após o uso da máscara N95, por duas a três horas, você deve deixá-la em ambiente arejado por três dias e pode reutilizá-la.

“O teste de tentar apagar uma vela com a máscara para ver se ela é eficiente é verdadeiro?” (Valéria Aparecida Nogueira, 51 anos, cerimonialista, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Valéria. Ao tentar apagar uma vela usando máscara, você testa se uma quantidade de ar suficiente para apagar a chama passa pelo tecido. Sabe-se que as máscaras de tecido, para serem efetivas, devem ter pelo menos três camadas e o tecido não deve ter aberturas, como tramas de tricô e crochê. Entretanto, nenhuma máscara garante 100% de proteção, por isso recomenda-se, além do seu uso, que seja respeitado o distanciamento social.“Após pegar Covid, quanto tempo tem que esperar para tomar a vacina? Depois que a população adulta for vacinada, quanto tempo ainda será necessário usar máscaras? A vacina da Covid será anual como a vacina da gripe?” (Luciana Emilia Machado Garcia, 40 anos, engenheira civil e servidora UFPR, Curitiba-PR)
“Quanto tempo depois de ter a Covid-19 devo esperar para tomar a vacina tanto da Covid quanto a da gripe?” (Eliane Lopes da Silva, técnica de laboratório, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Luciana e Eliane. Após contrair Covid-19, o Ministério da Saúde recomenda que se aguarde 30 dias para tomar a vacina. Isso porque, como os sintomas da Covid-19 podem perdurar por algumas semanas, se você tomar a vacina antes do período de 30 dias, pode ainda ter sintomas e confundir com possíveis efeitos adversos da vacina. Como as vacinas são muito recentes, o monitoramento dos efeitos adversos deve ser bem cuidadoso. Após receber a segunda dose da vacina contra Covid-19, aguarde, pelo menos, 14 dias para tomar a vacina contra a gripe.
O relaxamento das medidas de prevenção, como uso de máscaras e distanciamento social, somente poderá acontecer quando uma grande parte da população elegível tiver recebido as duas doses da vacina. Estima-se que a imunidade coletiva será atingida quando 70% a 80% da população estiver vacinada.
O vírus influenza (vírus da gripe) apresenta características que permitem que sofra mutações com alta frequência, o que leva ao surgimento de novas cepas. Deste modo, a vacina da gripe é atualizada à medida que novas variantes surgem e por isso precisamos tomar a vacina todos os anos, para garantir que nos tornemos imunes às cepas em circulação. Os coronavírus já conhecidos têm frequência de mutação menor que a observada no vírus influenza, portanto seria esperado que as novas variantes do SARS-CoV-2 não surgissem com tanta facilidade. Porém, neste momento mais crítico da pandemia, observamos uma multiplicação descontrolada do vírus e, quanto mais ele multiplica, maior a chance de surgirem novas variantes. Como a Covid-19 é uma doença nova, ainda não temos dados suficientes sobre o SARS-CoV-2 que nos permitam determinar o intervalo entre as vacinações.

“Gostaria de saber se existe possibilidade de uma pessoa não poder tomar a vacina contra a Covid-19 devido à baixa imunidade?” (Marcela Biehl, 48 anos, servidora pública, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Marcela. Algumas situações podem levar à queda de imunidade, como doenças autoimunes e transplantes. É importante consultar um médico para saber se há contraindicação para o uso da vacina contra Covid-19. Somente o médico poderá avaliar se os benefícios da vacina superam os riscos, em cada caso.

“Sabemos que a vacina Coronavac tem uma eficácia baixa comparada às demais, então gostaria de saber se existe alguma contraindicação de tomar a Coronavac agora e no futuro tomar a vacina da Moderna, por exemplo?” (Maria Milena Tegon Figueira, 23 anos, professora, Toledo-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Maria. No momento, temos no Brasil apenas duas vacinas: a Coronavac e a Oxford/AstraZeneca. Ambas são aplicadas em duas doses, com intervalos de 21 dias e 90 dias, respectivamente. É importante que, se você tomou a primeira dose da Coronavac, a segunda dose seja da mesma vacina, ou a proteção não será atingida.
Ainda não sabemos como será o esquema vacinal contra Covid-19 no futuro, qual será o intervalo entre as vacinações, pois não sabemos o quanto a imunidade será duradoura. Além disso, há várias vacinas ainda em desenvolvimento. Deste modo, à medida que a doença seja mais bem compreendida, assim como a duração da imunidade conferida pelas vacinas em uso mundialmente, possivelmente um plano vacinal será elaborado, de modo a impedir a circulação do SARS-CoV-2.

