Anitta, Pabllo Vittar, DJ Alok, Seu Jorge, Emicida, Michel Teló, Elba Ramalho e muito mais. Parece até programa de um festival de música de gêneros variados, mas a lista elenca os artistas que se apresentam em alguns dos 39 megablocos de São Paulo. Embora sejam minoria em uma programação de 678 desfiles, são eles que concentram grande parte dos foliões, estimados em 15 milhões.

Um fenômeno recente do carnaval paulistano, os megablocos mais que dobraram em relação ao ano passado (16) e ocupam hoje as principais vias do circuito, como as Avenidas Pedro Álvares Cabral, no entorno do Ibirapuera, e Brigadeiro Faria Lima, zona oeste.

Com ao menos 40 mil foliões, também atraem a maior parte do patrocínio de grandes marcas, de empresas cervejeiras a aplicativos de delivery e redes sociais. E têm despertado discussões por exercerem “concorrência” para blocos tradicionais e de médio porte.

As demais agremiações enfrentam o desafio de se “profissionalizar” para acompanhar as demandas de um carnaval oficializado, cujo crescimento em número de desfiles foi de 148,3% em cinco anos.

A falta de patrocínio foi um dos principais motivos para os cerca de 30% de desistência entre os desfiles inscritos neste ano. Entre eles estão o Bloco Emo, que desfilou nos dois carnavais anteriores, mas não conseguiu investimento para bancar os R$ 60 mil previstos para alugar trio elétrico e atender às exigências de segurança.

“Pensamos também em optar pelo financiamento coletivo, só que isso não se mostrou positivo nos anos anteriores”, diz comunicado do bloco, em que cita ter arrecadado 1% da meta em 2019.

Outro caso foi do Unidos do K-Pop, voltado ao pop coreano. “Tomou proporção maior do que o esperado. A Prefeitura mudou local e data para caber mais gente e ficou inviável fazer de forma independente”, explicou um dos idealizadores, o produtor Lucas Hirai, de 27 anos.

A cantora Alessa, cofundadora do Ritaleena, estima que o custo de um desfile tenha triplicado desde 2015. “Hoje, é todo um rolê de planilha. Um patrocínio só não cobre.”

Para ter um bom som neste ano, por exemplo, o grupo se juntou a outros para construir um trio elétrico próprio. “Dez anos atrás, a gente era um bloco grande para os padrões de São Paulo. Hoje, fala que é um bloquinho”, compara Candinho Neto, fundador da Banda do Candinho & Mulatas.

Ele ressalta que os blocos mais tradicionais, como o dele e o Esfarrapado, o mais antigo da cidade, são comunitários e não visam ao lucro, diferentemente dos megablocos. “Estes são quase todos notadamente de agências. A tradição tende a desaparecer se continuar sendo sufocada dessa maneira. Colocar sertanejo, rock, funk, reggae, não tem nada a ver.”

Já Alan Edelstein, de 41 anos, um dos sócios da produtora Oficina de Alegria, por trás do megabloco Galo da Madrugada e de outros quatro desfiles em São Paulo, acredita que há “espaço para todo mundo”. “Entendo que talvez para blocos medianos, menores, fosse importante ter mais política de incentivo”, comenta. ” O desfile dele tem patrocínio de quatro marcas, além do governo pernambucano. A expectativa é de 80 mil a 100 mil foliões. Um dos sócios da produtora que traz o desfile, a Oficina de Alegria, Alan Edelstein, de 41 anos, diz que os blocos forasteiros dão “diversidade” ao carnaval.

Adaptações

“Eu vejo que existe uma disputa por um modelo de carnaval”, diz o sociólogo Vinicius Ribeiro, que pesquisa carnaval de rua em São Paulo. “Como o crescimento é muito recente, vejo que existe uma disputa, ainda não tem um modelo consolidado como em Salvador e Recife”, compara. “Com esse crescimento, a Prefeitura tende a burocratizar os processos. Isso causa exigências, que têm custos para blocos”, comenta. “Além disso, a presença dos megablocos encarece o carnaval, traz toda uma estrutura. Até outro dia São Paulo era o túmulo do samba. Hoje tem o potencial de talvez ser o maior carnaval do Brasil. É impressionante o que aconteceu em menos de dez anos, todo mundo se apropriando, os foliões, os produtores, a gestão pública.”

Mesmo nesse cenário, Ribeiro considera o carnaval de rua uma festa “popular”, “democrática” e de “rica diversidade gratuita”. Ele levanta a discussão de haver uma limitação no número de megablocos e distribuição de outros shows de artistas ao longo do ano. “Não precisa concentrar. Acaba dificultando um pouco para os grupos mais tradicionais. Acabam funcionando como espetáculo, e espetáculo não precisa estar no meio do carnaval.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.