Franklin de Freitas – Oriovisto Guimaru00e3es

Fundador do Grupo Positivo, o empresário aposentado e ex-professor de matemática, Oriovisto Guimarães, afirma que decidiu entrar na política aos 72 anos, como pré-candidato ao Senado, por ‘não suportar mais ver o País do jeito que está’. Afastado das empresas desde 2012, quando transferiu suas ações para os três filhos, ele admite ter “dinheiro suficiente para viver até morrer sem precisar trabalhar mais”, e por isso mesmo, considera ter liberdade e autonomia para colocar sua experiência à serviço do País, sem a preocupação com cargos ou benesses. “Fui convidado a ser candidato muitas vezes e nunca quis porque eu era empresário”, conta.
Em 2012, quando deixou a presidência do grupo –  que começou como um cursinho pré-vestibular em 1972 e agora, além de ensino e informática, tem atuações nas áreas editorial e gráfica – as empresas juntas faturavam R$ 3,5 bilhões por ano e empregavam 10 mil funcionários. Como pré-candidato, Oriovisto é um liberal que defende o Estado mínimo e um novo modelo de gestão do dinheiro público, mas reconhece a importância do poder público na educação, área da qual demonstra mais intimidade. “O Prouni é maravilhoso”, diz ao elogiar o programa de inclusão social em universidades privadas criado pelo ex-ministro Fernando Haddad (PT). “Foi uma sacada muito inteligente do governo federal”, admite. 
Oriovisto nunca concorreu a um cargo público, mesmo tendo sido filiado ao PSDB, diz que sempre foi ligado à política, e revela que já fez doações a políticos como pessoa física. Viu no convite de seu amigo senador Alvaro Dias, também ex-tucano, e agora presidenciável do Podemos, uma oportunidade de contribuir mais diretamente. Ele revela que sua ligação com a política começou na juventude, no movimento estudantil, quando chegou a ser preso pela ditadura militar. Ficou uma semana na cadeia, junto com uma porção de estudantes que desobedeceram a ordem de não participar do congresso na União Nacional dos Estudantes em 1968. “Comunista eu nunca fui. Defendia a liberdade e a democracia”, esclarece. 

Bem Paraná – O senhor foi preso na ditadura. Qual era sua posição política na juventude, o senhor era um jovem comunista? 
Professor Oriovisto – Não, comunista eu nunca fui comunista. Eu era um jovem que estava no movimento estudantil. Naquela época, 1968/69, era um regime de ditadura militar. Não podia se expressar, não podia falar nada contra o regime porque ia em cana mesmo, sem pensar duas vezes. E eu participei de um congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) na época, mas era uma UNE muito diferente dessa que tem hoje. Não tinha ligação com PT, aliás, PT nem existia. Fazia o que todas as forças democráticas, o PMDB, o velho MDB de Ulisses Guimarães, faziam, lutávamos para que pudéssemos votar, ter eleições e liberdade. E eu participei bastante de movimento estudantil em busca dessas liberdades. Em lugar nenhum do mundo que tem ditadura a coisa vai bem. E todos os países que vão bem são regimes democráticos. O Brasil, como todos os países do mundo, tem que ter um governo. A democracia tem muitos defeitos, principalmente quando o governo é tomado por políticos corruptos e sem-vergonha. Ainda assim a democracia é o melhor regime que existe no mundo. Todos os países ricos e civilizados são democracias. 

BP – O senhor foi torturado? 
Oriovisto – Fui preso, fui interrogado, fiquei uma semana na cadeia em São Paulo, no presídio Tiradentes. Eu estava em um congresso estudantil e esse congresso era proibido, mas só por isso fui preso. Eu e mais de mil estávamos presos lá. O governador do Paraná na época era Paulo Pimentel. Ele mandou um ônibus para lá e trouxe todos nós de volta. Chegamos aqui no Paraná, ele soltou todo mundo e não tivemos maiores problemas. 

BP – Por que um empresário bem sucedido entraria para a política em um momento tão conturbano no Brasil?
Oriovisto – Desde a juventude, sempre fui ligado à política, sempre gostei de política, mas nunca fui político. Nunca fui candidato a coisa nenhuma. Fui convidado uma vez para ser candidato a prefeito, não quis. Fui convidado para ser secretário de Estado, não quis. Fui convidado a ser candidato a vários cargos. Nunca quis. Porque eu era empresário. Eu acho que o sujeito ou é empresário ou é político. Fazer as duas coisas junto, não dá certo. Empresário é uma coisa, político é outra. Agora não sou mais empresário, deixei minha empresa, me aposentei, passei a parte que eu era sócio para os meus filhos. Então, tenho ainda muita saúde. Faço duas horas de ginástica por dia, conheço bastante os problemas do Brasil, amo esse país; não preciso ir lá para ganhar salário de senador, graças a Deus tenho dinheiro suficiente para viver até morrer sem precisar trabalhar mais. Mas eu não posso suportar mais ver esse País do jeito que está. Cada político desse, sem vergonha, que emprega um monte de gente, que tem privilégios, que rouba dinheiro da educação, que rouba dinheiro da saúde, que rouba dinheiro da segurança, ele está prejudicando muita gente. Nós entregamos 35% do que a gente ganha, em imposto, para esses governos, estadual, municipal e federal. Se esse dinheiro fosse bem usado esse País poderia ser muito mais feliz. 

