Arquivo BP – Acompanhamento deve ser feito com certa frequência

Uma doença silenciosa, que não causa sintomas, mas progressivamente corrói o organismo por dentro, quando não tratada. Essa é a hipertensão arterial, conhecida no meio médico como ‘matadora silenciosa’, uma doença que afeta um em cada três paranaenses, embora apenas metade dessas pessoas saibam que convivem com o problema – e um número ainda menor o trate adequadamente.

Nesta segunda-feira (26), inclusive, celebra-se o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão. Uma pergunta, então, é inevitável: você aferiu a sua pressão arterial recentemente? Se não, o faça logo que possível.

Segundo dados do Ministério da Saúde, ao longo das duas últimas décadas o número de óbitos causados por hipertensão arterial saltou mais de 224%, passando de 559 em 2000 para 1.813 em 2019 (último ano com dados disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM). É como se cinco paranaenses falecessem a cada dia por conta da doença, mas o mais triste é que esses números, embora alarmantes, não traduzem de maneira fiel o impacto real da hipertensão arterial na saúde da população, conforme explica o cardiologista Emilton Lima, diretor de Relações Governamentais da Sociedade Paranaense de Cardiologia.

“Esses [números são de pacientes] que morreram diretamente por hipertensão arteriaL, fizeram pico hipertensivo e morreram por conta disso. Mas hoje sabemos que sete em cada dez derrames estão relacionados diretamente à elevação da pressão arterial. Dos pacientes com infarto, 40% tem infarto porque tem hipertensão arterial. E 50% dos pacientes com insuficiência cardíaca tem o problema por causa da hipertensão arterial”, diz o cardiologista, citando ainda que, a cada dia, aproximadamente 388 pessoas morrem devido à doença. “E aproximadamente metade não precisava morrer, se tivesse a pressão controlada”.

Mas se a doença é tratável, por que as pessoas não controlam a pressão arterial (no Brasil, a estimativa é que apenas 20% dos pacientes estejam com o problema controlado)? Um dos motivos para isso é porque esses pacientes, na realidade, não sentem nada. Não raro, inclusive, a primeira manifestação da doença é já em eventos como derrame e infarto ou até mesmo morte súbita. “Os pacientes negligenciam a doença porque ela não tem sintoma, mas ela vai correndo o organismo por dentro, vai afetando os vasos pelo corpo todo”, explica o Dr. Emilton Lima.

Por isso, é fundamental que as pessoas façam, pelo menos, uma consulta anual com o médico, o clássico check-up, e tenham aferida a pressão arterial. Já o tratamento da doença envolve duas possíveis abordagens: o tratamento medicamentoso (ofertado também pelo sistema público de saúde) e a mudança de estilo de vida, que envolve cinco itens clássicos: controle de dieta saudável, não fumar, fazer atividade física, controlar o peso e uso bastante moderado do álcool.

Parte das internações por Covid poderiam ter sido evitadas
Ainda segundo Emilton Lima, uma pesquisa feita no Paraná mostrou que 26% dos pacientes que contraíram a Covid-19 e necessitaram de internação numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) poderiam ter evitado a hospitalização se tivessem a pressão arterial controlada. Ele ainda explica que isso acontece porque a hipertensão, por si só, já é responsável por desgastar os vasos em nosso corpo, criando um processo inflamatório no organismo pela relação mecânica dos batimentos na parede do vaso com os pulsos arteriais.

“Então o paciente já tem um grau de inflação própria dele e, quando tem contato com a Covid, existe uma reação exagerada de inflamação, porque são duas inflamações somadas e o organismo não consegue dar conta disso”, esclarece ainda o cardiologista. “Um paciente hipertenso tem quase quatro vezes mais chance de morrer do que um -paciente que não é hipertenso, se adquirir Covid. E o paciente hipertenso controlado, tem 2,5 mais chance de sair vivo do que aquele que não está com a pressão controlada.”

Mortes em alta
São consideradas hipertensas pessoas com pressão arterial maior que 140/90 mmHg (popularmente conhecida como 14 por 9), mas a pressão ideal é abaixo de 12 por 8.

O grande problema é que para controlar a pressão, seria necessário ter um estilo de vida saudável, manter o peso e comer menos sal, por exemplo. Nos últimos tempos, porém, a população de obesos (inclusive obesidade infantil) vem crescendo de maneira marcante, e isso vai se manifestar lá na frente na forma de problemas como hipertensão e diabetes.

“Com esse cenário que temos hoje, esse número [de hipertensos] só vai crescer, não tenho dúvida disso”, aponta Emilton Lima. “Uma questão que preocupa muito é o nosso estilo de vida. Estamos assumindo um estilo de vida não saudável do ponto de vista alimentar, de sedentarismo, estresse e da questão de poluição”, diz o médico.