“Gostaria de saber se após os 15 dias da segunda dose da vacina Coronavac é aconselhável fazer algum teste para verificar se realmente adquiri os anticorpos para fins de imunização. Caso a resposta seja afirmativa, gentileza informar qual o teste adequado” (Angela Trece Lopes, 72 anos, aposentada, Belo Horizonte-MG)
Cientistas UFPR – Olá, Angela. Os estudos indicam que há produção de anticorpos contra o SARS-Cov-2 após a vacinação, assim não há necessidade de fazer um teste para confirmar, mesmo porque as medidas de prevenção devem ser mantidas. Mesmo imunizada, ainda é possível contrair a Covid-19 em formas assintomática ou leve e, em consequência, transmitir a doença. Portanto, deve-se continuar a usar máscara, manter o distanciamento social e fazer a higienização das mãos com frequência, até que, pelo menos, 70% a 80% da população elegível seja vacinada e a imunidade coletiva seja atendida.
Se você desejar, é possível fazer um teste sorológico para detectar anticorpos IgG contra os antígenos N e S (proteínas) do SARS-CoV-2. Esse teste deve ser solicitado por um médico e realizado 30 dias após o recebimento da segunda dose. No caso da vacina Coronavac, os anticorpos produzidos se ligam aos antígenos N e S do vírus, enquanto a vacina Oxford/AstraZeneca leva à produção de anticorpos que reconhecem o antígeno S apenas.

“Eu e meu esposo somos Soropositivos, em qual grupo a gente se encaixa para tomar a vacina da Covid-19? Tenho 29 anos e ele, 40.” (Juliana Elisandra da Silva, 29 anos, monitora de atendimento, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Juliana. O Ministério da Saúde incluiu pessoas vivendo com HIV (PVHIV), maiores de 18 anos e com contagem de linfócitos T CD4 inferior a 350 células/mm3 no grupo prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19. Essa inclusão tem como objetivo priorizar as pessoas com imunossupressão, pois quanto menor a contagem de linfócitos T CD4, maior o risco de desenvolvimento de doenças. PVHIV com boa adesão ao tratamento antirretroviral e carga viral indetectável podem nem chegar aos níveis de imunossupressão. Para receber a vacina contra Covid-19, a pessoa deve apresentar o último exame de contagem de LT-CD4.
PVHIV com LT-CD4 maior que 350 células/mm3, que façam parte dos grupos prioritários por outros motivos, como idosos e profissionais de saúde, devem seguir o critério da fase prioritária de vacinação. Para mais informações, consulte este link.

“Meu pai tem 74 anos e é portador de miastenia gravis, queria saber: ele pode tomar a vacina contra o corona?” (Silmara Aparecida Princival Conque, 40 anos, professora, São José dos Pinhais-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Silmara. Os portadores de miastenia gravis, uma doença autoimune, são, por essa razão, considerados do grupo de risco para Covid-19, quando apresentam sintomas e fazem uso de terapias com corticoides e imunossupressores. Como essas terapias diminuem a imunidade, ainda não se sabe se podem influenciar na efetividade da vacina. Entretanto, a Associação Brasileira de Miastenia Gravis recomenda que os portadores tomem a vacina. É importante consultar um médico, para que sejam avaliadas as indicações para a vacinação contra Covid-19 em casos específicos.

“Tenho uma dúvida em relação à vacinação: meu filho tem 16 anos e faz tratamento para o pulmão desde bebê. Gostaria de saber se ele poderá ser vacinado quando chegar a vez das pessoas com comorbidades” (Lucia Helena Lisboa, 41 anos, bióloga e artesã, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Lucia Helena. Por enquanto, o Ministério da Saúde não recomenda a vacinação de menores de 18 anos. As vacinas em uso no Brasil ainda não têm dados suficientes sobre a eficácia e segurança nos grupos com idade inferior a 18 anos.

