Lula Marques / AGPT

O juiz federal Sergio Moro aceitou nesta quarta-feira (5) denuncia da força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná contra o ex-chefe de gabinete do governo Beto Richa, Deonilson Roldo e mais dez pessoas por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Segundo o MPF, Roldo e os demais acusados teriam participado de um esquema de pagamento de propinas pela Odebrecht em troca de favorecimento da empreiteira na Parceria Público Privada (PPP) para exploração e duplicação da rodovia PR-323, entre os municípios de Francisco Alves e Maringá, em 2014, cujo valor era de R$ 7,2 bilhões. Candidato ao Senado nas eleições deste ano, Richa não foi incluído nesta denúncia.

No despacho, Moro afirma que a investigação deve continuar para reunir mais provas contra outros envolvidos. “Embora existam indícios do envolvimento de outros agentes nos crimes, é razoável o oferecimento da peça em relação aqueles para os quais há melhor prova, sem detrimento da continuidade da investigação”, afirma. (Veja a íntegra do despacho)

Na denúncia, os procuradores também ressaltaram que novas informações devem ser apuradas. "O MPF requer ainda a continuidade das investigações no mesmo IPL (inquérito policial) para apurar com maior precisão a conduta de outros investigados que não foram, na presente oportunidade, denunciados. Também, a continuidade das investigações segue para esclarecimento de outros crimes antecedentes ainda não esclarecidos por completo", diz o texto da denúncia.

Entre os denunciados está o empresário Jorge Theodócio Atherino, conhecido como "Grego", apontado como “operador propinas” do ex-governador Beto Richa, além de Adolpho Julio da Silva Mello Neto, Benedicto Barbosa da Silva Junior, Fernando Migliacchio da Silva, Luciano Riberiro Pizzatto, Luiz Antônio Bueno Junior, Luiz Eduardo Soares, Maria Lucia Tavares, Olívio Rodrigues Junior e Álvaro José Galliez Novis.

Denúncia

De acordo com a denúncia, no final de janeiro de 2014, executivos da Odebrecht procuraram o então chefe de gabinete de Beto Richa, Deonilson Roldo, e solicitaram apoio para afastar eventuais concorrentes interessados na licitação da PPP para exploração e duplicação da PR-323. Após uma primeira reunião Roldo voltou a se encontrar com executivos da empreiteira, informando que daria a ajuda ilegal solicitada pela companhia na licitação, mas para isso contava com a ajuda da empresa na campanha do governador daquele ano de 2014.

Segundo o MPF, em seguida, em 14 de fevereiro de 2014, Deonilson teve uma terceira reunião com os executivos da Odebrecht. Nesse encontro, o então chefe de gabinete do ex-governador afirmou que tinha procurado as empresas CCR e Viapar, que indicaram que não participariam da licitação. Informou, ainda, que o Grupo Bertin tinha interesse na concorrência por intermédio da empresa Contern.

Áudio

Em razão do interesse da Contern, em 24 de fevereiro de 2014, Deonilson chamou o executivo dessa empresa, Pedro Rache, para uma conversa no Palácio Iguaçu. No encontro, gravado por Rache e transcrito na denúncia, o ex-chefe de gabinete do ex-governador informou ao empresário que tinha “compromissos” com a Odebrecht e solicitou ostensivamente que a empresa Contern se afastasse do certame licitatório para obtenção do contrato da PR-323. No mesmo diálogo, Deonilson Roldo, de forma direta, vinculou a desistência da licitação a interesses do Grupo Bertin, que controlava a Contern, na Copel.

De acordo com a denúncia, depois de a Odebrecht vencer a licitação, em meados de julho de 2014, o empresário Jorge Atherino compareceu ao escritório da empreiteira em Curitiba para cobrar as propinas ajustadas nos encontros com Deonilson Roldo. Diante do contato de Atherino, o diretor-superintendente da Odebrecht para a região Sul e São Paulo requereu a utilização do Setor de Operações Estruturadas da companhia para realizar pagamento de subornos em favor de agentes públicos do Estado do Paraná. Teria sido aprovado o pagamento ilícito de R$ 4 milhões, e Jorge Atherino informou os endereços em que deveriam ser entregues os valores.

Após perícia da Polícia Federal nos sistemas Drousys e MyWebDay da Odebrecht, foram identificados registros de cinco pagamentos das propinas que foram estabelecidas na forma descrita acima, que totalizaram R$ 3,5 milhões, entre os meses de setembro a outubro de 2014. Os endereços de entrega eram no município de São Paulo, em condomínio relacionado à sogra de Jorge Atherino.

Entre os pagamentos, está o próprio Deonilson Roldo, que entre os meses de setembro e outubro de 2014 depositou R$ 90 mil em espécie, de forma fracionada, em conta correntes que controlava.

Outro lado

Procurado pela reportagem, Deonilson Roldo disse que não tinha conhecimento da denúncia. Em ocasião anterior, quando um áudio em que ele foi gravado conversando com o dono da construtora envolvida, o ex-chefe de Gabinete disse que a obra em questão não foi realizada.  "Eu apenas defendia o interesse do Estado. A obra acabou não sendo construída pela Odebrecht, que teria sido favorecida", argumentou Deonilson ao Bem Paraná.

Em nota, a defesa de Beto Richa afirma que as alegações do MPF “não apresentam qualquer sustentação”. “A obra de duplicação da rodovia PR-323 nunca aconteceu. Também nenhum recurso público, de origem federal ou estadual, foi aportado na licitação. Não houve também qualquer direcionamento em licitação. Tanto é assim que a Corte Especial do STJ decidiu de forma unânime que tal investigação deva ocorrer na Justiça Eleitoral, na qual será comprovada, sem sombra de dúvidas, a lisura dos atos do ex-governador. Infelizmente, tornou-se comum delatores apresentarem falsas afirmações na tentativa de se verem livres das penas que, certamente, serão condenados pelos graves crimes praticados”, diz Richa em nota.

O advogado Carlos Farracha, que defende Jorge Atherino, disse que ainda não analisou a denúncia. "O que posso dizer, por enquanto, que meu cliente está a disposição da Justiça", disse.

A reportagem não conseguiu contato com os outros citados.