SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, anunciou nesta quarta-feira (14) sua demissão do governo de Binyamin Netanyahu, um dia depois de um acordo de cessar-fogo com grupos palestinos para conter a escalada de violência na Faixa de Gaza.

O ministro ultranacionalista afirmou à imprensa que a trégua é uma “capitulação ante o terrorismo”. “O Estado compra tranquilidade a curto prazo ao preço de graves danos a longo prazo para a segurança nacional”, disse.

O acordo, intermediado pelo Egito, foi anunciado na terça (13) por militantes palestinos em Gaza. O governo israelense não se pronunciou oficialmente, mas fontes diplomáticas confirmaram a trégua ao jornal Haaretz. ​

Lieberman tem solicitado uma resposta mais forte de Israel à rodada mais intensa de foguetes palestinos contra o país desde 2014.

“Em períodos de urgência, o público nem sempre sabe” por que são tomadas “decisões essenciais para a segurança do país, e estas decisões devem permanecer secretas para o inimigo”, afirmou Lieberman, ao anunciar sua demissão. “Nossos inimigos nos suplicaram para aceitar este cessar-fogo e sabem muito bem por que fizeram isso”, acrescentou.

O ministro também disse que é completamente contrário à decisão israelense que permitiu que o Qatar enviasse, na última semana, ajuda humanitária a Gaza no valor de US$ 15 milhões.

Em um comunicado, o grupo islâmico Hamas, que controla Gaza, qualificou a demissão de Lieberman de “vitória política”.

Nascido na antiga União Soviética, Lieberman, que já foi ministro do Exterior, assumiu a pasta da Defesa em maio de 2016. Fontes disseram ao jornal israelense Haaretz que ele tem planejado esse movimento há algum tempo, sentindo que “não está levando a Defesa do país para onde ele quer”.

​A saída do ministro entra em vigor em 48 horas. Netanyahu assumirá o posto interinamente.

A renúncia do ministro enfraquece significativamente Netanyahu e pode até levar a uma nova eleição.

Isso porque a demissão de Lieberman provavelmente vai significar a retirada de seu partido, Yisrael Beiteinu, da coalização do governo Netanyahu. Sem essas cinco cadeiras no Parlamento de 120 membros, o primeiro-ministro terá uma maioria de apenas um assento, o que pode levá-lo a considerar adiantar as eleições nacionais, previstas para novembro de 2019.

Em seu anúncio de renúncia, Lieberman pediu eleições antecipadas. “Deveríamos acertar uma data para eleições o mais rapidamente possível”, afirmou.

ESCALADA DE VIOLÊNCIA

A região não via uma troca tão intensa de foguetes desde 2014, quando uma guerra de 50 dias entre Hamas e Israel deixou mais de 2.000 mortos, a maioria do lado palestino.

A escalada de violência começou no domingo (11), após uma operação secreta do Exército israelense matar um líder do Hamas, que controla Gaza, e outros seis palestinos que também fariam parte da facção. Um tenente-coronel israelense também morreu na ação.

Com isso, os palestinos passaram a lançar na segunda foguetes em direção a Israel, que respondeu com bombardeios, gerando uma crise em um momento em que avançavam as negociações para conter a violência.

Os militares israelenses afirmaram que cerca de 400 foguetes foram disparados pelos palestinos, dos duas ao menos 100 foram interceptados pelo sistema de defesa.

A ONU e o Egito vinham negociando com os dois lados uma tentativa de cessar-fogo na região, que vive uma onda de violência desde 30 de março, quando os palestinos lançaram protestos semanais na fronteira com Israel.

Essas manifestações muitas vezes acabavam em conflitos e mais de 220 palestinos foram mortos no período. No mesmo período, dois soldados israelenses morreram, incluindo o deste domingo.