“A vacina da Covid-19 é como a vacina da gripe, ou seja, eficaz apenas para alguns tipos de vírus, já que existe mutação constante?” (Keila Corrêa Bittencourt, 36 anos, economista e auxiliar de serviços escolares na Prefeitura de Curitiba, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Keila. O vírus influenza (vírus da gripe) apresenta características que permitem que sofra mutações com alta frequência, o que leva ao surgimento de novas cepas. Desse modo, a vacina da gripe é atualizada à medida que novas variantes surgem e, por isso, precisamos tomar a vacina todos os anos, para garantir que nos tornemos imunes às cepas em circulação. Os coronavírus já conhecidos têm frequência de mutação menor que a observada no vírus influenza, portanto seria esperado que as novas variantes do SARS-CoV-2 não surgissem com tanta facilidade. Porém, neste momento mais crítico da pandemia, observamos uma multiplicação descontrolada do vírus e, quanto mais ele multiplica, maior a chance de surgirem novas variantes. Como a Covid-19 é uma doença nova, ainda não temos dados suficientes sobre o SARS-CoV-2 que nos permitam determinar o intervalo entre as vacinações.

“Li um estudo de um pesquisador que estaria pesquisando a eficácia (pelo menos até agora temporária) da vacina tríplice viral. Então, me dirigi a um posto de saúde aqui do Rio de Janeiro e tomei a tríplice viral, para ter pelo menos alguma defesa mesmo que temporária até chegar o momento de tomar a vacina da Covid. No posto que eu tomei a dose, eu fiquei com a sensação de que tomei vacina de vento. Depois de uns quatro dias, eu levei minha esposa em outro posto para ela tomar a mesma vacina. Então, tomei novamente a tríplice viral. Aqui no Rio de Janeiro estão forçando as crianças a voltarem para as escolas, acho arriscado, pois as variantes estão contaminando e matando jovens e crianças. Assim, estou pretendendo vacinar meus dois filhos (13 e 17 anos) com a tríplice viral, para dar algum tipo de proteção. Gostaria de saber as últimas notícias sobre as pesquisas acerca dessa vacina, a tríplice viral” (Cláudio Rodrigues dos Santos, 59 anos, Rio de Janeiro-RJ)
Cientistas UFPR – Olá, Cláudio. A vacina tríplice viral confere proteção contra sarampo, rubéola e caxumba. Estudos realizados nos Estados Unidos e na Universidade Federal de Santa Catarina sugerem que essa vacina poderia estimular o sistema imune, gerando uma imunidade inata inespecífica, a qual levaria à proteção contra formas graves de outras doenças, entre elas a Covid-19.
Entretanto, os detalhes desses estudos não são conclusivos e a Sociedade Brasileira de Imunizações não recomenda o uso da vacina tríplice viral contra Covid-19. Ainda é importante ressaltar que essa vacina não substitui, de forma alguma, as vacinas contra Covid-19, não devendo ser usada como uma forma de tratamento precoce. Para mais esclarecimentos, consulte o site da Sociedade Brasileira de Imunizações.

