Franklin de Freitas – Caminhoneiros parados nas rodovias da RMC

A manifestação dos caminhoneiros que parou o Brasil e deixou os cidadãos desabastecidos de produtos básicos até combustível de aviação demonstrou uma tremenda inabilidade do presidente Michel Temer (MDB) em conduzir toda esta negociação. Antes mesmo do início dos bloqueios nas rodovias, o presidente foi avisado do risco de uma paralisação nacional. Mas Temer deu de ombros. 
Assistiu impávido e inerte a movimentação dos caminhões nas rodovias federais e estaduais de todo o país. Dia após dia a manifestação ganhava mais força. O ápice da desastrosa estratégia capitaneada por Temer veio com o anúncio de que as forças federais estavam autorizadas a desbloquear as estradas. A decisão foi tão atabalhoada que até mesmo os militares consideraram a medida descabida. Portanto, é extremamente razoável afirmar que mesmo parado, os caminhoneiros atropelaram o presidente Michel Temer. Mostraram que estamos subordinados a um governo fraco, frouxo.  
A cada decisão mal sucedida, o movimento dos caminhoneiros ganhava mais e mais força – inclusive apoio popular. E como em toda negociação, passaram a ter mais poder de barganha. A cada dia que passava o governo enfraquecia e, diametralmente, o movimento dos caminhoneiros ganhava força.  Acuado na mesa de negociação, vendo o Brasil parar, Temer abriu as pernas e atendeu aos pleitos e principais reivindicações dos caminhoneiros. Teve de ceder ainda mais, j[á que o movimento persiste nas estradas. 
Temer, assim como outras centenas de políticos, está ultrapassado. Acostumado a praticar uma política velha, sombria, de coronelismo, conchavos e avesso à transparência e ao diálogo. Basta ver seus recorrentes e perturbadores encontros na calada da noite com empresários e até mesmo com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E depois de tais encontros virem à tona, a explicação é estapafúrdia que não convence sequer uma criança de 10 anos. 
O presidente Temer entrou na política em 1981 quando ingressou no PMDB. Deste então passou por diversos cargos e sempre foi um dos principais caciques da legenda – a maior do Brasil. E esta expressiva bancada no Congresso Nacional fez com que todos os presidentes da República tiveram que negociar com o PMDB a governabilidade. Temer, portanto, viveu numa época em que “tudo pode”. 
Não havia Ministério Público isento – muito menos Polícia Federal. Transparência era uma utopia. Juízes chegavam às cortes com a benção dos políticos. Era um cenário propício e extremamente fértil para a corrupção. E ela se propagou e se enraizou a tal ponto que a política virou um trampolim para o enriquecimento rápido e ilícito. 
O perfil destes políticos está pouco a pouco sendo dizimado. E a Operação Lava Jato acelerou este extermínio para o bem da população brasileira. Mas algumas das velhas raposas parece que não entenderam o novo momento. A corrupção, claro, teve que evoluir e assistimos hoje a sofisticados esquemas e transações envolvendo offshore fora do país. A roubalheira não vai passar. Novamente ela vai evoluir. Mas as polícias e os órgãos de controle estão mais atentos e pouco a pouco, entre uma fase e outra da Lava Jato, vai prendendo, processando, condenado e aposentando na cadeia a velha política. 
Além de demonstrar que Temer está ultrapassado, os caminhoneiros mostraram o quão somos dependentes do trabalho diário e até então invisível deles. Faltou desde batata até combustível para avião. Vimos uma corrida transloucada por serviços básicos. Estivemos muito perto de assistirmos ao colapso. Politicamente o Brasil já está na lona e por muito pouco os brasileiros não foram nocauteados.