Na mitologia grega o tempo é associado ao deus Cronos, filho de Urano – o Céu – e de Gaia – a Terra. Cronos seria pai do Caos, a personificação da desordem, de quem nasceram Nix – a noite – e Hemera – o dia.

Nisso tudo há similaridade com praticamente todos os mitos de Criação, em que das trevas nasce a luz e do caos a ordem.

O tempo é absoluto, em sentido abstrato é alguma coisa quase incompreensível, falar que nosso universo nasceu há dez bilhões de anos terrestres, ou quinze ou vinte e cinco, nos leva a considerações que não cabem de modo direto em nossa racionalidade. São apenas números, supostamente na esfera de raciocínio de astrofísicos ou filósofos mais exotéricos.

Nossa noção emocional de tempo passado atinge no máximo nosso tempo de vida consciente, ou de quem tenhamos absoluta empatia. Falar de algo que ocorreu no século dezenove é relatar história, real ou inventada, aquilo que está nos livros e museus, nunca o fato concreto embora pesquisadores sérios façam muito para resgatar esse passado. Imaginemos, então, acontecimentos muito mais remotos que podemos entender através de configurações, o Império Romano por exemplo, deixou documentação farta, estruturas, estradas, obeliscos, uma concepção sofisticada de Direito, e pode através disso tudo ser entendido em parte, apena em parte.

Na fluidez alucinada do tempo somos como certos povos do sul do Pacífico que identificavam apenas os números de um a cinco com palavras, qualquer quantidade que superasse os dedos de uma mão era manifestada por expressão facial e corporal de absoluto pasmo, como incontável.

Como navegantes em mares desconhecidos precisamos de pontos de referência para saber onde estamos, para onde ir e como. Para isso criamos calendários, os povos que atingiram certo nível de civilização tiveram em suas realizações a escrita e a contagem do tempo e da sua passagem; maneira de organizar a própria vida social e produtiva, com as estações de plantio e colheita, de seca e de enchentes.

E nos calendários destacamos as efemérides, as datas significativas para a humanidade, a sociedade, o país, e mesmo nós mesmos e nossos próximos, aniversários de nascimento, casamento, formatura; nelas destacam-se datas como o Natal e o final de um ano e início do seguinte.

Evidentemente, tendo a escola como dever a promoção de ações concretas de valorização da cultura, não deve ficar indiferente a celebrações culturais ou religiosas que marcam o calendário. Especialmente num país de tradição cristã, o Natal, mais que uma festa do comércio – que certamente tem razão ao aproveitar a festividade para acelerar a economia – é cada vez mais uma celebração essencialmente familiar, onde os presentes exercem o papel de manutenção ou ampliação dos vínculos afetivos. Uma troca de presentes torna-se símbolo da entrega mútua, do amor, simbolicamente falando, e, para os cristãos representa também a entrega de cada um ao sentimento de congraçamento com todos os seres humanos. 

O ensino é também uma arte, além de ciência, professores eficientes utilizam nas suas práticas as tradições, que podem melhorar a aprendizagem dos alunos, aumentam a motivação, evidenciando suas características e os valores comunitários.  Ensinar numa sociedade multicultural é sempre um grande desafio, pois em função de razões sociais e econômicas, o empenho é proporcionar as mesmas oportunidades educacionais a todas as crianças em um ambiente volátil, em que tradições mudam constantemente.

Mas vale a representação do nascimento de um menino, filho de peregrinos que não acharam abrigo como tantos até hoje, adorado em uma manjedoura por anjos, pastores, animais e reis, ou a árvore que teima em permanecer verde; tudo isso significando permanência, esperança, renascimento.

Vencendo o materialismo e a descrença, milhares de pessoas dão seu tempo e seu amor para angariar brinquedos e alimentos para crianças pobres e moradores de rua, muitas instituições promovem ceias em que acolhem os solitários, os desesperados, aqueles que não tem mais nada e ninguém e ao menos numa noite estarão festejando a solidariedade.

Rituais são importantes, nos conectam com o tempo e a vida, nos fazem refletir sobre o que aprendemos – ou não – durante o percurso.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.