Marcelo Camargo/Agência Brasil

Esse tema é polêmico, pois, nos últimos anos houve, de uma forma quase que natural, um processo de glamourização do excesso de trabalho. Foi se tornando cada dia mais comum, aceitável e, na verdade, desejável, ser um profissional que ostenta o título de 24×7, que pode ser acionado a qualquer momento que “dá conta” de tudo. Mas, acho que é hora de questionar essa visão.

O problema é que por trás de toda essa pretensão, existe um ser humano. E claro, a médio e longo prazo, além de ser insustentável, tal crença pode causar um efeito contrário destrutível.

Sabe aquela máxima de que: “quem se dedica exclusivamente ao trabalho, deixa de viver e desejar em outras coisas”? Ela é verdadeira e o principal resultado é esse, pais ausentes, maridos e esposas que não se dedicam com o mesmo afinco aos seus relacionamentos, assim por diante.

A longo prazo essa conta é cobrada da pessoa de forma negativa, em minha opinião e experiência à frente de uma empresa, a busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional nunca foi tão necessária e consciente. Podemos sim ser profissionais notáveis, autoridades e referência no mercado, mas desde que isso não lhe custe o resto de sua vida. É um preço alto demais a se pagar.

Um debate que se intensificou nos últimos anos é sobre a adesão e escolha dos profissionais pelo home office. Mesmo que motivadas inicialmente pela obrigação da pandemia, algumas pessoas descobriram a liberdade de poder trabalhar de casa, de passar mais tempo com a família, evitar trânsito, entre outras descobertas irreversíveis.

Sabe por que irreversível? Agora, no atual momento, em que as medidas estão cada vez mais flexíveis e tudo está voltando à rotina “normal”, está em curso o que eu e outras pessoas já havíamos apontado lá atrás: as empresas e profissionais que tiverem a oportunidade de se manter em casa, vão fazê-lo.

E com isso, o que vivemos hoje é justamente o contrário do que prega os chamados workaholic. Olha que sintomático, os Estados Unidos registraram, do ano passado para 2022, recorde de pedidos de demissão. O movimento, que recebeu o nome de “A grande renúncia”, fez com que atualmente mais de 10 milhões de vagas estejam disponíveis no país.

Não é difícil imaginar o porquê deste movimento. Segundo especialistas, os pedidos de demissão em massa estão relacionados com a pandemia e pelo fato de as pessoas terem começado a colocar mais as coisas na balança.

Portanto, já não era de hoje, mas agora está latente o fato de que não é apenas o salário que leva a pessoa a escolher o emprego, mas também flexibilidade, benefícios e agora, mais do que nunca a qualidade de vida. Definitivamente não cabe mais a glamourização de ser workaholic.

Benito Pedro Vieira Santos – CEO da Avante Assessoria Empresarial — Vice-Presidente do Grupo Alliance – Especialista em Reestruturação de Empresas