MARCELO TOLEDO, NATÁLIA PORTINARI E TALITA FERNANDES

RIBEIRÃO PRETO, SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A paralisação dos caminhoneiros que afetou 18 estados foi sentida especialmente em São Paulo e Minas Gerais. Levantamento da Abcam mostra que Minas foi o estado com mais pontos de paralisação, um total de 15 segundo a entidade. Cerca de 300 mil caminhoneiros pararam em algum momento as atividades no país, conforme a associação.

Os caminhoneiros pedem mudanças na política de reajuste dos combustíveis da Petrobras, com a redução da carga tributária para o diesel, além de isenção da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).

“Acreditamos que o objetivo foi atingido. O que está acabando com o transporte rodoviário de carga são os impostos embutidos no óleo diesel”, afirmou José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam.

Segundo ele, em média 42% do custo do frete se refere ao diesel e, quando o motorista pega um frete por R$ 4.000, “não ganha nem para chiclete”. “Ele vende o almoço para comprar a janta, pois está pingando para ele. Não tem ponto de apoio decente, não tem segurança nas rodovias e não está conseguindo manter a família com o mínimo de tranquilidade e rentabilidade.”

Na maioria dos estados, os caminhoneiros desencadearam a operação tartaruga, o que deixou o tráfego lento. Em outros locais, houve interdições totais ou parciais e queima de pneus.

Em São Paulo, pontos de manifestação afetaram o trânsito após bloqueio de pistas da marginal Pinheiros e da avenida Jacu-Pêssego, na zona leste.

O protesto ganhou força por volta das 7h40, quando quatro caminhões, um em cada faixa, passaram a trafegar lentamente pela marginal Pinheiros segurando o fluxo de veículos na pista expressa, sentido Castelo Branco.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que não houve nenhum tumulto além da lentidão. Por volta das 9h30, um caminhão segurava o trânsito em uma faixa da direita na avenida Escola Politécnica, também na zona oeste.

No interior, caminhoneiros fizeram protesto em Paulínia, em frente à Replan, uma das principais refinarias do país, e em Bauru, Votorantim e Cravinhos, entre outras cidades.

Em Cravinhos, bloquearam a Anhanguera e pneus foram queimados no sentido interior-capital. O motorista João Alberto Mendes disse que participava do ato por não ver outra possibilidade de reverter a insatisfação do setor. “Todos reclamam, em todos os lugares. Não é possível que todos estejam errados.”

Lopes disse que a queima de pneus representa a revolta do setor e que, se houver reajuste do diesel, a situação pode piorar. “Aí vai virar guerra. Não é isso que nós queremos.”

Mantendo a sua política de preços, a Petrobras anunciou que nesta terça-feira (22) faz reajuste de 0,9% no preço da gasolina, que passa a R$ 2,0687 o litro, e no diesel, de 0,97%. O diesel acumula alta de 12,3% no mês, e deve passar a custar R$ 2,3716 a litro. A flutuação acompanha a alta do dólar e as cotações internacionais de petróleo.

As rodovias Anchieta (SP-150) e Cônego Domênico Rangoni (SP-248) também tinham pontos de interdição pela manhã, segundo as concessionárias responsáveis pelos trechos.

A CCR NovaDutra conseguiu, na sexta (18), liminar proibindo a interdição total da Dutra sob multa de R$ 300 mil por dia. No Paraná, também foi concedida liminar proibindo bloqueios em rodovias sob pena de R$ 100 mil por hora de interdição.

Segundo a concessionária da Dutra, porém, quatro trechos estavam interditados de manhã –Guarulhos, Lorena, Pindamonhangaba e Jacareí.

Lopes disse que, se houver negociação e a retirada de impostos do diesel, o movimento termina imediatamente. “Tivemos greve em 2013, 2014 e 2015 e não aconteceu nada. O governo criou grupos de trabalho que não resolveram nada.”

Também foram registrados protestos no Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Ceará, Paraíba, Tocantins, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Pará e Bahia.

Segundo a Abcam, a orientação era não bloquear estradas ou queimar pneus.

Mas bloqueio total ou queima de pneus foram registrados também na BR-116, no Paraná e na Bahia, na BR-101, em Santa Catarina, e no km 513 da Fernão Dias, em Minas.

De acordo com a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), foram registrados 188 pontos de paralisação no país, sendo 7 no Norte, 38 no Centro-Oeste, 27 no Nordeste, 55 no Sul e 61, no Sudeste.