EDUCAÇÃO
‘Prouni foi uma sacada muito inteligente’

Bem Paraná – Caso eleito, o senhor não acha que sua presença no Senado traria um conflito de interesses, pelo fato de o senhor ser um representante da educação privada?
Oriovisto Guimarães – Primeiro, eu não tenho nenhuma ligação com nenhuma empresa. Me afastei totalmente há cinco anos do Grupo Positivo, fui presidente do grupo por 40 anos, mas saí, saído. Não faço parte de conselho, não tenho nenhuma ação mais. Decididamente não sou mais empresário. Não há nenhum conflito de interesses. Enquanto havia algum conflito de interesses eu não aceitei ser candidato.  

BP – Dizem que a ascenção da Unicenp veio na época do Prouni, beneficiada com financiamento público. Como o senhor vê esse meio de financiamenro indireto do Estado para o ensino privado? É uma espécie de estatização do ensino privado? 
Oriovisto – Todas as universidades privadas pagavam imposto ao governo federal. O que surgiu no governo do PT, quando o Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, que era o ministro da Educação? Ele propôs o seguinte: as universidades deixaram de pagar o imposto e passaram a pagar esse imposto com bolsa de estudo. Foi uma sacada muito inteligente do governo federal. Quando nós entregávamos o dinheiro para o governo, esse dinheiro acabava se perdendo no Ministério da Educação, pagando burocrata e um monte de gente que não tinha nada a ver com Educação e não beneficiava o povo, não beneficiava os estudantes. Com essa troca, de a gente dar ensino gratuito para quem o ministério indicasse, todo esse dinheiro foi para os alunos pobres que passaram a se beneficiar. O governo federal criou mais de 300 mil vagas que se fosse criar nas universidades federais custaria 10 vezes mais, porque pegou universidades já prontas, e usou as vagas que a universidade privada tinha. Todas as universidades privadas passaram a pagar os impostos dando gratuidade para alunos de bom desempenho no Enem e que fossem pobres. Um programa maravilhoso. Para a universidade não fez a menor diferença, porque tanto faz, não muda muito. Para a população, para os estudantes, esses, sim, tiveram benefício enorme. 

BP – O senhor é a favor da cobrança de mensalidades em universidades públicas?
Oriovisto – Depende. Mesmo nas universidades privadas têm muitas vagas dadas de graça através do Prouni. Se tem vagas gratuitas em universidades privadas, é claro que tem que haver vagas gratuitas nas universidades públicas também. O que mais sou a favor na universidade pública não é necessariamente cobrar mensalidade, mas usar melhor o dinheiro que eles gastam, ter um gerenciamento mais de perto. O custo por aluno é muito alto. Poderia usar o mesmo dinheiro e atender duas ou três vezes mais do que atendem hoje. 

BP – O senhor acompanhou a reforma no ensino médio, foi a favor, tem alguma correção a fazer?
Oriovisto – A reforma no ensino médio foi excelente. Foi uma belíssima tacada. Tem muito interesse de corporação, de sindicato envolvido nisso, muita gente falando mal, mas acho que a reforma foi muito boa. Deu liberdade às escolas.  As escolas são mal geridas. No Paraná, 80% dos alunos estudam em escolas públicas. Como essas escolas são administradas? O diretor não pode mandar nenhum professor embora, não pode dar prêmio para os melhores professores, não pode punir os ruins. O diretor não pode nada. Se quebrar um vidro na escola, ele não pode mandar trocar. 

BP – O ideal seria um diretor nomeado ou eleito democraticamente?
Oriovisto – Olha, eu gosto muito de democracia. Mas você já pensou se os passageiros do avião fizessem uma votação para eleger qual dos passageiros vai ser o piloto do avião? Não dá, né? Tem coisas que tem que ser decidida não por eleição, não por democracia. Tem que coisa que tem que ser decidida por competência. Diretor tem que ser um gestor. Tem que entender de educação profundamente, tem que ser líder e tem que ser um cara que realmente se imponha. Aí sim o Estado poderia interferir, selecionando pessoas pela capacidade. 

