Dia desses, perambulando pelas redes sociais, me deparei com um post que reunia alguns dados sobre como a situação da mulher brasileira foi impactada pela pandemia do novo coronavírus. Uma das informações que mais me chamou a atenção foi a de que a nossa participação no mercado de trabalho é a mais baixa desde 1990: de acordo com o Ipea, no último trimestre de 2020, apenas 45,8% das mulheres estavam trabalhando.

Se a gente já é maioria nas universidades 一 as mulheres representam 57,2% dos alunos matriculados no ensino superior, segundo pesquisa do Inep 一 e mesmo assim continua sendo preterida no mercado de trabalho 一 seja ao encontrar maiores dificuldades para a inserção, seja ao receber salários, em média, 22% menores 一, o que fazer para transpor esse abismo profissional que nos separa dos homens?

A única solução que eu consigo propor diante desse paradoxo é que nós, mulheres, continuemos estudando. Sempre que possível e cada vez mais. Porque, para além de uma ferramenta de transformação de realidades, a educação é a arma mais efetiva para combater todo e qualquer tipo de desigualdade 一 inclusive a de gênero.

No meu trabalho à frente da área de Riscos e Crédito Digital no Pravaler, eu tenho a felicidade de poder facilitar o acesso das pessoas à educação. Mas a minha conexão com a educação, na verdade, é de antes de eu nascer. E é especialmente feminina.

Venho de uma família cujas mulheres se empoderaram por meio da educação.

“Se os meninos estudam, as meninas também devem”. Pode parecer absurdo esse tipo de colocação em pleno 2021. Mas, se considerarmos que, durante mais de 300 anos da nossa história, as mulheres foram proibidas de estudar, ter uma avó que carregava consigo essa convicção foi uma fonte de inspiração e empoderamento para mim.

Nascida nos anos 30, minha avó fez Magistério e Pedagogia e começou a atuar como professora de educação infantil numa época em que, segundo o Censo, menos de 20% da população feminina trabalhava fora de casa. Ela não só estudou 一 o que era absolutamente atípico para a época 一 como trabalhou a vida inteira com educação, transformando a vida de centenas de pessoas.

Minha mãe, por sua vez, se apropriou da jornada da minha avó e foi adiante. Além da graduação em Arquitetura e Urbanismo, ela também fez mestrado e doutorado na área. Tanto é que é impossível pensar nela sem associá-la a noites e mais noites de estudo e ao conselho que ela sempre deu para mim e para a minha irmã: educação é o caminho para a independência.

Se hoje eu tenho uma carreira bem sucedida, em grande parte, é por causa dessas mulheres inspiradoras com as quais eu tive a sorte de conviver tão de perto. Se hoje eu tenho essa sede de transformar o mundo por meio do meu trabalho, é por causa dos ótimos exemplos que eu tive em família. E se hoje eu sou uma mulher que escolheu a educação como ferramenta para transformar o mundo, é porque eu vim de mulheres que me mostraram que nada nessa vida é mais poderoso do que o conhecimento bem aplicado.

Como bem disse Malala Yousafzai, a menina paquistanesa que se tornou símbolo da luta pela educação depois de ter sido baleada pelo regime talibã após sair da escola, “há duas forças no mundo: uma é a espada, a outra é a caneta. Mas há uma terceira força, mais poderosa ainda do que as anteriores: a das mulheres”.

O meu desejo mais profundo é que, não só neste 8 de março como em todos os outros dias das nossas vidas, nós, mulheres, possamos nos utilizar cada vez mais a força da caneta para transpor as desigualdades e fazer jus a todo o nosso poder.

* Ana Bárbara é Head de Risco, Crédito e Cobrança do Pravaler, responsável pela gestão de risco, modelagem e políticas de crédito, e toda a operação de cobrança da empresa.