“Como a China se livrou do coronavírus se lá não houve vacinação em massa? Pelos meios de comunicação, ficamos sabendo que desde abril de 2020 não há relatos de novos casos. Por que os chineses não tomaram a vacina? Como e qual o segredo de ninguém pegar o vírus?” (Maria Aparecida Hanek, 64 anos, aposentada, Matinhos-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Maria. No início da pandemia, a cidade de Wuhan, o epicentro da Covid-19, com 11 milhões de habitantes, foi isolada do mundo exterior, com todos os voos, trens e ônibus cancelados e as entradas das rodovias bloqueadas. Dentro da cidade, por mais de dois meses, o transporte público foi suspenso, empresas fechadas e milhões de residentes confinados em suas casas, sem permissão nem para sair para fazer compras. Esse severo lockdown controlou a disseminação do vírus.
Atualmente, a China também apresenta novos casos, do mesmo modo que o restante do mundo. Segundo os dados oficiais divulgados, possui níveis mais baixos da doença que outros países como o Brasil, que tem atualmente um dos patamares mais elevados de contaminação e mortalidade do mundo. Segundo o site Statista.com, a China apresenta mais de 102 mil casos e 4.800 mortes. No entanto, há muita desconfiança por parte de cientistas e jornalistas do mundo sobre esses dados oficiais. O governo chinês é pouco transparente na divulgação de dados do país, e especialistas acreditam que houve subnotificação de infecções durante o auge do surto em Wuhan, estimando que os casos sejam de três a dez vezes maiores, bem como pode haver subnotificação dos casos atuais.
Quanto à vacina, dados divulgados mostram que até meados de abril a China aplicou 212 milhões de doses, e pretende vacinar 70-80% de sua população (estimada em 1,4 bilhões de pessoas) entre o final deste ano e meados de 2022. Os imunizantes utilizados na China são da Sinopharm, que desenvolveu duas vacinas diferentes, e da Sinovac Biotech, que produz a Coronavac, a mesma utilizada no Brasil.

“Por gentileza, tenho uma dúvida: aqui em casa temos dúvidas sobre pedir pizza por delivery. É possível a pizza ser contaminada? Pois sabemos sobre as embalagens que devem ser limpas, mas e os alimentos quentes?” (Marcelo Luiz Devitte, 43 anos, auxiliar administrativo, Goiânia-GO)
“Pensando no contágio pelo vírus, através de um alimento que pedimos na padaria ou delivery, que pode chegar em minha casa com o vírus, pensei em colocar o alimento no microondas por um tempo que exterminasse o vírus. Poderiam me dizer se já tem essa resposta comprovada?” (Wagner Gomes, 64 anos, aposentado, Ribeirão Preto-SP)
“Ganhei doces de Páscoa artesanais faz uma semana e estou com medo de comer, pois não sei se o vírus da Covid pode ser pego nesses tipos de alimentos” (Josiane Aldrighi Lemes, 48 anos, São José dos Pinhais-PR)
Cientistas UFPR – A preocupação com a contaminação em alimentos é legítima e deve estar sempre presente. Essa preocupação deve sempre ser maior quando os alimentos serão consumidos crus ou frios. Trabalhos científicos avaliando a sobrevivência de diversos vírus em alimentos existem e incluem o SARS-Cov1, muito semelhante ao 2, causador da Covid-19. Os resultados mostram que aquecimento, quer seja no microondas ou de outra forma, eliminam o vírus se for em temperatura maior que 56⁰ C. É importante ressaltar que não são os microondas que o eliminam, mas sim o calor.
Infelizmente, isso não pode ser aplicado para as embalagens, uma vez que o aquecimento por microondas requer a presença de água, pois é a sua movimentação que provoca o aquecimento, e as embalagens somente são aquecidas quando o calor dos alimentos é transferido. Portanto, as embalagens devem ser tratadas com maiores cuidados.
A contaminação com o coronavírus através de superfícies contaminadas é menos provável do que a maioria de nós teme, já que requer que o vírus esteja viável na superfície e em quantidades que cheguem até as mucosas da boca, nariz e olhos. Isso significa que é possível, sim, se contaminar através de superfície contaminada, mas é menos provável. O contágio por contato com outras pessoas e ar infectados em ambientes fechados é a forma mais eficiente e frequente. Seguir as recomendações de não colocar as mãos na boca, olhos, nariz e lavá-las periodicamente devem ser suficientes para impedir o contágio por superfícies.
O tempo de sobrevivência do vírus foi bastante estudado em diferentes superfícies, mas não se pode avaliar o quanto essas podem causar contágio em humanos, por razões éticas. Os cuidados com as embalagens é uma forma de prevenir contaminação, uma vez que em algumas situações particulares o contágio pode ocorrer, sim. Um exemplo claro disso são situações em que a embalagem foi manipulada por alguém com Covid-19, cujas mãos podem estar intensamente contaminadas (após espirrar, por exemplo) e promover o contágio. Alimentos que não podem ser aquecidos (como o chocolate artesanal), se estiverem contaminados, devem ter baixa quantidade de vírus se tiverem sido manipulados com o mínimo de cuidados exigido (uso de luvas e máscara), e a quantidade de partículas virais deve ir diminuindo conforme o tempo passa, até ser considerada irrelevante. É importante também ressaltar que o congelamento não elimina o vírus e deve até preservá-lo por mais tempo viável.

