Depois de ser secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano do governo Beto Richa por quase quatro anos, o deputado estadual Ratinho Júnior (PSD) deixou o cargo em setembro para preparar sua pré-candidatura à sucessão estadual. Mesmo assim ele garante que sua candidatura não representa o grupo do atual governador, mas sim um grupo político próprio, independente. E diz não temer que o desgaste sofrido por Richa em razão do ajuste fiscal contamine sua campanha. 

Na terceira da série de entrevistas do Bem Paraná com os pré-candidatos ao governo, o parlamentar explica porque não quis votar o projeto do governo que congelou os salários dos servidores públicos estaduais por dois anos, minimiza a possibilidade de uma disputa com a vice-governadora Cida Borghetti (PP) e fala sobre a citação a seu nome na delação de um envolvido na operação Pecúlio, que investiga irregularidades na prefeitura de Foz do Iguaçu.

Bem Paraná – O senhor disputou a prefeitura de Curitiba em 2012, chegando ao segundo turno, vencido por Gustavo Fruet. Quais as lições o senhor dessa disputa que pretende levar para a disputa pelo governo em 2018?

Ratinho Júnior – Tudo é um aprendizado. Cada eleição tem uma característica. A lição para o Legislativo é uma, para um cargo majoritário, executivo, é outra. E cada eleição também tem a sua característica. Acredito que a eleição do ano que vem, por ser mais curta, vai ser muito mais no corpo a corpo. Vai ser muito utilizada também as redes sociais. Isso vem crescendo de uma eleição para a outra. De 2012 eu tiro a experiência de ter participado de grandes debates. Para mim foi uma oportunidade, acima de tudo, até para eu me apresentar para o eleitor, na época de Curitiba, de uma maneira diferente. Porque as pessoas me viam como um candidato ao Legislativo, que você muitas vezes não tem uma oportunidade, a tua participação no horário eleitoral é menor. Em uma candidatura ao Executivo você tem mais exposição e mais oportunidade de poder expor ideias.

BP – Acha que hoje está mais preparado do que há cinco anos para disputar um cargo majoritário?

Ratinho Jr – Eu acho que isso é natural. Porque é o dia a dia que vai te dando experiência. Eu tenho me preparado e buscado fazer isso há quinze anos, desde o primeiro momento em que entrei na vida pública. Tenho procurado estudar, viajar, conhecer coisas que deram certo, que não deram certo, no Brasil e fora do Brasil. E também nesse tempo eu tive a oportunidade de ser secretário de Estado, isso obviamente te dá uma boa possibilidade de demonstrar o seu trabalho. E automaticamente também te dá oportunidade de conhecer o funcionamento de forma muito próximo da máquina pública. Os desafios que a gente vai ter para frente. Eu já tinha uma certa experiência na iniciativa privada na área administrativa que eu não vejo que muda muito para a área pública a não ser a parte burocrática que é muito maior. Mas os desafios de uma boa gestão é uma boa equipe, você colocar as peças certas no lugar certo, pessoas que tenham capacidade técnica de gerenciamento e você sendo o comandante da equipe, sabendo muito onde quer chegar, fazendo muito planejamento. E tenho certeza que a gente conseguiu bater todas as expectativas e até acima do que esperávamos.

BP – Qual o principal desafio do próximo governo?

Ratinho Jr – Vejo que não apenas no governo do Paraná, mas do modo geral no País, o grande desafio desse novo momento que o País cobra dos homens públicos é poder impor na administração pública uma melhor prestação de serviços. É público que hoje o volume de impostos que nós pagamos é algo muito grande para o cidadão. O cidadão está hoje praticamente escravizado para manter a máquina pública. Tira da sua mesa para dar para o governo. E essa prestação de serviços, essa riqueza gerada pelo trabalhador – porque quem gera riqueza é o trabalhador. É a força do trabalhador com a força do empregador, do comerciante, do empresário. Essa riqueza que o poder público pega da mesa do trabalhador para transformar, devolver isso em prestação de serviços está muito ruim. Então é necessário que a máquina pública seja modernizada. Isso você tem que trazer tecnologia, tem que modernizar com treinamento o servidor público. Capacitando para que ele possa estar antenado às mudanças que vêm acontecendo na sociedade e também no mundo para que o poder público possa prestar um bom serviço. Infelizmente hoje tem áreas que são melhores, mas se você pegar em um quadro de qualificação, o poder público, daquilo que ele cobra do cidadão, o retorno está muito aquém do que deveria. Então esse novo momento que o brasileiro cobra – além da seriedade com o dinheiro público com todos esses escândalos – é a máquina pública conseguir prestar um bom serviço pelo volume que ela cobra do cidadão.

