SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), afirmou, nesta segunda (29), que o modelo calcado nas usinas hidrelétricas está encerrado no país.

A retomada da construção de hidrelétricas, até mesmo na região da Amazônia, é uma das principais pautas da equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o setor elétrico.

As usinas são a principal fonte na matriz elétrica brasileira, mas, nos últimos anos, têm dado lugar a outras formas de geração.

"A fonte hídrica não dá mais a segurança que deu no passado. Ela é tão dependente da natureza como outras fontes, que o setor hídrico acha que são menores, porque dependem da natureza", disse o ministro, em um evento do setor de açúcar e etanol, em São Paulo.

"Os geradores hídricos não se olham no espelho e veem que também já dependem da natureza", afirmou.

Um dos maiores entraves à construção de novas hidrelétricas é seu forte impacto social e ambiental. Além disso, as fortes secas que têm afetado o país reduziram a capacidade de geração das usinas.

No entanto, muitos técnicos defendem as hidrelétricas, que são renováveis e podem ter um impacto ao ambiente menor que usinas térmicas.

Moreira Franco ainda defendeu, mesmo sem fazer referência direta, os leilões regionais de usinas térmicas a gás natural, proposto por meio de consulta pública pelo ministério na semana passada.

O modelo é extremamente controverso dentro dos próprios órgãos do setor elétrico, como mostrou a Folha de S.Paulo.

Críticos afirmam que a consulta pública do governo visa viabilizar um leilão no Nordeste, defendido principalmente por políticos e empresários em Pernambuco.

Além disso, há questionamentos à contratação regional das usinas, que limita a concorrência e contraria o sistema interligado nacional –em que a energia não precisa necessariamente ser gerada na região onde é consumida, pois pode ser transportada por meio de linhas de transmissão.

Esse modelo, existente há décadas no país e defendido por diversos especialistas, foi criticado pelo emedebista.

"Temos um país extremamente diverso, e essa diversidade é incompatível com o sistema nacional, único, como se as regiões fossem iguais. Uma fonte que pode oferecer energia barata em determinada região é impedida de oferecer energia barata porque é preciso que essa contribuição [a energia gerada] entre no sistema, que impõe desvios desnecessários e prejudiciais à família brasileira", afirmou, em seu discurso.

Moreira Franco também disse que é preciso diversificar a matriz, não apenas com energia limpa, mas também para garantir a segurança elétrica.

Para defensores do leilão, as usinas térmicas movidas a gás natural são uma fonte que traz estabilidade, pois podem ser despachadas a qualquer momento.

"Se o Brasil não tivesse tido a maior crise econômica de sua história, teríamos tido um apagão", afirmou o ministro.

Outros empresários ligados ao setor de gás natural buscaram apresentar propostas a Bolsonaro, ainda durante a campanha.

Na semana passada, o então presidenciável recebeu uma equipe de técnicos do setor, que incluía o presidente da Abegás (Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Gás), Augusto Salomon, e consultores que defendem o modelo de térmicas.