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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em uma reunião rápida com senadores americanos em Washignton, o vice-presidente Hamilton Mourão precisou defender Jair Bolsonaro e responder se o presidente brasileiro é realmente um democrata.

Logo no início de um encontro com quatro senadores dos EUA, Mourão foi questionado e respondeu ao senador democrata Bob Menendez, de oposição a Donald Trump, que Bolsonaro respeita a Constituição e o sistema eleitoral do país.

“Perguntaram se o presidente Bolsonaro realmente é um democrata e deixei claro que ele é um homem que está pensando nas próprias gerações, e não nas próximas eleições, e que ele respeita totalmente nossa Constituição, nossas instituições e o sistema que temos no Brasil”, afirmou Mourão.

A reunião aconteceu no gabinete do republicano Marco Rubio, principal voz no Congresso dos EUA em assuntos sobre América Latina e um grande defensor da aproximação com o Brasil. Rubio, que faz parte da bancada anti-castrista, defende uma abordagem mais dura à ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela. 

Menendez, por sua vez, é do Partido Democrata, mas tem se alinhado a algumas posições de Rubio em relação à crise no país latino-americano.

O senador democrata, porém, é contrário a uma intervenção militar na Venezuela, assim como Mourão.

E foi justamente esse assunto mais uma vez o tema principal da conversa de Mourão nos EUA.

Segundo o vice-presidente, Rubio não pediu nenhum tipo de endurecimento da postura do Brasil em relação a Maduro e também “não reclamou” quando Mourão afirmou que, ao Brasil e aos EUA, na sua avaliação, cabe apenas fazer pressão política e econômica -a militar é tarefa das Forças Armadas venezuelanas.

“Expresso a nossa posição de manter pressão política e econômica e a questão das Forças Armadas venezuelanas terem condição de neutralizar as milícias e os coletivos por lá. Ele [Rubio] não tocou em nenhum assunto diferente do que falei aqui, não abordou nenhum tipo de opção além dessas que falei”, disse Mourão.

O general se reuniu nesta segunda-feira (8) com Mike Pence, vice-presidente americano, também para tratar de Venezuela, e descartou qualquer tipo de ação além da ajuda humanitária na fronteira. 

“Nenhum deles reclamou”, repetiu Mourão ao ser questionado sobre a postura ser bem mais amena do que aquela defendida por Trump e Rubio, por exemplo.

Desta vez, Mourão afirmou que a comunicação entre militares brasileiros e venezuelanos foi tratada na conversa com Rubio -e também com Pence. No entanto, após o encontro com o vice na segunda, o general havia dito a jornalistas que isso não tinha sido discutido. 

“Essa pergunta tinha sido feita por Pence e sempre coloco para ele que o ministro da Defesa venezuelano tem algum tipo de contato com o nosso ministro e temos oficiais mais novos dos dois países que fizeram curso juntos e essa turma se comunica no canal informal”.

Questionado se não estava se contradizendo, Mourão afirmou: “Foi tratado [com Pence] em alto nível e não nesse nível menor”.

Após a reunião desta terça, Rubio afirmou, via assessoria, que vai continuar trabalhando “com nossos aliados no Brasil para restabelecer a democracia na Venezuela”.

Ainda de acordo com Mourão, os senadores conversaram sobre deixar de lado a retórica e intensificar de fato o comércio dos EUA com o Brasil, a entrada do país na OCDE e a base de Alcântara -resultados da visita de Bolsonaro a Washington, em março.

Antes de ir ao Congresso, Mourão fez musculação e visitou o National Museum of the American Indian, acompanhado pelo ajudante de ordens e seguranças.

O encontro de Mourão com parlamentares tanto do Partido Republicano como do Partido Democrata foi visto como mais um movimento de contraponto a Bolsonaro.

Em março, o presidente solicitou um encontro com a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, líder de oposição a Donald Trump. A reunião, porém, não aconteceu, porque o Congresso estava em recesso, segundo o gabinete de Pelosi.

Autoridades americanas afirmam que o roteiro de Mourão está sendo observado com atenção. Isso porque empresários e integrantes do governo dos EUA consideram pouco comum um vice viajar ao país tão pouco tempo depois de um presidente ter passado por lá.

No bipartidarismo americano, é desejável o diálogo com ambos os lados para que se tenha uma relação política e diplomática eficaz.