Lycio Vellozo Ribas – Marcelo Azambuja

A Uber anunciou nesta quarta-feira (6) uma série de novidades em termos de segurança, tanto para o usuário quanto para o motorista. Entre as novidades estão a possibilidade de gravação em áudio das conversas dentro do carro, a validação da identidade em tempo real e a ‘live selfie’, na qual o motorista faz uma imagem dele mesmo para enviar ao passageiro pouco antes do embarque. Elas devem entrar em vigor até o fim deste ano.

Segundo Marcelo Azambuja, diretor do Centro de Tecnologia da Uber em São Paulo, a América Latina concentra 37% dos crimes registrados contra a pessoa em todo o mundo, embora possua apenas 8% da população global. Isso demandou investimento em segurança por parte da empresa. Azambuja afirmou que serão R$ 250 milhões investidos nos próximos quatro anos. Isso inclui a implantação do Centro de Tecnologia em São Paulo, o primeiro da América Latina.

Para aumentar a segurança de ambos os lados, a Uber, declaradamente uma empresa de tecnologia, investiu em… tecnologia. Será possível, por exemplo, o motorista fazer ligação direta para a polícia através do aplicativo, em caso de risco. Possibilidades de acidentes serão  monitoradas pela empresa, que pode até disponibilizar socorro a eventuais vítimas. Também haverá o “machine learning”, ou tecnologia de prevenção de acidentes. Com ela, será possível bloquear vias potencialmente perigosas no trajeto.

A maioria das novidades, contudo, envolve a relação entre condutor e passageiro. O motorista, por exemplo, pode se recusar a receber pagamento em dinheiro. Se aceitar, obriga o usuário a disponibilizar no aplicativo dados como o CPF e até o perfil em redes sociais como o Facebook. Motoristas e usuários também vão ficar sujeitos a checagens esporádicas junto a órgãos como Denatran e Serasa Experian. E a plataforma fará análises de identidades dos usuários, que podem ser escaneadas na hora através dos celulares – esse recurso chegará ao Brasil em 2020.

Além disso, o motorista poderá ter que fazer, de tempos em tempos, uma ‘live selfie’, para enviar ao passageiro pouco antes do embarque. Na ‘live selfie’, ou ‘liveness detection’, não basta tirar uma foto de si mesmo; é preciso mostrar que a pessoa está ali mesmo, seguindo instruções do aplicativo. “Nossa responsabilidade é melhorar o serviço. A missão é elevar a segurança”, disse Sachin Kansal, diretor global de produtos de segurança da Uber, que veio de São Francisco (Estados Unidos) para apresentar as novidades no Brasil. Também haverá uma técnica de reconhecimento facial para as identidades. “Se não bate, não entra na plataforma”, afirmou Kansal.

Outro ponto que deve ser utilizado em breve no Brasil é a possibilidade de motorista e usuário verificarem um ao outro através de uma senha de quatro dígitos. O usuário recebe o código e só entra no carro se o motorista digitar corretamente. No futuro, a verificação dessa senha será feita por ultrassom – dependerá apenas da tecnologia de cada aparelho celular.

Um dos pontos que incomodou a Uber é o alto número de casos de assédio dentro dos veículos. Para isso, a plataforma vai possibilitar a gravação em áudio das conversas dentro do carro, tanto por parte do motorista quanto do lado do passageiro. Uma parte não terá acesso ao áudio da outra. Segundo Kansal, os áudios serão enviados encriptados à Uber e só serão decriptados se uma das partes reportar que houve uma conversa constrangedora no veículo. “São emergências, mas também precisamos manter a privacidade”, disse ele. “A gente sabe que o trabalho não para”.

 Plataforma age contra assédio às mulheres

Uma das preocupações da Uber em termos de segurança ocorre em relação às mulheres. O assédio é o problema mais frequente, mas há casos em que elas viram vítimas de violência sexual apenas porque pegaram um carro via aplicativo. Segundo pesquisa, 97% das usuárias já relataram ter sofrido assédio em transporte por aplicativo. A Uber já tem o programa U-Elas, em que usuárias escolhem embarcar apenas com motoristas mulheres, e vice-versa. Mas a plataforma considera que é pouco e vai agir de maneira mais forte contra o assédio, com investimento de R$ 5 milhões nos próximos três anos.

“Entre os 25 países com mais casos de feminicídios no mundo, 14 ficam na América Latina”, disse a presidente da Uber Brasil, Claudia Woods. De olho na segurança delas, a plataforma firmou parcerias com dez instituições diferentes, todas voltadas ao combate à violência de gênero. “Firmamos um compromisso público pra enfrentar a violência contra a mulher”, completou ela.

As ações envolvem informações e conscientização, além de amparo às vítimas de assédio e a produção de materiais educativos. “Construímos globalmente, mas agimos localmente”, disse Claudia. “A Uber é uma empresa de tecnologia, mas é de gente que estamos falando, e é para gente que estamos fazendo. Se não, vai ser só uma ferramenta de tecnologia”.

Inventivos

Claudia Woods também anunciou o que ela define como “dar o controle a elas”: programas da Uber específicos para mulheres, como o “Elas na direção”. Segundo ela, apenas 6% dos motoristas de Uber são mulheres. Para aumentar esse número, haverá uma parceria com a Localiza Hertz para facilitar o aluguel de carros para elas. Além disso, a segurança será prioridade. “Elas podem escolher não ir a determinados lugares (dirigindo), elas (motoristas) podem escolher usuários mulheres”, disse a executiva. Também há a possibilidade delas desligarem e ligarem o aplicativo a qualquer momento quantas vezes quiser, sem penalização – normalmente, o motorista perde “rating”, ou cotação, se fizer isso.

As inovações gerais de segurança da Uber

 

Antes da viagem

– Destino definido

– Opção de desabilitar o pagamento em dinheiro

– Manutenção de anonimato de endereços e telefones

– Verificação de código de 4 digitos, que poderá em breve ser feito através de ultrassom

 

Identificação

– Aplicativo pede CPF ou perfil no Facebook de quem for pagar em dinheiro (para pagamento em cartão de crédito, o CPF está cadastrado)

– Verificação do motorista junto ao Denatran

– Checagem de antecedentes criminais

– U-check: verificação do motorista junto à Serasa Experian

– Verificação de identidade em tempo real

– Verificação de identidade do usuário em tempo real (paga quem pagar em dinheiro)

– Live selfie. O Uber pede aleatoriamente que o motorista tire uma selfie. Há mecanismos para evitar que o motorista coloque uma foto falsa

– Senha de 4 dígitos para verificação exclusiva entre motorista e usuário, a cada viagem. No futuro, a verificação dessa senha será feita por ultrassom

 

Durante a viagem

– Machine learning, ou tecnologia de prevenção de acidentes. Bloqueia vias potencialmente perigosas

– Registro da viagem em tempo real

– Checagem de rota. A Uber consegue detectar se o motorista saiu da rota ou se (e por que) ficou muito tempo parado

– Compartilhamento de viagens por parte do usuário

– Gravação de áudio durante a viagem, tanto pelo motorista quanto pelo usuário

– Informação de acidente

– Ligação para a polícia através do aplicativo

 

Depois da viagem

– Seguro de acidentes pessoais para motorista e usuário

– Suporte 24 horas por dia