BP – O governo Beto Richa sofreu um grande desgaste com o ajuste fiscal iniciado em 2014, com queda brusca na avaliação da atual administração nas pesquisas, em especial após o episódio do confronto entre policiais e servidores em 29 de abril de 2015. Como avalia esse episódio hoje?

Ratinho Jr – São duas avaliações. Primeiro a reforma fiscal eu vejo que era necessária ser feita, tanto que quem não fez está passando por dificuldades. Você pega o exemplo do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. São três estados que são musculosos, que sempre foram muito fortes em termos econômicos no País e hoje têm dificuldade de pagar a sua folha. Então eu vejo que naquele momento a coragem do governo do Estado em fazer as reformas com toda a dificuldade, porque nunca é tranquilo muitas vezes você ter que aumentar imposto. Mas enfim, antecipou soluções para o problema. Isso foi importante para o Paraná. O Paraná, em termos de economia, tanto na parte privada, quanto na parte pública do governo do Estado teve um avanço grande. O Paraná não sentiu tanto a crise. Agora, sobre a questão do episódio é algo que nós temos a lamentar e torcer para que a história não se repita no futuro porque onde há violência não é admissível que possa acontecer. Acho que houve excesso de ambos os lados. Espero que sirva de lição para as próximas gestões.

BP – Como ex-secretário do governo Richa, teme que o desgaste pelo ajuste afete sua candidatura, em especial entre os servidores públicos?

Ratinho Jr – Eu acredito que não, até porque eu tinha servidores públicos como secretário. Todos me acompanharam e puderam ver a maneira como eu trabalhava, de uma forma de muito diálogo dentro da equipe. Até o próprio Paranacidade que é uma autarquia, que tinha uma certa autonomia mas eu era responsável, sempre tivemos um convívio muito bom em termos de poder potencializar o trabalho do servidor, em termos de treinamento, discussões salariais. Eu vejo que onde tem diálogo e você está desarmado para poder evoluir em uma negociação, achar soluções para o problema de ambas as partes, você consegue achar saídas para soluções. E hoje o cidadão está muito claro da função de cada um. As pessoas têm a capacidade de julgar cada um pelo seu CPF. Eu tenho me dedicado a mostrar que nosso plano de governo vai poder modernizar a máquina pública, e claro, através do trabalho do servidor. Não tem como você tocar o governo se você não tiver o trabalho dele. Na verdade quem toca o governo é o servidor público.


Congelamento de salários

‘Preferi me abster e não votar’

Bem Paraná – Na sessão do último dia 9 de outubro da Assembleia Legislativa, o senhor registrou presença no plenário da Assembleia, mas se ausentou no momento da votação do projeto do governo que instituiu um teto de gastos e congela por dois anos os salários dos servidores públicos estaduais. Por quê?

Ratinho Jr – Porque eu sou,vamos dizer assim, um elemento nesse momento como pré-candidato, que talvez me abster era a melhor solução. Primeiro que é uma adequação do governo federal. Havia a necessidade de fazer essa adequação do congelamento dos salários por dois anos por uma determinação do governo federal, para que o governo do Estado pudesse ter qualquer tipo de investimento do governo federal. Uma exigência que foi feita pela Câmara Federal. Eu, até por uma demonstração de respeito ao servidor público, preferi me abster e não votar para justamente mostrar que nós queremos ter diálogo com o servidor no futuro. Se eu voto contra, já fica uma coisa, aparentemente, iriam me carimbar os maldosos, quem tem interesse de querer mostrar que eu sou contra o servidor, o que não é uma verdade. Isso aí é uma bobagem.

BP – Eleito governador, o senhor pretende manter esse congelamento ou revê-lo?

Ratinho Jr – Eu quero fazer uma política de construção de diálogo junto com os servidores. Inclusive eu tive oportunidade de falar com o presidente da APP de uma forma informal esses dias, encontrei ele, e eu falei: quero conversar com vocês e a gente construir um projeto não só para os professores, mas também para os servidores – eles representam uma boa parte da categoria devido o volume de servidores que tem na área da educação, que é a maioria. De fazer um projeto não para cada ano se discutir isso, mas fazer um projeto para o mandato. A gente sentar logo no início do governo fazer um planejamento, apresentar as contas públicas para que eles também tenham uma noção do quadro geral econômico do Paraná. E poder de uma forma já no início construir isso para que a gente não gaste energia mais com esse tipo de discussão. E procurar discutir outras pautas importantes. A pauta da educação, da questão salarial do professor é uma pauta importante, mas não é a única. Então nós temos que evoluir também em outras pautas. Eles têm consciência disso. Acho que nós temos um bom caminho a ser construído.

