HELOÍSA NEGRÃO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Se o Brasil não vencer na sexta-feira, eu tiro tudo e volto com as mercadorias tradicionais”, diz Adriana, ao lado da sua barraca apinhada de bonés, cartolas e bandanas com a bandeira do Brasil, na rua 25 de março, região central de São Paulo.

A ambulante disse que as vendas caíram 80% comparadas com a semana passada, antes do início dos jogos do mundial. Ela, que normalmente vende meias e sutiãs de silicone, mudou a configuração da barraca para itens em verde e amarelo, mas nenhum deles com a data ou referência a 2018 estampada. “Se não vender, eu guardo tudo para a próxima Copa”, disse, escaldada pelo prejuízo do 7×1. 

Na loja de fantasias Millor, o movimento também está aquém das expectativas. “Eu não posso reclamar por que consegui vender o estoque que estava parado desde a última Copa”, afirma o gerente Marcos Augusto de Araújo.

“Esperava mais da Seleção e das vendas”, afirma. Na loja ao lado, a World Fantasy, a gerente reclamava das pernas do Neymar no jogo de estreia: “cai toda hora”. Mas ali, a Copa não era uma grande preocupação: todos os clientes estavam em busca de trajes para festa junina. De acordo com a gerente, o vestido de festa junina estampado com bandeirinhas do Brasil estava “saindo bem”, assim como os chapéus e bandeirinhas da Copa, mas que a procura mesmo era pelas roupinhas de caipira.

Apesar das bandeirinhas nas ruas e do constante barulho das vuvuzelas e “bazucas” (invenção ensurdecedora que mistura vuvuzela e buzinas à gás), os vendedores que chamam os clientes para as lojas dos prédios da ladeira Porto Geral estavam vestindo chapéu de palha, camisa xadrez e vestido caipira. Nenhum deles usava camisa amarela.

A reportagem passou duas horas entre a Porto Geral e a rua 25 de Março e viu somente três pessoas comprando itens verde e amarelo: duas vendedoras da região, que queriam cornetinhas para ver o jogo na sexta-feira (22), com os colegas de trabalho. E Eliane, que comprou para filha um vestidinho com saiote de tutu verde. Para os filhos, também crianças, levava um conjunto que imita o uniforme dos jogadores.

De acordo com pesquisa feita pela Boa Vista SCPC, mais de 30% dos microempresários estavam animados com a chegada da Copa e esperavam faturar mais. 49% disseram que as vendas ficarão igual a 2017; e 23%, que irão diminuir. A expectativa da Univinco, associação dos lojista da 25 de Março, é as vendas em 2018 cresçam 8%.  

Na barraca em frente ao Armarinhos Fernando, o sucesso de vendas é a camisa no estilo polo (R$ 70), cópia (ou melhor, “réplica”, no linguajar da 25) do uniforme usado pela comissão técnica do Brasil. Na segunda-feira (18), só tinham quatro itens do modelo masculino e seis do feminino. As camisetas do Brasil custavam a partir de R$ 25. Os ambulantes esperavam a chegada de mais mercadoria durante a semana e estavam confiantes no aumento das vendas: “depois que ganhar a primeira partida, o pessoal se anima”, disseram. A torcida é que a vitória da seleção na sexta encha o comércio no sábado (23).

Quem também está confiante que a vitória na Rússia vai fazer as vendas da 25 aumentarem é Pierre Sfeir, dono da Festas e Fantasias, principal loja de fantasias da Ladeira Porto Geral. “O pessoal comprou bastante camiseta, chapéu, óculos e pinturas para o rosto”, afirma. Ele conta que no final de maio e no dia seguinte ao anúncio da escalação por Tite a procura por artigos verde e amarelo aumentaram.

De acordo com o comerciante, as vendas de junho estão 40% maiores que em 2017. “Se o Brasil perder [dá tapinhas leves na boca] a situação vai ficar ruim, mas por enquanto está boa”, afirma. A expectativa é que a loja venda o dobro do valor de junho de 2017.