Marcelo Camargo/Agência Brasil – Moro: militares intervieram

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, avisou nesta quinta-feira (23) que pode deixar o governo após o presidente Jair Bolsonaro comunicá-lo que trocará o comando da Polícia Federal, atualmente ocupada por Maurício Valeixo. Após a repercussão da possibilidade de demissão de Moro, Bolsonaro recuou e desistiu de trocar o comando da corporação. No início da noite, o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, limitou-se a dizer que a informação foi descartada pela assessoria de Moro. Em nota, a equipe do ministro afirmou que não confirmava o pedido de demissão do ministro, sem negá-lo.

De acordo com interlocutores do presidente Jair Bolsonaro, Moro não teria chegado a pedir demissão ontem, mas afirmou que não concordava com a troca “de cima para baixo” do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e iria reavaliar a sua permanência no governo. Ao longo do dia, integrantes da ala militar entraram em campo para reverter uma possível saída do ministro.

Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo no início do ano passado. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da Operação, para assumir a diretoria-geral.

Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe. Interlocutores de Valeixo dizem que a tentativa de substituí-lo ocorre desde o início do ano, mas que não teria relação com o que aconteceu no ano passado, quando Bolsonaro tentou pela primeira vez trocá-lo por outro nome. Na ocasião, o presidente teve que recuar diante da repercussão negativa que a interferência no órgão de investigação poderia gerar.

De cima
Aliados de Moro afirmaram que o ministro não aceitaria a troca de Valeixo nas condições que o presidente está colocando, de “cima para baixo”. No ano passado, após Bolsonaro antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, ministro e presidente travaram uma queda de braço pelo comando da PF.

Em agosto, o presidente antecipou o anúncio da saída de Ricardo Saadi do cargo, justificando que seria uma mudança por “produtividade” e que haveria “problemas” na superintendência. A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”. Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que “quem manda é ele” e que, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.