Bem Paraná – O governo também tem antecipado receitas oferecendo descontos para impostos que venceriam em 2019. Isso pode afetar as finanças da futura administração?

Ratinho Jr – Eu acho que de certa forma pode ser que afete, mas não no volume que chegue a prejudicar bastante a próxima administração. Até porque se você fizer um balanço das projeções econômicas hoje o Brasil tem crescido economicamente. Esse ano vai crescer 1,2%, 1,5%. A previsão para o ano que vem é de 3% a 4%. Então essa receita aditivada que a economia vai trazer para o governo acaba fazendo um balanço. O Paraná está equilibrado. Não tem grandes gorduras para fazer investimentos mas é um estado que está equilibrado.

BP – O senhor disputa com a vice-governadora Cida Borghetti a condição de candidato do grupo do atual governo à sucessão estadual. Vê risco de um racha no grupo que favoreça os adversários?

Ratinho Jr – Primeiro acho importante que a nossa candidatura não é de um grupo, é do nosso grupo. Os grupos que quiserem estar com a gente serão bem-vindos. É uma candidatura que está sendo construída há 15 anos. Não é do grupo A ou do grupo B. Nós vamos buscar ter o máximo de apoio das pessoas que entendam que o nosso projeto é o melhor para o Paraná. Isso é conversar com todos os partidos que entendam que o nosso projeto é o melhor. E se a gente poder buscar esses apoios nós vamos buscar. Mas nossa candidatura não é do grupo A ou do grupo B.

BP – O senhor não se considera um candidato do grupo que está hoje no governo?

Ratinho Jr – Não. A candidatura é do nosso grupo, do meu grupo. Tanto é que nós lançamos candidatos a prefeito independente de qualquer outro grupo. Em Curitiba, Cascavel, Foz do Iguaçu. Independente dos demais grupos. Nós temos o nosso grupo. O fato de eu ter sido participante de um governo, como até uma missão em defesa do nosso estado, não quer dizer que nós somos um subgrupo de outro grupo. Nós prestamos um serviço em acordo de um governo de coalizão. Mas nós temos o nosso projeto. Aqueles que quiserem estar com a gente, a gente vai fazer o maior esforço para buscar esses apoios. Eu acho que a gente não pode ser tachado que a gente é do grupo A ou do grupo B. Nós temos o nosso grupo. Eu sempre tive. Tanto é que eu fui candidato a prefeito contra outros grupos. Nós lançamos candidato a prefeito em várias cidades contra outros grupos. Nós não estamos carimbados como de um grupo ou uma sublegenda. Nós temos o nosso caminho. Sempre tivemos.

BP – Então o senhor não vê problema em um embate com a vice-governadora?

Ratinho Jr – Não porque primeiro eu não posso ter o direito de vetar alguém a ser candidato. Eu acho que a vice-governadora, ela tem o total direito até porque ela faz parte de outro partido que não o meu para ser candidata. Você vai ter o grupo do PMDB, do PDT, vai ter outros grupos que vão ter candidato. Se o PSDB entender que tem que ter candidato nós vamos respeitar e ter que enfrentar. Se puder trazer, ótimo, vamos buscar esses apoios. Nós estamos preocupados com nosso projeto. Nós estamos dedicando energia. Se o A ou B vai ter candidatura, paciência, nós vamos respeitar e ter que enfrentar.


‘Operação pecúlio’

Delação ‘não tem veracidade nenhuma’

Bem Paraná – O senhor tem se apresentado como uma opção de renovação na política paranaense, mas já está na política há quinze anos. Não é uma contradição?

