Valquir Aureliano – Rodolpho Pajuaba e André: obrigação do pai é participar

A guarda compartilhada está em alta no Paraná. De acordo com as Estatísticas do Registro Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2014 e 2017 o porcentual de casais que optam por compartilhar a guarda do filho praticamente triplicou no estado, alta que se explica pela sanção da Lei nº 13.058 em 2014, que prevê a aplicação dessa modalidade de guarda como prioritária nos casos em que ambos os genitores estejam aptos a exercer o poder familiar.

Em 2014, segundo a pesquisa do IBGE, havia sido registrado 10.450 divórcios no Paraná, sendo que em 1.115 casos (10,67% do total) o casal optou por compartilhar a guarda do filho. Já em 2017, último ano com dados disponíveis, foram 10.144 divórcios, com 2.860 casais (28,19%) compartilhando a guarda.

Curitiba, inclusive, aparece com destaque no estudo. É que entre todas as capitais do país, a do Paraná aparece como a segunda com mais pais compartilhando a guarda. Em 2014, 20,53% dos divórcios na Capital foram encerrados com o casal compartilhando a guarda do filho. Quatro anos depois, o porcentual já havia saltado para 54,55%. Apenas Vitória, no Espírito Santo, apresenta um valor mais alto (61,2%).

Para os pais de verdade, inclusive,nada mais natural que dividir as responsabilidades pelo filho com a mãe da criança. São esses os casos do fotógrafo Rodolpho Pajuaba e do professor de historia Eder Luiz Prado Schultz, pais de André, de três anos, e Estella, de oito, respectivamente.

“Ficamos juntos por três anos (ele e a mãe da criança, chamada Nicole) e nos separamos em março de 2018. Paramim, sempre foi o mais natural (a opção pela guarda compartilhada), o normal seria isso. Já tínhamos em comum há muito tempo essa visão”, conta Rodolpho.

“Foi consenso desde o início. Antes era informal, eu pagava pensão informalmente, daí depois ela entrou com medida cautelar junto à Vara da Família. Contratei advogado, fomos pra audiência, e antes mesmo de determinar valores (da pensão) já acertamos a guarda compartilhada”, relata ainda Eder.

No próximo domingo, tanto André quanto Estella estarão com os pais, celebrando a data deles. “Provavelmente vamos passear. Boto ele na bike e saímos por aí”, diz Rodolpho. “Pego ela na sexta, vamos ao Couto (Pereira) juntos no sábado e domingo vamos ficar em casa. Meu pai vem aqui,minha irmã… A família toda se junta em torno do ‘grande pai’, que é o meu pai”, complementa Eder.

A parte mais importante é a divisão de tarefas e responsabilidades
Além de toda a benesse para a criança, que não fica privada do contato com um dos pais, a guarda compartilhada também traz benefícios aos pais, relata Rodolpho Pajuaba. Isso porque os dois conseguem ter um espaço, um tempo para cuidar de suas vidas pessoais, se dedicarem a si mesmos.

“O positivo, a parte mais importante, é a divisão. Estranho até haver um interesse nesse contexto, porque paramim é… A responsabilidade de todo homem é fazer o que eu faço, ser pai. Não é simplesmente pagar as contas do filho, pegar e levar na escola. É participar”, diz o fotógrafo. “Não pode empurar pro outro a responsabilidade de cuidar da criança e eliminar a vida social e pessoal do pai que fica. Não é certo a mãe ficar com o filho sempre e o pai pegar um final de semana a cada 15 dias. A mãe também tem direito à vida social”, finaliza.

Homens encaram ‘com alguma supresa’. Mulheres, com admiração
Segundo o fotógrafo Rodolpho Pajuaba, homens e mulheres reajem de forma diferente quando sabem que ele tem um filho e compartilha a guarda com a mãe. “Eu confesso que algumas pessoas encaram com alguma surpresa. O motivo da reação é diferente. Homens olham e falam: ‘Nossa, mas você vai ficar com ele?’ É tipo ‘como assim, você fica com a criança’? E as mulheres mostram quase admiração”, relata ele, que faz questão de ressaltar que não merece uma ‘estrela’ pelo que faz. “Não é mais que a obrigação.”

Eder Schultz, por sua vez, comenta que não costuma relatar aos outros que compartilha a guarda da filha, primeiro por ser difícil chegar nesse assunto e também por ele próprio não gostar de ficar comentando sobre. “A sociedade é um tanto patriarcal. O que eu faço pela minha filha é minha obrigação. Não sou herói por pagar pensão, ficar bastante tempo com ela. Se fico contando isso, a impressão que dá é que estou contando uma historia de superaçlãoi, e isso não tem nada a ver. Não émais que a obrigação”, afirma o professor de historia. “A mãe dela é uma mãe excelentetambém e ela tem muito mais de guerreira que eu. É ela que segura a maior parte do rojão.”