Agência Brasil

Idealmente, um modelo meritocrático é aquele no qual os indivíduos são promovidos em função de seus méritos, e não de situações como sua origem social, a sua riqueza ou suas relações individuais. No Brasil, porém, quando se trata de questões de gênero, as desigualdades são gritantes. E as “Estatísticas de Gênero”, divulgadas na última semana pelo IBGE, traz um retrato dessa desigualdade entre homens e mulheres, revelando que embora elas tenham uma carga de trabalho total maior e possuam um nível de instrução superior, ainda recebem um salário consideravelmente inferior.

Na região sul do país, por exemplo, o rendimento habitual de todos os trabalhos é de R$ 2.549. Entre os homens, porém, o valor chega a R$ 2.894, enquanto entre as mulheres chega a 2.107. Na prática, então, temos um cenário no qual as mulheres possuem um rendimento 37,4% inferior ao dos homens.

Acontece, porém, que essa diferença não se justifica quando analisamos dados como a instrução das mulheres ou mesmo a quantidade de horas trabalhadas.

No Brasil, por exemplo, apenas 15,1% dos homens possuem ensino superior completo, enquanto entre as mulheres esse porcentual chega a 19,4%. As desigualdades raciais também chamam a atenção aqui: entre os homens, 22,7% dos brancos possuem graduação superior, ante apenas 8,9% da população preta ou parda. Entre a população feminina, 26,7% das mulheres brancas completaram o ensino superior, contra apenas 12,9% das mulheres pretas ou pardas.

Já no que diz respeito às horas trabalhadas, na região Sul elas trabalham 54,8 horas por semana, considerando o trabalho remunerado e os cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos. Já entre os homens, a carga total de trabalho é de 52,7 horas semanais. Por ano, então, as mulheres trabalham cerca de 110 horas a mais que os homens.

O principal motivo para essa diferença na carga de trabalho está justamente nas horas dedicadas aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos. No Paraná, por exemplo, os homens dedicam 11,3 horas semanais a essas atividades, enquanto as mulheres investem 20,8 horas – elas, portanto, dedicam um tempo 84% superior ao deles nessas atividades.

No Paraná, 39% dos homicídios de mulheres ocorrem no domicílio

Utilizada para a análise do fenômeno do feminicídio (definido na Lei n. 13.104/2015 como o homicídio contra a mulher por razões da condição do sexo feminino – violência doméstica ou familiar e menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher), a informação sobre local de ocorrência da violência mostra que a proporção de homicídios cometidos no domicílio tem maior vulto entre as mulheres. Em 2018, enquanto 39,3% dos homicídios de mulheres no Paraná ocorreram no domicílio, para os homens a proporção foi de 17,7%. No Brasil, esses porcentuais são de 30,4% e 11,2%, respectivamente.

Além disso, a pesquisa do IBGE também revela que em 2019 as mulheres respondiam por 13,9% do efetivo ativo das polícias militar e civil do Paraná. Ao todo, são 3.290 agentes da lei do sexo feminino, diante de um efetivo total de 23.686. Na PM paranaense, são 2.288 mulheres ante um efetivo de 19.722. Elas, portanto, respondem por 11,6% dos agentes. Já na Polícia Civil, as mulheres respondiam por 1.002 dos 3.964 agentes (25,3% do total).

Política

Mulheres ocupam menos de 16% das cadeiras no legislativo

No Paraná, o porcentual de parlamentares mulheres na Câmara dos Deputados teve um importnate aumento entre dezembro de 2017 e setembro de 2020, passando de 6,7% para 16,7%.

No ano passado, elas ocupavam cinco das 30 cadeiras do Paraná no legislativo federal, enquanto três anos antes eram apenas duas mulheres entre os 30 parlamentares paranaenses.

Na esfera municipal, também verifica-se aumento da participação feminina na vida política. Em 2016, por exemplo, apenas 477 dos 3.877 vereadores eleitos em todo o Paraná eram do sexo feminino, o que significa que elas respondiam por apenas 12,3% dos eleitos. Quatro anos depois, 572 mulheres foram eleitas, o equivalente a 15% dos 3.822 cargos em disputa.