Ratinho Jr – Não. Primeiro porque você não consegue ser candidato a governador do nada. Tem que ser construído. E você constrói isso de eleição para eleição. Quando a gente fala de um novo projeto é justamente de um novo grupo político. Eu não venho, a minha história política mesmo tendo quatro mandatos, das oligarquias políticas do Paraná. Das famílias tradicionais da política. E não acho que isso seja um problema, parabéns para quem veio. Mas eu vim construindo isso, tive que construir um projeto político sem esses apadrinhamentos. Isso realmente é novo. Porque você tem uma história no Paraná de 40 anos que são duas, três, quatro famílias no máximo que têm comandato o futuro do Estado. Então se você partir dessa premissa nós somos um novo grupo político. Se você pegar a nossa bancada de deputados de 14, se não me engano 12 são primeiro mandato. São pessoas com experência cada um na sua área mas são de primeiro mandato. É um grupo novo, com independência. E o novo também é na maneira de agir, de tomar atitude, de conduzir, de poder não ficar fazendo as amarras e negociando as alianças como tradicionalmente era negociado através de cargos. Nós não temos feito isso. Então nós vamos caminhar nesse modelo. Se você comparar com os candidatos, os possíveis candidatos, os pré-candidatos que estão sendo colocados, o nosso grupo é o mais novo.

BP – O senhor também foi citado em delação premiada da operação Pecúlio, pelo ex-secretário de tecnologia da informação de Foz do Iguaçu, sobre a liberação de recursos para a implantação de 120 câmeras de monitoramento na cidade. A que atribui essa citação? Acha que ela pode afetar sua campanha?

Ratinho Jr – Atribuo a uma bobagem porque não tem veracidade nenhuma. Tanto é que o dinheiro da minha emenda nem tinha sido liberado. A prefeitura cancelou a licitação. Tanto é que não tem nenhum encaminhamento de processo contra mim.

BP – Como o senhor vê o uso das delações no País?

Ratinho Jr – Eu vejo que a delação é um instrumento importante da Justiça para fazer investigação. Se for feito com seriedade, ela é. O que há muitas vezes, daí é uma coisa muito individual é uma autopromoção desse ou daquele promotor que quer de alguma maneira fazer um bom relacionamento com a imprensa ou se autopromover mesmo, e que acaba fazendo de um furo de uma delação ou de uma delação que não tem nenhum tipo de prova, uma oportunidade de se promover, de ter uma boa relação com a imprensa. É uma troca de favores. Agora você não pode tirar por um ou outro fato que foi feito de maneira errada que ela não é boa. Eu acho que ela é um instrumento importante de investigação.

BP – Hoje existem denúncias contra muitos políticos e muitas dessas investigações não vão ser concluídas antes das eleições. Como o eleitor pode saber o que é denúncia séria de algo sem base?

Ratinho Jr – Eu vejo que é muito da biografia da pessoa. O histórico, o currículo, a linhagem que a pessoa vem. Vai muito da fonte que a pessoa busca. Uma coisa que a gente tem que combater é o tal do fake news. As pessoas estão muito se alimentando de notícias pelas redes sociais que não tem uma assinatura, um jornal por trás um portal que tem realmente uma história. Que tenha a finalidade de comunicar de uma maneira realmente séria. Nós temos que combater isso, desmontrar que as redes sociais são muito boas para a gente se entreter. Mas não pode ser uma fonte de informação. Primeiro que essas investigações são importantes. Quem está na vida pública tem que conviver. Desde que seja séria a investigação. Agora a informação vai ser muito da biografia da pessoa e das fontes que as pessoas estão utilizando para tirar esse registro.

BP – O PSD, seu partido, lançou a pré-candidatura do deputado estadual Ney Leprevost para o Senado. E também ofereceu uma das vagas de candidato ao Senado para o governador Beto Richa (PSDB). O Leprevost disse que não sobe no palanque com o governador. Como resolver isso?

Ratinho Jr – Eu acho que primeiro tem que ter uma boa relação entre eles. Segundo que isso não está definido. Não sabemos realmente quem serão nossos candidatos. Apesar que o Ney é um grande nome para ser candidato ao Senado. Isso lá na frente terá que ser adequado. Nós vamos buscar construir um relacionamento, e não precisa eles estarem se beijando. Eles têm que criar uma pauta política e defender o Paraná.


FRASE

“Eu, até por uma demonstração de respeito ao servidor público, preferi me abster e não votar para justamente mostrar que nós queremos ter diálogo com o servidor no futuro. Se eu voto contra, já fica uma coisa, aparentemente, iriam me carimbar os maldosos, quem tem interesse de querer mostrar que eu sou contra o servidor, o que não é uma verdade. Isso aí é uma bobagem.”

Do deputado estadual Ratinho Júnior (PSD), sobre o projeto do governo Beto Richa que congelou os salários dos servidores por dois anos