“Quais são as probabilidades de contaminação por meio de maçanetas e objetos tocados por um grande número de pessoas, em espaços de convivência compartilhada (condomínios, ambiente de trabalho, escolas etc.)? Temos estudos mais recentes sobre a sobrevivência do vírus em diferentes superfícies? Em geral, nesses locais, a carga viral é menor?” (Luiz Miguel Portella)
Cientistas UFPR – A carga viral nessas superfícies é variável, dependendo de como foram manipuladas. As mãos de pessoas contaminadas com o vírus podem conter grandes quantidades de partículas virais: o vírus não é liberado pela pele, mas as mãos de pessoas com SARS-CoV2 são facilmente contaminadas ao tocar nariz, boca, olhos, urina, fezes etc. A análise de microrganismos presentes em objetos tocados por um grande número de pessoas (estações de transporte, por exemplo) mostra a presença de grande diversidade e quantidade de patógenos e, portanto, SARS-CoV2 também deve estar presente. Consequentemente, a manipulação desses e posterior contato com mucosas de boca, nariz e olhos pode, potencialmente, levar a contaminação. Entretanto, a probabilidade é menor, pois requer que todos estes eventos ocorram. Evitar tocar boca, nariz e olhos é um importante mecanismo de prevenção de contágio. O tempo de sobrevivência em superfícies é de várias horas e até dias, dependendo do material e, portanto, pode ser considerado continuamente contaminado quando o fluxo de pessoas é diário. O uso de máscara, mesmo na ausência de outras pessoas no ambiente, serve como uma barreira que previne o contato das próprias mãos em boca, nariz e potencialmente, lembrança para não tocar os olhos. Estudos detalhados para avaliar probabilidade de contágio são inviáveis, uma vez que não se pode expor intensamente seres humanos. Consequentemente, os dados existentes dependem de relatos de pessoas contaminadas, que podem sofrer de imprecisão ou impressões individuais, tornando-os difíceis de serem considerados definitivos.

“Em piscina (padrão olímpico), o vírus morre ou se desintegra devido ao seu tamanho e proporção da quantidade de água?” (Keila Corrêa Bittencourt, 36 anos, economista e auxiliar de serviços escolares na Prefeitura de Curitiba, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – A sobrevivência do vírus foi avaliada em água corrente e foi constatado que a sobrevivência é bem longa em temperatura ambiente (mais de dez dias a 23⁰C) e pode ser muito longa (mais de 100 dias a 4⁰C). O uso de produtos para controle de propagação de microrganismos (hipoclorito de sódio e outros) deve diminuir drasticamente a sobrevivência do vírus. SARS-CoV2 viável tem sido detectado em água potável (estudo realizado nos Estados Unidos) e também em esgoto, em diversos locais do mundo. O risco de contaminação por esses vírus, entretanto, não pode ser avaliado, devido a questões éticas que impedem a exposição intencional de seres humanos. Portanto, ele permanece ativo em água, mas não é possível confirmar se podemos nos contaminar ao consumir água contendo o vírus nessas quantidades.

“O vírus da Covid-19 pode se manter vivo no braço de uma pessoa que está usando protetor solar?” (Niânia Melo Ferreira, 46 anos, dona de casa, São Luís-MA)
Cientistas UFPR – Apesar de a luz solar ser considerada uma maneira de diminuir a viabilidade viral, o uso de protetor solar não deve afetar significativamente esse efeito. Outros componentes do protetor podem até diminuir a viabilidade viral, uma vez que esses possuem componentes que reprimem o desenvolvimento de microrganismos como forma de preservar por mais tempo o produto. É comum que esses contenham detergentes e outros compostos que destroem a capa viral e o tornem inviável. Apesar desses fatores, em caso de potencial contato com material contaminado, a descontaminação deve ser realizada imediatamente.