CAMPANHA
‘Não vou pedir dinheiro para ninguém’

Bem Paraná – O que acha dessa nova legislação que permite que candidatos financiem as próprias campanhas, praticamente sem limites? Na prática, isso favorece os candidatos mais ricos. O senhor acha justo?
Oriovisto Guimarães – A proibição de empresas darem dinheiro para político acho excelente. Tem que proibir mesmo, porque a corrupção começa aí. 
BP – O senhor já fez doação eleitoral?
Oriovisto – Fiz, como pessoa física, não como empresário. Fiz a alguns candidatos que eu achei que devia apoiar e apoiei. Dei, declarei, está no meu imposto de renda, está lá. E posso fazer de novo. Não vejo problema nenhum. A doação de pessoa física em valor pequeno, limitado a porcentual mínimo que pode fazer do que se teve de rendimento do ano passado, assim como tem dízimo para igreja, assim como tem o cara que se resolve apoiar uma causa, assim como você pode doar para uma instituição de caridade. Se quer doar, participar, que doe, que participe. Mas não assim, uma empresa dá R$ 1 milhão, dá R$ 500 mil, e depois o político fica na mão da empresa. Isso é começo de corrupção. Hoje tem o fundo partidário, que é dinheiro público que vai para campanha. 

BP – Como o senhor pretende financiar sua campanha já que o Podemos não tem dinheiro? 
Oriovisto – O Podemos não tem quase nada. Eu, particularmente, não vou receber nenhum tostão. Primeiro porque eu não preciso. E digo mais: eu não vou pedir para ninguém, que ninguém me dê dinheiro. Já aviso meus amigos que vão ler o seu jornal que eu estou dispensando ajuda financeira. Eu quero ajuda de quem pensa como eu. Vou fazer uma campanha muito barata. 

BP – Quanto o senhor pretende gastar?
Oriovisto – Não tenho cálculos precisos ainda, está muito no começo. Vou gastar muito menos do que a lei permite (R$ 3,5 milhões, no caso de candidato ao Senado pelo Paraná). Já tem o horário gratuito na televisão. O horário do Podemos também vai ser pequeno, mas espero aumentar com coligação com outros partidos que acho que até lá acontece. E tem a possibilidade de fazer palestras, que custa quase nada. Tem a possibilidade de entrevistas, com esta, que estou concedendo e que ajuda muito. Já dei entrevistas a várias rádios e emissoras de televisão. Tenho viajado o Paraná e conversado. E tem a possibilidade hoje de um telefone celular de passar um whatsapp para 100 mil pessoas.     

GOVERNO DO ESTADO
‘Alvaro tem que ficar neutro; Osmar respeita isso’

Bem Paraná – Pouca gente conhece seu nome ainda, em pesquisas espontâneas não aparece. O senhor conta com a popularidade de Alvaro Dias para ficar conhecido?
Oriovisto Guimarães – Eu não espero ser eleito porque Alvaro Dias me apoia. Espero ser eleito se eu conseguir apresentar minhas propostas, convencer um número suficiente de eleitores. Tenho uma vida limpa, nunca tive um processo na minha vida, de coisa nenhuma. Nunca estive envolvido em nenhuma negociata, nunca fui político. E não preciso ir lá para fazer negociata. Eu tenho minha vida resolvida.   

BP – Como vê a situação do senador Alvaro Dias e ex-senador Osmar Dias, que não podem declarar apoio mútuo, mesmo sendo irmãos? 
Oriovisto – São irmãos, mas são duas pessoas. Se dão muito bem, já presenciei, se dão muito bem. Além de irmãos são bons amigos. Como Alvaro tem essa posição de querer ser presidente, ele tem que estar bem com todos os candidatos. Se você me perguntasse quem é o candidato do coração do Alvaro eu não vou dizer, porque não quero influenciar os eleitores. Mas é uma coisa que parece mais ou menos óbvia. Mas ele tem que ter essa postura, compromisso com todos os candidatos de não apoiar nenhum dos candidatos. Ele ficou neutro. E Osmar respeita isso. Do lado dele já disse que vai votar em Alvaro Dias, que apoia Alvaro. 

BP – Quem será o seu suplente e como o senhor vê esse modelo que muitas vezes coloca suplente de indicação, que acabam assumindo como senadores virtuais?
Oriovisto – Isso está na lei. O tribunal exige. Você só consegue registrar uma candidatura ao Senado se você registrar um suplente. Um, não. Dois suplentes. Eu não gosto dessa figura do suplente e acho que a maioria dos políticos não gosta. Mas é assim, se morrer um o outro assume.
 
BP – O que o senhor acha de políticos do Legislativo serem indicados a cargos no Executivo ou pelo Executivo, em ministérios, secretarias, empresas públicas?
Oriovisto – Sou absolutamente contrário. Tinha que ter uma lei proibindo isso. O deputado que pedisse para indicar um ‘cupincha’ dele para ser, sei lá, diretor financeiro dos Correios. O cara quando pede isso deveria ser preso. Por que ele quer nomear o diretor financeiro de uma estatal? Para fazer fundo partidário ou para roubar, para fazer maracutaia. Função de deputado e função de senador não é isso.