SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A eleição de Jair Bolsonaro como próximo presidente do Brasil não representa a volta dos militares ao poder. Foi o que disseram representantes do alto escalão das Forças Armadas em reportagem publicada nesta segunda-feira (12) no jornal Financial Times.

“Os militares estão ausentes da política desde 1985, depois do fim do governo militar, e é assim que eles pretendem se manter, independente de o presidente eleito ser um capitão reformado do nosso Exército Brasileiro”, disse Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, em entrevista ao jornal.

A retórica de Bolsonaro, que expressa admiração pelo regime militar, e a abertura de espaço para oficiais das Forças Armadas na equipe de transição e no seu futuro governo, são vistas como indícios de um retorno dos militares à política. E também de uma possível guinada a um regime autoritário.

Villas Bôas descarta esse cenário e diz que o Brasil é um país politicamente maduro, com instituições fortes. “O Brasil não se tornará um país fascista. Isso não é da nossa natureza. As Forças Armadas adotaram o eixo democrático da Constituição Federal. Não há espaço para aventuras exóticas”.

O comandante do Exército também foi questionado sobre o tema pela Folha de S.Paulo, em entrevista publicada no último domingo (12). Villas Bôas disse que Bolsonaro “é muito mais um político” do que militar e também descartou seu governo como uma volta das Forças Armadas ao poder.

“Alguns militares foram eleitos, outros fazem parte da equipe dele, mas institucionalmente há uma separação. E nós estamos trabalhando com muita ênfase para caracterizar isso, porque queremos evitar que a política entre novamente nos quartéis”.

No entanto, o comandante do Exército admitiu que o apelo de parte da população por uma volta dos militares ao poder se deve ao fato de as Forças Armadas representarem um repositório de valores mais conservadores. E viu com bons olhos a ascensão de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

“Fiquei com a sensação de que a eleição do Bolsonaro liberou uma energia, algum nacionalismo que estava latente e que não podia ser ser expresso. Só podia haver nacionalismo de Copa do Mundo, seleção brasileira. Nesse sentido, acho a eleição positiva”.